domingo, 18 de janeiro de 2009

PEDRA DA ONÇA, UM MITO


Este comentário só se tornou possível por causa de que um menino, desde que teve os primeiros sentimentos de que também fazia parte deste mundo, sentiu, ouviu e viu coisas que aludiam à existência de pedras preciosas, da Pedra da Onça, de garimpeiros como Francisco Evangelista, nosso colaborador nas tarefas do trabalho da agricultura e muito admirado pelos túneis que fazia, procurando cristais, ametistas, águas-marinhas e outras gemas quaisquer. Um assunto dito reiteradamente por todos os habitantes de Itarana, que nem era isso ainda, pois se chamava “Vila da Figueira de Santa Joana” – um pequeno universo, onde existia uma grande igreja dedicada a Nossa Senhora Auxiliadora, lojas de tecidos, de confecções, de sapatos e de chapéus; a farmácia do João Azevedo aonde se comprava remédios; doutor Ademar Mirabeau da Fonseca, que curava os enfermos; bares aonde se podiam tomar guaraná, coca-cola, cerveja preta e pilsen sem gelo e até cachaça; uma enorme ponte, que permitia que se atravessasse o Rio Santa Joana; muitas coisas, inclusive brinquedos, que eram inacessíveis a muitas crianças.
Pouco tempo havia que as águas-marinhas haviam sido desentranhadas da grande pedreira, mas os comentários sobre as mesmas fervilhavam, deixando velhos, adultos, adolescentes e crianças contaminados pelo noticiário, coisa tornada etérea, tanto na população de Itarana, Itaguaçu, Santa Teresa, como em todas as localidades adjacentes.
Foi por causa deste e de outros eventos, embora menores, mas capazes de contagiar populações inteiras, fizeram da população de toda a região do entorno uma legião de garimpeiros – maioria de amadores e essencialmente pessoas dedicadas à agricultura. Isso levou à descoberta de muitas jazidas em grande parte dos municípios do Estado do Espírito Santo. Gemas que geravam, às vezes, fortunas, nem sempre para os descobridores, certamente para os profissionais do comércio desse gênero.
Mas durante cerca quarenta anos eu tive contatos com garimpos, ora investindo também na atividade ou simplesmente acompanhando e testemunhando fatos, de cuja memória, juntamente com o testemunho de outros, fiz os registros, que se tornaram no livro “A Pedra da Onça – Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo. Para alcançar o conteúdo desse livro procurei juntar memórias de antigos garimpeiros, procurando abranger todo o território capixaba, levando em conta aonde ocorreram descobertas ou simplesmente onde existem indícios de que possam ser encontradas as gemas. Mas há um fato a ser considerado: procurei mencionar somente gemas que já foram encontradas e que, pelos indícios existentes, possam ocorrer, repito: exclusivamente no território do Estado do Espírito Santo.
Se ainda tivesse condições físicas poderia acompanhar garimpos, pois não consigo esconder o fascínio que tenho pelo assunto. Seria apenas movido pelo prazer de presenciar a saída de dentro da terra de coisas belas e imprevisíveis. Se adotasse a garimpagem como ofício profissional optaria pela extração de areia, de argila, de mármore, calcário e granito. Pedras preciosas geram cobiça, disputas, desafetos e frustrações e não causam impacto na economia como essas que costumam ocorrer neste Estado – são depósitos, geralmente pequenos e aleatórios; enquanto que os minérios granitos mármores, calcários, tendo produção continuada geram empregos e causam impactos positivos na economia como um todo.
Mas todo o fascínio e a memorização dos fatos fizeram com que eu fosse capaz de fazer registros que, à medida que são comprovados, passam a integrar a historiografia.

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