quarta-feira, 20 de julho de 2011

SERRA PELADA NO ESPÍRITO SANTO

A TRIBUNA - VITÓRIA-ES - DOMINGO - 18/0 1/2009
REGIONAL 20
Serra Pelada no Espírito Santo.
A notícia de que havia pedras preciosas em Itarana levou milhares de garimpeiros à Pedra da Onça, na década de 40.

JULIO HUBER
FLÁVIA CA R PA N E D O
ITARANA – Cobiça, conflitos, riqueza e muito misté-rio. Descoberta por acaso
por um morador da região, a jazida de pedras preciosas (também chamadas de gemas) da Pedra da Onça, no município de Itarana, região central do Estado, deixou muitas pessoas ricas e fez a cidade se tornar uma espécie de Serra Pelada capixaba.
Tudo se passou no ano de 1941, mas até hoje ainda existe um ar de mistério na cidade em relação à descoberta de uma das maiores jazidas de águas-marinhas que se tem notícia no Esta-do, que atraiu garimpeiros de todo o Brasil. De acordo com relatos de moradores mais antigos que presenciaram a corrida pelo tesouro, um morador humilde encontrou por acaso os primeiros vestígios das pedras preciosas na montanha.
“Meu pai dizia que essa pessoa foi até a Pedra da Onça para caçar tatu. Chegando lá, ele percebeu que ao cavar um buraco, um tatu jogou para fora algumas pedras diferentes. O homem cavou um pouco mais e encontrou uma grande pedra de água-marinha”, contou a moradora Geni Barcel-los Zutiõ, 72 anos, filha de um ga-rimpeiro da época. Segundo ela, a notícia da descoberta se espalhou na região e co-meçaram a chegar pessoas de diversos municípios e até de outros estados em busca do tesouro.
O aposentado Ângelo Piorotti, o Angelim, 79 anos, relembra a época em que foi descoberto o tesouro em Itarana. “Meu pai criava cabrito em um terreno próximo à Pedra da Onça e, sempre que ia lá, ele achava pequenos pedaços de água-marinha. Quando descobriram o local correto onde estava o tesouro, ele, um compadre e um meeiro dele começaram a extrair as pedras. Dias depois todos da cidade ficaram sabendo”, lembra.
A história foi registrada no livrodo pesquisador Idomar Taufner “A Pedra da Onça: Jazidas, Lavras e Garimpos no Espírito Santo”.
“Durante dois ou três meses hou-ve uma exploração intensa na pe-dra. Garimpeiros de vários lugares
foram para Itarana. Eles invadiram a área. Chegavam e cavavam aleatoriamente”, conta Taufner.
De acordo com estimativas dele, cerca de 2 toneladas de águas-marinhas foram retiradas da pedra naépoca pelas milhares de pessoas que foram atraídas para a região.
“Foram descobertas outras jazidasno entorno da Pedra da Onça, mas nenhuma com gemas tão boas. Tanto que o boato ecoa até hoje.”
Taufner também conta que existiu exploração em vários mu-nicípios, como Pancas, Colatina, Domingos Martins, Viana e Fundão. “Mas a Pedra da Onça foi a lavra de mais destaque”, afirma.
“PROCISSÃO DE GENTE SUBINDO”
“Eu acompanhava meu pai na extração. Dias após a descoberta daságuas-marinhas na Pedra da Onça, chegou uma pessoa do município de Itaguaçu com mais 40 homens em busca das pedras. Ele jogou conversa no meu pai e o convenceu a deixá-lo procurar as pe-dras em um local demarcado. Ele dizia que só iria extrair naquele dia e depois iria embora. Esses homens encontraram uma das maiores pedras de água-marinha que se tem notícia, com mais de 20 quilos. A notícia se espalhou e vieram tantas pessoas que parecia uma procissão de gente descendo e subindo. Teve dias que tinha mais de três milpessoas explorando a Pedra da Onça em busca de preciosidades. Era a verdadeira Serra Pelada em Itarana.”
Depoimento do aposentado ÂngeloPiorotti, o Angelim, 79 anos Histórias de tesouros na cidade.
ITARANA – Mistérios envol-vem as histórias sobre as desco-bertas na Pedra da Onça. Em Ita-rana, é difícil encontrar alguém que tenha guardado uma pedra da famosa montanha. Entretanto, boatos dão conta de que há pedras preciosas escondidas. Muitos dizem que pessoas que extraíram grande quantidade de águas-marinhas enterraram sacos cheios delas no município. O assunto é evitado por muita gente. “Eu digo que é uma espécie de maldição. Quando encontram uma pedra, existe um segredo. Gera disputas e desafetos”, diz o pesquisador Idomar Taufner.
O autor especula sobre o destino das águas-marinhas de Itarana. “Creio que a maior parte não tenha ficado na cidade. Acho que elas foram contrabandeadas para Minas Gerais e expor-tadas como se tivessem sidproduzidas lá”, fala. Com a cobiça gerada na busca pelas pedras, em 1941, a extração do tesouro também foi marcada por conflitos. Após a chegada de milhares de pessoas, a polícia te-ve de ficar de prontidão. As brigas eram por causa das demarcações de extração: muitos não respeitavam e cavavam em todos os lugares. Atualmen-te, poucas pessoas sobem a Pedra da Onça.
A Serra Pelada é uma região doestado do Pará que se tornou conhe-cida em todo Brasil durante a década de 1980 por uma corrida do ouro mo-derna, tendo sido um dos maiores garimpos a céu aberto do mundo.
O local recebeu levas de mi-grantes. A Vale tinha direitos sobrea jazida, mas ela foi invadida por
cerca de 30 mil garimpeiros, se-gundo estimativas da época, e o governo federal interveio na área. Áreas de lavra e garimpeiros foram registrados pela Receita
Federal, e todo ouro encontradodeveria ser vendido à Caixa Eco-nômica Federal. O apogeu do garimpo ocorreu em 1983, quando foram extraí-das 13,9 toneladas de ouro. De1984 a 1986, a produção se man-teve emtorno de 2,6 toneladasanuais, mas depois começou acair progressivamente. Em março de 1992, o garimpo voltou aser concessão da Vale

SOBRE A SERRA PELADA
A Pedra da Onça, emItarana, chegou a serexplorada por 3 milgarimpeiros, queretiraram 2 toneladas de águas-marinhas