sexta-feira, 31 de outubro de 2008

QUATRO GATOS PRETOS

Prá que tanto gato? Não sei mesmo o que fazer com todos. Seria o caso de entregar para doação; gato preto, não! Isso dá azar e é de mau agouro, diriam os supersticiosos. Quanto a mim, isso não me causa nada: gatos pretos, brancos, amarelos, rajados; todos são nada mais que pequenos felinos. Caso se tratasse de uma pantera negra, não seriam necessárias quatro; apenas uma meteria medo em qualquer vivente.
Pois é, por algum tempo possuí esses quatro felinos tão negros quanto o carvão, o piche e outras coisas pretas. Dois eram filhotes e os outros dois eram um casal. Quanto aos filhotes, nem soube o sexo; apenas sei que eram dois gatinhos pretos tais quais eram seus pais. Eram brincalhões como o são todos os gatinhos.
Hoje, contando esse fato, houve pessoas que se benzeram, lembrando de exclamar “cruz credo!”. Agora eu pergunto: por que algumas pessoas têm tanto medo de gatos pretos? Eles representariam ou simbolizariam algo de mal. Eles seriam a personificação do capeta? Afinal o que é capeta, senão aquele personagem criado para impor limites às crianças? Seria, também, aquele anjo mau, que castigaria quem praticasse o mal? Ou seria aquele personagem que tentasse as pessoas para que fizessem coisas erradas e pelas quais merecessem que esse tal personagem as levasse para o inferno – a moradia desse tal capeta?
Que má fama tem os gatos pretos? Há alguma prova contra eles? Pobres gatos, “pagam o pato”, simplesmente por causa da cor dos pelos que ostentam. Assim, não teria a quem doar esses bichinhos; teria que abrigá-los, sustentá-los; até quando?
E você, leitor, gostaria de ganhar um desses “lindinhos”. Caso queira, basta que poste um comentário, manifestando esse desejo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

E AGORA, NEUCIMAR?

Acordamos, hoje, de ressaca. Não que tenhamos nos excedido em bebidas, que tenhamos nos embriagado no dia anterior. No dia seguinte às eleições, a gente sente a ressaca cívica do dever cumprido quanto ao sufrágio de nossos candidatos. Quer tenha sido da vontade de todos ou não, você, Neucimar, representou nas urnas a vontade da maioria dos eleitores vilavelhenses, não da unanimidade! Assim, durante os próximos quatro anos, vossa senhoria, como prefeito eleito, representará seu povo e governará um município com mais de trezentos mil habitantes. Lembre-se de que quase a metade dos eleitores se manifestou contra a escolha do seu nome para ser seu prefeito; a maioria venceu e, hoje, o senhor é o prefeito de todos, quer quisessem ou não.
Vila Velha é um grande canteiro de obras inacabadas e imprescindíveis para a circulação das pessoas, dos veículos, dos bens que se produzem e que se consomem nesta terra. Quando me refiro à circulação, quero dizer que ruas do município se encontram intransitáveis, quer pela falta de manutenção ou obras inacabadas; embora imprescindíveis, não serão concluídas na gestão do atual prefeito. Talvez, se esses melhoramentos, como a reurbanização das ruas e os trabalhos feitos no saneamento, que é o caso da macro drenagem, demandando continuidade durante exercícios, não fossem suas prioridades. A população de Vila Velha, tanto aquela representante da maioria como a totalidade necessita de solução para esses graves problemas, com que vossa senhoria irá se defrontar nos próximos meses.
Quanto a nós, população, queremos parabenizá-lo pelo sucesso de campanha eleitoral vencedora, bem orquestrada, com promessas de governança responsável, de continuidade e de melhores e dos avançados e dinâmicos processos administrativos. Também, nós esperamos que nossos constituídos do poder legislativo municipal lhe dêem o apoio para as justas realizações em favor de toda a comunidade. Nossa participação se efetivará apoiando as decisões favoráveis à municipalidade.
Resta-nos, como sempre, contar com o alto espírito democrático norteador de sua vida pública, voltada às ações de trabalho em favor de seus munícipes.

sábado, 25 de outubro de 2008

MEU SEQÜESTRO


De repente me vi cercado por vários garotos de rua, vestidos com roupas sujas, daquelas que nunca viram água e sabão. O destino desse vestuário será, inexoravelmente, o lixo. Havia ao todo cerca de cinco ou mais dessas crianças que dividem as ruas entre si, abordando transeuntes e lhes pedido algum trocado. Corri a mão no bolso do lado direito de minha calça e distribuí todas as moedinhas que alcancei. Pareciam satisfeitos, demonstrando gestos amistosos e, com isso, resolvi conversar como grupo, visando saber como retiram o sustento nas ruas, onde moram e de que vivem suas famílias; se freqüentam escolas, se, além disso, que ganham, têm outras rendas oriundas de algum tipo de trabalho. Enfim, eu fazia uma investigação completa. Não sei dizer por quanto tempo estivemos conversando, acredito que por algumas horas.
Já me preparava para sair e chegaram mais três habitantes de rua, garotos maiores, certamente adolescentes. Dois deles vestiam-se com camisas do flamengo e exibiam nas cabeças daquelas tocas feitas com velhas meias femininas, o outro, igualmente aos primeiros, vestia-se de roupa suja: uma camisa de malha tão grande que parecia mais ser um vestido, nem se podia ver se usasse bermuda. Com a chegada dos novos menores, nossa conversa evoluía para durar mais tempo. Com certeza, eu teria mais respostas às minhas indagações e tudo se parecia que aquele encontro permaneceria no mesmo clima de entendimento amigável. Enganei-me! Esses recém chegados, fazendo gesto brusco empenharam armas ameaçadoras e avisaram que aquilo era um assalto. Tentei lhes oferecer algum dinheiro; eles, porém, assoviaram e logo dois meliantes adultos me colocaram vendas e, sob a ameaça de armas de fogo que me cutucavam as costelas, enquanto dois me guiavam pelos braços e me ordenavam para que lhes obedecesse, que ficasse “bonzinho”, senão, ali mesmo me executariam.
De olhos vendados e sob as constantes ameaças tangíveis, eu, se quisesse permanecer vivo, o melhor que faria era mesmo obedecer. Enquanto eu era levado, não sei para onde, ouvi a seguinte conversa: “- Gente, hoje nóis tivemo sorte: pegamos peixe grande! A gente leva o coroa para lá, telefona para a gente dele, pedindo o resgate e tem que ser uma grana preta, esse véio é daqueles que anda malado. Quando nóis chegá lá, a gente conversa prá vê quanto a gente pede prá soltar o homi”.
Depois do que ouvi e sentindo aqueles trabucos me cutucando as costelas, eu não tinha dúvidas. Estava mesmo seqüestrado e havia no bando gente que eu só ouvia falar: deviam ser criminosos profissionais e de alta periculosidade. Mas, numa situação dessas, o que se deve fazer? Melhor, mesmo, era fazer aquilo que fazem pessoas que têm juízo, não tinha dúvidas: obedecer.
Desse momento em diante nada mais ouvi, pois me jogaram num porta malas de um veículo e saíram em alta velocidade. Para onde me levavam? A partir daí, imaginava o que poderia me acontecer: Será que imaginavam realmente que eu fosse pessoa de posses? Ou teriam se equivocado e me tomado como refém, imaginando que eu fosse outra pessoa? Não tendo como pagar um resgate de quantia exorbitante, qual seria meu destino? Você, leitor, já se imaginou metido numa encrenca dessas?
O ronco do motor de um carro que, certamente, tinha perfurações no silencioso, seria capaz de ruído como esse que eu ouvia e mais: cada buraco, cada ressalto na pista, eu sofria toda a sorte de pancadas. Tudo isso me deixava, a cada momento, mais fraco, mais impotente e mais incerto do meu destino. Depois de algumas horas, que me pareceram um século, finalmente aquele carro, que mais se parecia com instrumento de suplício, parou. Ouvi o toque cadenciado da buzina, como se estivesse produzindo sinais em código. Ouvi pessoas conversando e tive certeza: aquelas vozes eram estranhas; nada se parecendo com a fala dos garotos, nem dos primeiros e nem daqueles que me renderam. Imaginei que a turma era de tal forma organizada, que em cada etapa, havia o revezamento das equipes – certamente de uma grande quadrilha, que tinha na ponta menores infratores, mantidos e organizados por uma entidade bem estruturada.
Pensando bem, a incerteza tomava conta de mim. Será que não teriam cometido equívoco, seqüestrando pessoa errada, que estava no local e na hora errada? Mas se o escolhido tivesse, mesmo, sido eu, como minha família faria para conduzir negociações com os seqüestradores? Dependendo do valor do resgate, não teriam como juntar recursos, pois nossas posses mal poderiam cobrir um resgate, a menos que fosse dividido em suaves prestações e, ainda, utilizando cartão de crédito.
Depois de alguns minutos, que me pareceram uma eternidade, fui, ainda com olhos vendados, conduzido para o interior de um imóvel, que exalava odor de coisas emboloradas, provavelmente sem ventilação. Ouvi, em seguida: “ - Deixem nossa encomenda a sós e deixem que retire a venda dos olhos”. Quando abri os olhos percebi a claridade que entrava pelas frestas das persianas do nosso quarto e Anésia dizia: “ – Lembre-se que hoje é sábado e nosso primeiro compromisso e ir à feira de produtos orgânicos”. Felizmente nada acontecera nesta madrugada, exceto esse pequeno pesadelo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

NOVAMENTE AS COTAS RACIAIS...


As cores servem como parâmetro para julgar aparências? Descendentes de povos de raça negra devem ser privilegiados nos concursos? Por causa da cor da pele ou por descenderem de raça inferior? Existe alguma raça que deva ser considerada superior? E quem é miscigenado com raças branca, negra, amarela e vermelha? Que raça teria sorte de ser privilegiada? Acaso o sangue que lhes corre nas veias tem outra cor que não seja a vermelha?
Que fique longe de mim o preconceito de raça; qualquer que seja a descendência. Segundo penso, uma só coisa deveria privilegiar a todos: a competência demonstrada na eficiência, no aproveitamento do aprendizado, enfim, na capacidade de melhor fazer, de melhor desempenhar e alcançar melhores resultados.
O princípio da eqüidade, que faz o julgamento ser imparcial, que dá a todos o direito de serem iguais perante a lei, sem distinção de raça, de classe social, de credo religioso, que privilegiasse a todos estritamente com o princípio consagrado da justiça.
A criação de cotas nos vestibulares, nos concursos para provimento de cargos públicos, nada mais me parece do que atos de demagogia para demonstrar-se a favor a privilégios corporativistas de castas raciais, de castas religiosas e de castas sociais. Em nome de privilégio, na realidade, quem aceita o favor de cotas excludentes sinaliza concordância com situação de inferioridade. Esses preitos, de certo modo, derivam do desejo de premiar hoje quem no passado sofreu a exclusão como pessoa, causada pela segregação do escravagismo? Aceitar, hoje, o regime de cotas, mesmo para quem delas se beneficie, é continuar compactuando com a inferioridade dessas ou daquela raça. Mais excludente é aquele que aceita favores que o julgam, de certo modo, inferior. Inferior é aquele que aceita o rótulo.
Existe preceito que determina proteção ao aproveitamento dos deficientes, ou seja, daqueles que têm necessidades especiais, visando sua integração como pessoas normais no trabalho, que tenham oportunidades de ascensão social; às vezes subestimando capacidades superiores às dos indivíduos ditos normais. Com freqüência surgem como expoentes nas artes e no trabalho, não só demonstrando capacidade idêntica e, não raro, superiores, executando coisas com perfeição inimaginável. Mas, entendo que tal reserva é justa, não criando nenhum privilégio; apenas compensando deficiências impostas pela natureza.
Tudo o que eu disse acima, tem como finalidade fazer com que as pessoas se julguem e se tratem com igualdade, dêm oportunidades idênticas, mantendo sempre o sentido da justiça, que não privilegia nem exclui a quem quer que seja. O que me parece, quando reflito sobre esse tema de cotas, é a existência de intenção velada da manutenção de idéias conflitantes entre os grupos raciais diversos, simplesmente por demagogia política. Demagogia quando dizem ser favoráveis a privilégios e quando demonstram compensar deficiências raciais com o favor de cotas que tenham como parâmetro essa ou aquela descendência racial. Isto não é verdade porque somos todos iguais perante a lei! Ou não somos?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

ATROPELAMENTOS

Praticamente em todos os dias, os noticiários falados, escritos e televisivos estampam notícias de pessoas atropeladas nas ruas da Grande Vitória e nas vias federais e estaduais que atravessam vilas, povoados e cidades de norte a sul do Estado. E esses eventos atraem sempre multidões de curiosos, enquanto se aguardam por socorro e remoção dessas vítimas, às vezes, fatais. São pequenos carros, autos do transporte coletivo, composições férreas, carretas e motocicletas, que causam esses atropelamentos de pessoas pedestres, motoqueiros e de animais (cães, gatos, muares e eqüinos).
De quem é a maior responsabilidade por esses sinistros? Pedestres idosos e, também, quaisquer outros desatentos, contribuindo, de forma efetiva, os excessos de velocidade e igualmente desatenção dos motoristas condutores.
Quais seriam as causas de tamanha desatenção? Os idosos, embora atentos, têm três causas a serem imputadas: falta de acuidade visual, principalmente aquela que permite calcular a distância em extensão, a audição, freqüentemente diminuída nas faixas etárias mais avançadas e a lentidão da caminhada distorcida entre o que a mente imagina, comparada com a velocidade real diminuída, agravada pela idade. Imagine um surdo, enxergando pouco e caminhando lento, tem três possibilidades de ser colhido por algum veiculo em movimento. Bom até aqui, falou-se especificamente dos idosos exponencialmente vítimas. Mas há indivíduos de idade adulta, jovens adolescentes e crianças, engrossando as estatísticas.
Agora, veja-se o que ocorre com os atropeladores: motoristas de coletivos cansados pelas longas jornadas de trabalho, recursos escassos para honrar compromissos, enfermidades na família, desagregação familiar, sentimento de baixa estima, tornam os indivíduos desatentos e dispersivos. Todos esses fatores associados podem levar à falta de atenção, que quase sempre oferece graves riscos de sinistros, tais como acidentes e atropelamentos. Há, ainda, a imperícia de condutores, quer não executando o trabalho como recomendam as técnicas ou negligenciando, abusam da velocidade regulamentar. Pode ainda existir o agravante do consumo de bebidas alcoólicas quando dirigem. Embora a causa seja rara, não se pode descartar a ocorrência de falha mecânica (quebra de freios e de direção), embora raros.
As notícias recentes deixam a população apreensiva, pois qualquer um de nós, especialmente se estiver na faixa da terceira idade. Portando todo cuidado deve ser tomado, quando qualquer um de nós pedestres, tivermos que dividir a rua com veículos automotores, tenhamos cuidado! E a vocês motoristas e motociclistas: sejam prudentes! Preservem a vida dos pedestres!

CIÚME MÓRBIDO

O que leva uma garota assumir um namoro, com apenas doze anos de idade? A culpa seria da libido? Aquela propriedade que seres se sentem atraídos por indivíduos do sexo oposto, apenas. Lindemberg, com dezessete anos, adolescente ainda imaturo, coisa que nos indivíduos do sexo masculino, se amadurece pouco mais arde. Nesse momento, esse namoro nada mais era do que atração física causada, certamente, pela forte libido sentida por ambos.
Eloá, aos quinze anos, experimentando as tendências possessivas do parceiro, em atitude amadurecida, já sabendo distinguir seus verdadeiros anseios, seus verdadeiros objetivos, pôs fim a um relacionamento de fantasias infantis de quando tinha apenas doze anos, corpo de mulher e mente de criança. Que se pode pensar sobre o estado psicológico de alguma menina nessa idade?
Hoje, Lindemberg, aos vinte e dois anos, assassino atirado a um cárcere repleto dos mais experientes meliantes; Eloá sepultada aos quinze anos, num local de onde apenas seu espírito liberto experimenta a eternidade.
Destino de descendentes de famílias que experimentaram as agruras da incerteza de quem migrou da aridez da terra nordestina e, aqui, prematuramente, Lindenberg, transformado agora o assassino da pessoa por quem nutria amor mórbido e Eloá, de origem idêntica, parte para todo o sempre. Seu espírito de menina adolescente permanecerá na mente de milhões de brasileiros, comovidos pela crueldade de como lhe foi subtraída a vida, uma vida de uma nada mais que menina. Nada mais poderá interferir no seu destino; quanto ao seu algoz Lindemberg, aos vinte e dois anos, apenas ingressando na vida adulta, o futuro próximo lhe reserva o castigo da privação da liberdade física e o pior de todos: a prisão no interior da consciência, que o torturará por tantos quantos forem os dias da sua vida. Será ele capaz de suportar tamanha culpa, inclusive de ter subtraído a vida de quem poderia fazê-lo feliz?
A mãe de Eloá, publicamente, disse ter perdoado ao assassino de sua filha; esse perdão, embora verdadeiro, não redime Lindenberg da culpa. Pela lei dos homens será julgado e condenado; quando à Lei de Deus, só a Ele cabe saber e conhecer se terá perdão.
E você, leitor, qual seu julgamento para esse caso?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

COMO COMBATER O SEDENTARISMO MENTAL?

Sedentarismo mental! Isto existe? Ou será mais uma das invenções daqueles que não tem o que fazer? Pois, fiquem sabendo que eu acredito mesmo nisso e noutras coisas que essa gente pensante dita como coisa certa e axiomática. São excentricidades para ocupar a mente dos menos avisados? Ou é coisa certa e inconteste. Para início de conversa, se você se aposentou, seja lá por que razão, com certeza deverá saber o que é “SEDENTARIMO MENTAL” e se você não tomar atitudes, será atropelado pela forma mais grave – a inércia que o levará a um estado letárgico irreversível – uma forma doentia e de reversão difícil, mas não impossível. Falo do assunto com experiência própria:
Retornando ao início da vida, você já percebeu como são velozes os espermatozóides? O combate à inércia, que pode caracterizar o sedentarismo físico, pode ser combatido com movimentos corpóreos, feitos regularmente. Disse regularmente, ou seja, com freqüência. Por analogia, quando alguém se aposenta e entende que descanso inclui inércia mental e se desliga de pensar, de buscar soluções. É o império da “lei do menor esforço”, que norteava “Jeca Tatu”, aquele personagem criado nas histórias infantis por Monteiro Lobato, o mesmo que criou próximo a Vila de “Tucanos” o “Sítio do Pica pau Amarelo”, que tinha nessa lei, o nome para designar o ócio de que o personagem era portador. Bom, já alcançamos conhecimento do que significa sedentarismo mental. Combatê-lo passa por ações de raciocinar, calcular, jogar cartas, fazer palavras cruzadas, ler e escrever. Combatendo essa inércia, chamada sedentarismo mental, na ativação das comunicações inter neuronais, haverá chances de prolongamento da vida e das próprias qualidades. Embora inexistindo provas, há quem garanta que isso ajude a retardar um mal, que ronda os idosos – o Mal de Alzeimer. Verdade ou mito, uma coisa é certa, as atividades físicas e mentais trazem melhor qualidade de vida nesta que pode ser chamada de “a melhor idade”.

sábado, 11 de outubro de 2008

O CAVALINHO QUE FALAVA

Tudo se inicia no morro do cruzamento, em Jucutuquara, de onde subi com meu fusca por ruas íngremes, escadas e alguns obstáculos, tornados intransponíveis ao meu “possante”. Quando me faltava via trafegável, tomava o carro nas costas e o atravessava de um lado a outro e de cima a baixo. Nesses momentos tinha a sorte de que o carro não representasse peso que não fosse suportável, ou eu é que desenvolvia força hercúlea. Mas aos trancos e barrancos cheguei ao alto num barraco de único cômodo, onde Antarinho e colegas faziam uma confraternização. Lá havia música, alimentos e bebidas, tanto alcoólicas como coquetéis isentos de álcool, refrigerantes e frutas. Serviram-me e eu pequei somente uvas rubis, uma variedade de frutos de tamanho acima do normal. Eu comia continuamente esses frutos e sentia o sabor do tanino, característico da casca e das sementes dessa variedade de uvas. Em determinado momento me sentia culpado por consumir generosa quantidade de carboidratos dessa fruta. Certamente minha glicemia deveria estar aumentada, fato que costumeiramente ocorre quando faço ingesta de frutas em quantidades generosas.
Depois de horas de festejos, alguns casais de jovens divertiam-se dançando dessas músicas ditas modernas, que tem sons carregados de decibéis, desses que nos fazem sentir como se ocorressem no interior do estômago. Coisas de jovens! Nossa época dessas festas, as músicas eram outras: na cidade os boleros, os foxes, os sambas, as valsas e, no interior, aqueles músicas ditas “caipiras”, ora executadas em sanfonas, ora em violas, violões, acompanhadas ao ritmo de pandeiros e triângulos metálicos.
Como sempre, não me importando com minha faixa etária, eu procurava dialogar com aqueles jovens, lembrando a Antarinho que atuei na FAESA, educandário de nível superior dirigido, administrado e de propriedade de sua família, tendo ele, também, freqüentado aulas em que eu, na condição de docente, ministrei, por algum tempo, em disciplinas de auditoria, contabilidade geral e de mercado de capitais. Mas Antário Filho indagou-me:
- Mas o professor continua sendo nosso parceiro na FAESA?
- Não. Respondi-lhe.
- Do jeito que o senhor gosta e tem jeito para a coisa, não posso crer que tenha abandonado as salas de aula!
- Pois é, Antário. Não tive outra opção. Algumas enfermidades me tornaram incapaz; não foi por falta de convites e oportunidades. Isso continua a me fazer parte, mesmo nos meus constantes sonhos: a sala de aula era algo prazeroso.
Eu continuava a consumir aquelas uvas deliciosas, e a festinha já sinalizavam finalizar, quando Antário me pediu um favor:
- Professor Idomar, não querendo abusar de sua boa vontade, eu poderia contar com um favor seu?
- Diga-me do que se trata, pois jamais deixaria de atender a um pedido seu, lembrando que seu pedido é uma ordem. Eu tenho dívidas de gratidão com doutor Antário, seu pai, com dona Valdete, sua mãe, enfim com todos vocês. Lembro-me que me deram trabalho e acreditaram em mim num momento especial de minha vida. Portanto, conte comigo.
- Professor, tenho aqui um cavalinho de minha especial estima. Só a uma pessoa como o senhor eu posso confiar essa criatura, que à noite, tem um alojamento especial próximo à Praça Misael Pena, no Parque Moscoso. Além de lhe ficar grato pelo favor, eu lhe pago sete reais pelo serviço.
- Antário, nada disso! Não posso lhe cobrar nada! Colocou-me o dinheiro no bolso e disse.
- Professor; não falemos mais nisso. Negócio combinado!
Peguei o cavalinho pelo cabresto e o conduzia do alto do Morro do Romão, chegando ao Morro da Fonte Grande, eu ouvi uma voz que nunca ouvira:
- Professor, eu sinto cansaço. Seria demais lhe pedir que me carregasse?
- Claro que não!
Tomei aquela criatura dócil nos braços e percebi que seu corpo tinha uma leveza especial, parecia flutuar. E ele me perguntava?
- Suporta bem meu peso?
- Que peso?
- Professor, nós acabamos de chegar ao Morro da Fonte Grande, temos que descer pela esquerda, se nós continuássemos rumando à direita chegaríamos a Santo Antônio.
Descemos à esquerda, conforme orientação do dócil cavalinho e já podíamos ver a proximidade da cidade alta de Vitória. Bastaria pequena caminhada e teríamos visão parcial do Parque Moscoso. Ante a proximidade do nosso destino, minha imaginação se fixava nos diálogos que fazia com essa criatura... Teria suas palavras, sua leveza, tanto de peso quanto de bons fluídos, algo de sobrenatural? Havia alguém se materializado neste ser para comunicar algo de importância de que eu não conseguisse entender. Lembrava-me de Antário Filho assassinado há alguns anos, meu aluno e filho de meus benfeitores e esse animal que falava comigo com tamanha sutileza, me tratando como se fosse alguém de espírito infantil, portador da inocência própria dos anjos.
Enfim, chegando às proximidades da Praça Misael Pena, localizada no Parque Moscoso, o dócil cavalinho me avisava:
- Professor, como pode ver ali, naquelas baias é minha morada. Chegamos! Fico-lhe grato pela paciência que teve comigo, me tratando como se de verdade se trata ao semelhante. Quando quiser, visite-me, sentir-me-ei honrado!
Segui de volta por outro caminho, pois meu fusca se encontrava estacionado nas proximidades da casa em que houve a festinha. Nada além de meu carro havia ali, a festa terminara e todos os convidados se haviam retirado rumo às suas casas. Peguei meu fusca e desci por aqueles caminhos desenhados naquelas ruas tortuosas, escadarias, ressaltos e, num determinado local teria que passar equilibrando sobre um cabo de aço estirado de um segmento de rua a outro. Duvidei que conseguisse sai ileso dessa aventura, mas, como que por um passe de mágica cheguei ao outro lado ileso. Prossegui meu caminho para chegar a casa. Na realidade quando ia contar à Anésia toda a façanha, acordei.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ELEIÇÕES, O DIA SEGUINTE

As eleições municipais aconteceram ontem e se encerraram às 17 horas. Pouco mais de duas horas após esse horário, graças ao processo eleitoral brasileiro, que não se duvida, é o mais eficiente do mundo, pois já eram conhecidos resultados finais do pleito em grande parte das cidades brasileiras. Isto permitiu que se conhecessem novos prefeitos e novos vereadores. Pois bem, pode-se afirmar que em matéria eleitoral, o dia seguinte teve início no mesmo dia. Mas efetivamente o dia seguinte é hoje – dia de ressaca cívica: ruas repletas de panfletos por todas as cidades tupiniquins, candidatos eleitos, candidatos derrotados, eleitores satisfeitos com os resultados e outros nem tanto.
Àqueles que se elegeram, aos que se reelegeram, estejam certos: as cidades brasileiras contam, aguardam e esperam que todos cumpram seu dever com trabalho probo, sabendo representar a população que lhes outorgou a incumbência de representá-la junto às estas unidades da federação – os municípios. Representando para realizar ações que satisfaçam esperanças, aspirações e cumprir fielmente àquilo que é seu dever como representante, não apenas de quem fez a escolha, mas de todos os munícipes, ou seja, de toda a comunidade.
Aos que lograram classificação para se submeterem a nova escolha em segundo turno: saibam mais uma vez fazer da disputa um momento de convencimento do eleitorado sobre suas propostas de trabalho, demonstrando por que deve ser votado e convencendo que é o melhor e que, por isto, merece ser eleito.
A estes, cujos resultados não os contemplaram neste pleito, vocês poderão fazer nova tentativa nas próximas eleições, decorridos quatro anos. Enquanto isso; sejam gratos pelos votos alcançados, embora mínimos; sejam solícitos, demonstrando que merecem receber novos votos. Deixem claras e concretas suas intenções, que as mesmas não visavam apenas este pleito. Sejam sempre verdadeiros amigos e solidários, pois novas oportunidades se lhes apresentarão e pensem: perder uma eleição, talvez não fosse o pior que lhes pudesse acontecer, e acima de tudo: seria impossível que todos se elegessem. Reajam e tentem novamente!

domingo, 5 de outubro de 2008

COMUNIDADE N. S. DO PERPÉTUO SOCORRO

COMUNIDADE NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO – P. DA COSTA – V. VELHA
A chegada de frei Hipólito
Hoje, 05.10.2008, pela segunda vez, frei Hipólito, frade franciscano egresso de São Paulo que veio ocupar a vaga deixada por frei Gilmar, transferido para outra paróquia, comparece a esta igreja para celebrar a Eucaristina. Também no pavimento superior da ala construída nos fundos da igreja, onde se realizam reuniões eclesiais e de catequese, neste momento, quatro seções eleitorais recolhem o sufrágio de algumas centenas de eleitores votantes neste pleito eleitoral. São disputadas nesses votos uma vaga de prefeito e dezessete vagas de vereador para o Município de Vila Velha. O movimento das seções eleitorais e a ansiedade sentida pela presença de novo sacerdote na comunidade e a transição climática fizeram deste dia sentir-se o prenúncio de mudanças: A troca de autoridades administrativas municipais e o anúncio da instalação da paróquia deixam em todos estes sentimentos de expectativas do novo e do ainda desconhecido.
Frei Hipólito é um padre exibe a calva rodeada por madeixas alvas como flocos de algodão, demonstrando vitalidade, contrastando com sua aparência madura. Dono de uma voz, daquela típica de locutor, quando fala ao microfone, expressa fielmente cada letra das locuções pronunciadas.
Percebe-se que tanto o padre quanto os dirigentes da comunidade, em apenas dois contatos, não tiveram tempo de dialogar sobre hábitos, especialmente estes realizados nas manhãs de domingo, que sempre foram mais ocupados por cultos destinados às crianças e aos jovens da Perseverança. Disse de cultos destinados às crianças, porém com maciça presença de fiéis da terceira idade. Quanto aos costumes específicos de como este padre conduz as celebrações, cujas características diferem em coisas mínimas, são coisas que, em diálogos breves podem ser equacionadas, o que evitaria desentrosamento. Assim todos se sentiriam a vontade. Vê-se que o padre acumula longa experiência no sacerdócio e demonstra claramente seu desejo de realizar um trabalho pastoral profícuo.

Notícias da instalação da paróquia
A notícia da instalação de uma paróquia na comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ecoou na edição de “A Gazeta” do dia 21 de setembro passado, fato meramente de ato da organização administrativa da arquidiocese e de grande repercussão eclesiástica para os moradores da Praia da Costa, que passarão a contar com assistência pastoral efetiva com a constante presença de padre na comunidade.
O lamentável da notícia está na manchete em que o jornal faz insinuação da existência de controvérsias nas opiniões de pessoas entrevistadas, procurando distorcer conteúdos e lançando uma manchete de cunho sensacionalista, assim: “CRIAÇÃO DE NOVA PARÓQUIA DIVIDE OPINIÕES”. Com todo o respeito pelos profissionais que fazem da notícia, instrumento profissional que tem o precípuo objetivo de informar à opinião pública todos e quaisquer acontecimentos; lançar sectarismo não me parece coisa adequada, especialmente quando se trata das coisas de Deus.

BAIRRO DE SANTA CECÍLIA - COLATINA

Ofereci carona ao meu pai que se encontrava de passagem por Várzea Alegre. Ele não aceitou porque teria que passar por Santa Teresa, me garantindo que daí a 15 minutos estaria em Colatina. Nesse momento seguimos caminhos diversos: eu rumo a Colatina e meu pai a Santa Teresa; embora fosse o tempo de quinze minutos coisa insignificante, seguimos nossos caminhos para nos encontrarmos em Colatina, no Bairro de Santa Cecília, onde meu pai, Augusto Taufner fixou residência, depois que se casou com Delmyra Dalmaso, quando já contava com alguns anos viuvez causada com a morte de minha mãe, Felisbina da Silva Taufner, em 25 de novembro de 1960.
Não foi fácil chegar a essa cidade localizada às margens do Rio Doce, dividida pela Ponte Florentino Avidos, fazendo desta área urbana, na margem sul a parte central da cidade e do outro lado, no norte, o Bairro de São Silvano tão habitado quanto à parte sul da cidade. Não foi fácil concluir a viagem porque chovia, tornando aquelas estradas ainda não contempladas de pavimentação verdadeiros mares de lama, ora provocando atolamentos, ora deslizamentos tanto nas subidas, quanto nas descidas ameaçadoras de lançarmo-nos precipícios ao longo da beira daquela via, inclusive dentro do Rio Santa Maria que havia tomado muita água devido às copiosas chuvas dos últimos dias.
Enfim, para minha satisfação, acabava de chegar a Colatina, iniciando por uma elevação que precedia o Bairro de Vila Lenira. Agora era questão de poucos minutos, atingiria o centro da Cidade de Colatina e chegar a Santa Cecília. Para isso bastaria subir uma ladeira, deixando o carro estacionado na Av. Getúlio Vargas ou nas proximidades da ladeira que deveria subir a pé. Subindo, percebi que à esquerda da ladeira, em frente à casa adquirida por Alceu Martinelli, meu colega, havia uma parreira de chuchus, exibindo carga copiosa de frutos; como a ladeira estivesse escorregadia, colhi apenas não mais que três frutos. Do lado direito, também, havia outra parreira do mesmo vegetal, ainda não exibindo frutos por ser planta nova, conforme demonstravam as ramas pouco desenvolvidas.
Cerca de cinqüenta metros ainda era a distância que me separava da casa de meu pai. Será que ele já havia chegado? Isso realmente poderia ter ocorrido por que minha viagem havia sofrido pequeno atraso devido às dificuldades que me causaram as estradas enlameadas, Meu pai poderia ter viajado em carro mais potente e veloz. Não. Isso não acontecera, pois, vista a certa distância, a casa demonstrava estar fechada, não havendo quaisquer sinais que houvesse alguém em casa. Tudo ficou materializado quando me aproximei, encontrando minha meia irmã Anizete a quem dei notícia que eu chegava para permanecer alguns dias hospedado ali com eles, enquanto realizasse um trabalho de fiscalização de uma empresa nesta cidade, explicando à Anizete que nosso pai resolvera passar por Santa Teresa e que logo viria, seguramente após quinze minutos. Anizete me perguntou:
- Você trouxe chave, porque eu também não a tenho.
- A gente espera papai que garantia que não demoraria nada além de quinze minutos.
- olha pelo que sei de Santa Teresa ele irá para Fundão, onde minha mãe também se encontra.
- e você, Anizete, o que faz aqui sem a chave da casa?
- eu não preciso, pois estou hospedada em casa de uma amiga, enquanto eles permanecerem por lá.
- eles, quem?
- ué, meu pai, minha mãe a tia Angelina!
E agora, o que fazer? Devia me hospedar num dos hotéis, ignorando que meu pai, madrasta e a meia irmã residissem ali? Não. Teria que encontrar solução, porque se conseguisse abrir a casa, eu poderia me hospedar e ainda fazer companhia a Anizete. Foi o que fiz: procurei equacionar o problema e a solução veio com a presença de Palmerindo Dalmaso que se encontrava trabalhando nas proximidades. Inicialmente, ele propôs abrir uma pequena basculante de madeira por onde alguém poderia entrar para destrancar a casa por dentro. Eu não! Talvez Anizete. Mas pensando bem o que me custaria comprar uma fechadura dessas boas e substituir alguma das existentes nas portas, bastando para tal, que se fizesse arrombamento. Enquanto saí para ir à Casa do Anzol, comércio antigo de Colatina e pertencente à família “Scarton”, descendo a ladeira, não vi mais nada, tudo escureceu. Teria faltado energia, durante algum apagão, desses que são freqüentes durante temporais em que ocorrem quedas de raios. Nada disso havia acontecido. Percebi somente que nosso quarto estava às escuras nesta madrugada.

sábado, 4 de outubro de 2008

HISTÓRIAS (NOVAS OU VELHAS?)

Sempre me vem à mente, algumas histórias do passado remoto, outras da atualidade. Exemplo disso foi uma homenagem que recebi dos meus colegas de trabalho no Supermercado Carone. Trabalhei nessa empresa por vários anos, desliguei-me recentemente por ter concluído o curso de medicina, Diga-se de passagem: graças aos incentivos dos profissionais médicos da família Carone que, além de me incentivarem, ainda me concediam horários especiais e conciliatórios.
Jamais me esqueceria do patriarca da família: ele tinha o hábito de se sentar numa cadeira que ficava à frente dos balcões de congelados e de alimentos resfriados. Desse ponto, ele conversava com clientes e comigo, comentando sobre coisas que vira nos Estados Unidos da América, pois imigrara do Líbano e passara alguns anos trabalhando nessa nação americana. Dizia-me que naquele país, essa modalidade de auto-serviços destinados à venda de bens de consumo, tais como alimentos, materiais de limpeza e utilidades domésticas já eram coisa comum desde meados do século passado. Também me explicava que o bacalhau Saithe tinha como origem, além da Noruega também no Alaska, embora fosse um tipo de menor preço de cotação, na verdade, essa variedade devia ser considerada como de legítimo bacalhau. E não parava por aí: ele me falava como se devia preparar essas espécies de peixe salgadas.
Nesse dia de minha despedida, seu “Carone”, como era costumeira e carinhosamente chamado, agraciou-me com um aparelho de pressão de uma marca francesa, acompanhado de estetoscópio bi auricular da mesma etiqueta. Devo dizer que me senti muito feliz com a homenagem desse amigo. Seu filho Wiliam, seu sucessor, patrocinou uma festinha num salão da própria empresa e lá recebi, além de muitos abraços, uma placa de prata com dizeres, assim: “uma placa de prata para um colega que tem coração de ouro”.
Depois dessas homenagens, passei a pensar, a agir e me sentir, verdadeiramente como médico. Tiinha, agora, desafios a vencer: teria que trocar meu guarda roupas e guarnecê-lo com roupas, calçados, cintos; todas as peças do vestuário, na cor branca como recomenda o uso nesta profissão. Quanto a sentir-me como médico, não era coisa, assim, tão fácil, eu havia acumulado teoria; na prática, eu me sentia inseguro. Pensava: devo procurar socorro com doutor Leandro, que já me socorre nas coisas de informático; nesses assuntos de medicina, tenho certeza que sua colaboração não me faltará. E, assim, aos poucos fui me integrando, ora nos plantões no Hospital São Lucas, ora atendendo num ambulatório da Prefeitura Municipal de Vila Velha, desta forma ia me tornando capacitado a exercer a medicina legalmente; não como eu fizera no passado, época em que exerci, como titular, o funcionamento de um posto de socorro farmacêutico. Nessa época pratiquei alguns procedimentos, sempre considerados privativos da medicina. Na verdade, embora não existisse profissionais legalmente habilitados nessa localidade, eu exercera atos médicos desprotegidos do amparo legal.
Agora há uma história nunca vista: eu fazia parte de uma sociedade secreta, que celebrava a iniciação de três mulheres de forma peculiar: as candidatas a figurarem no quadro de associados, vestiam-se com “burcas” nas quais nem seus olhos eram vistos e sua visão era impedida por vendas, que somente seriam retiradas depois de finalizadas todas as cerimônias. OS trabalhos se estenderam desde o fim da tarde até meia noite em ponto.
Durante essas cerimônias solenes, todos os membros da organização presentes, inclusive eu, recebemos quepes novos e afiadíssimas espadas. Nossos uniformes de gala se compunham de fardas azuis marinho, repletas de botões metálicos dourados, espadas e quepes brancos. As mulheres que se iniciavam na associação, além de terem os olhos vendados permaneceram o tempo todo deitadas de bruços, ficando, assim, totalmente impedidas de verem quaisquer das pessoas que estivessem presentes. Ao final das cerimônias, encarregaram-me de fazer entrega às novas associadas de vestidos azuis marinho, semelhantes às fardas militares femininas, quepes brancos, um manual de instruções e uma afiada adaga. Em todas as reuniões formais, essas mulheres deveriam fazer uso desses uniformes e portar, além do manual de instruções individual, a adaga.
Concluída a primeira parte, agora num grande salão, todos deveriam se postar ao lado de três grandes mesas, servir-se de alimentos e bebidas especialmente distribuídas para esta ocasião. Enquanto isso, alguns oradores se revezariam, expressando boas vindas às recém admitidas na associação e distribuindo generosas homenagens aos seus familiares e amigos convidados presentes.
Apesar de ser noite festiva, sentia como se Anésia estivesse a se queixar de algum desconforto durante toda essa noite. Coisa que cessou quando acordamos nesta madrugada. Hoje indaguei Anésia se de fato sentira algum tipo de desconforto ou de contrariedade durante essa noite, respondendo simplesmente: “de nada me lembro, pois esta foi uma das noites que dormi melhor”.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

MINHAS EXPERIÊNCIAS EM CAVALGAR

A primeira vez que cavalguei foi num burro chamado “Douradinho”. Estava em férias pela segunda vez, época em que estivera internado no Seminário dos padres capuchinos em Santa Teresa. Devia ser janeiro de 1955, num desses escaldantes dias de verão. Arreei aquele famoso burro, que Sebastião Gujanski, nosso empregado montava impreterivelmente aos domingos, quando passava dias inteiros bebericando pelas vendas localizadas no Patrimônio de Várzea Alegre. Esse hábito continuado durante alguns anos provocou um efeito memória (se é que burro a tem), fazendo com que o animal seguisse invariavelmente ao patrimônio nas manhãs dos domingos e retornasse da mesma forma nas tardes.
Nesse dia contrariei os hábitos desse animal, fazendo com que seguisse pelo caminho que, numa encruzilhada à esquerda, passasse em frente à casa de Guilherme Zanotti, depois à de Antônio Roccon. Eu passava por esse caminho para chegar finalmente à casa de Tia Darcisa. Pois bem, mal conseguir chegar à encruzilhada em frente à casa do Roccon; desse ponto não conseguir fazer com que o burro avançasse um só milímetro em frente. Depois de Algumas tentativas, batendo no animal com uma tala de couro, cutucando com esporas, de repente o muar se moveu. Fez vários movimentos bruscos, saltando de forma cruzada e senti quando minha cabeça tocou violentamente o chão. Depois que o danado se livrou de mim, ficou parado ali mesmo, demonstrando toda a mansidão que o caracterizava.
Foi nesse dia que experimentei a dura vida dos peões de rodeio; eu peguei o cabresto e conduzi o animal de volta a casa. Senti-me envergonhado por não conseguir cavalgar no “Douradinho”. Fiz minha visita à tia, mas a pé. Por muito tempo não tive coragem de cavalgar novamente.
Depois de três anos, retornei abandonando o curso de ensino industrial básico que fazia na Escola Técnica Federal para trabalhar com João Romélio Zonta numa farmácia que haviam montado em sociedade com meu pai. A farmácia possuía um cavalo de montaria, destinado a servir de meio de locomoção para Romélio nas visitas que fazia aos enfermos no entorno de Várzea Alegre, Toma Vento, Alto Caldeirão, Caldeirão, Alto Tabocas, chegando a Valsugana. Constantemente, utilizando esse meio de transporte, ele visitava seus familiares no Patrimônio de Santo Antônio, hoje Santo Antônio do Canaã, como esta localidade passou a ser chamada. Também visitava enfermos em todo o vale do Rio Santa Maria, Barra do córrego Tabocas, Vale do Rio Perdido, São Paulo do Rio Perdido, Itanhanga, Córrego Frio, Pedra alegre, Alto várzea Alegre e Pedra da Onça.
Nos primeiros tempos do meu trabalho, enquanto Romélio fazia essas visitas quase que diariamente eu permanecia trabalhando no estabelecimento da farmácia que tinha a denominação de “Farmácia Nova”; chegou o momento que também eu tive que percorrer todas essas localidades, também cavalgando; nessa época eu não visitava enfermos: minhas visitas se destinavam a fazer cobranças para receber valores de clientes que compravam a prazo na farmácia. Às vezes, viajava dias inteiros e não conseguia receber um centavo sequer; Foi uma época que os moradores da região tinham como opção de rendas o cultivo de lavouras cafeeiras, desprovido de técnica e de tratamento de correção dos solos e ainda não se usavam fertilizantes, causando produção insignificante e não eram raros a incidência de um tipo de inseto – a broca, que danificava os grãos do café, reduzindo a produção agravada pela má qualidade de produto, tanto pelos estragos causados pelas pragas como pela forma antiquada como eram feitas as cultura. Outro fator que desencadeava renda minguada era a monocultura do milho como opção de exploração agrícola. Terrenos de topografia acidentada não permitiam o uso de máquinas, e o trabalho braçal não trazia recompensa satisfatória. Por tais motivos, a população de agricultores passava por época de crise, não tendo como honrar compromissos com fornecedores.
A população rural não contava com serviços públicos de assistência à saúde, nem tinha amparo de previdência social, dependendo do nosso atendimento de urgência e emergências domiciliares feitas a cavalo. E o pior para nós: dificilmente recebíamos a maioria dos nossos créditos resultantes desses atendimentos e fornecimento de medicamentos. Esses foram os motivos de tantas viagens a cavalo. Havia, ainda, escassas estradas por onde podiam circular automóveis. Que automóveis? Objetos raros, que burros, mulas e cavalos supriam sua falta.
Mas voltando a falar sobre o uso de animais eqüinos e muares destinados à locomoção, havia passeios por ocasião de festas nas comunidades adjacentes e de visitas às namoradas. Apesar das poucas namoradas que tive a opção de visitá-las se fazia por intermédio das montarias, ora no burro “Ruão” ou no cavalo “Queimado”. Essa prática durou alguns anos, mesmo depois que a farmácia esteve sob minha inteira responsabilidade, quando que meu pai adquiriu a parte societária que pertencia a Romélio. Essas coisas me fazem lembrar um fato que atendi a um enfermo na localidade de Pedra da Onça, indo ao local cavalgando no “Queimado” por volta da meia noite, ocasião que a escuridão total dominava a estrada e o pior: para o retorno, não tive companhia de outra pessoa, pois tiveram que conduzir o doente até a Praça Oito, carregado-o numa padiola com lençóis atados a varões de madeira. Pela sintomatologia, o paciente demonstrava sintomas de apendicite, confirmado pelo médico que lhe fez a cirurgia, já agravada com supuração.
Com minhas experiências nessas cavalgadas, aprendi a arrear os animais, iniciando com a pegada no pasto, a colocação do arreios, compostos por sela, rabicho, peitoral, cia, barrigueira, peitoral, sela, cabresto e as rédeas e seus freios. Eu sabia como arrear um animal, de modo que ficasse pronto para cavalgar.
Acontecia com um animal de sela um fato em que me faz lembrar: quando realizava o seu arreamento, no momento em que apertava a barrigueira o bicho estufava a barriga de tal modo que, depois, tornava o abdome à posição normal, necessitando repetir a operação para que a sela ficasse firmemente assentada.
Essas, portanto foram minhas experiências na equitação, embora tenham ocorrido há mais de cinqüenta anos, sua lembrança me traz de volta um tempo que coisas simples tinham importância especial.

O CASO DO CONVENTO NAS ELEIÇÕES (II)

Postada Matéria com o título acima, em 01.10.2008, percebeu-se a necessidade da imagem do convento ser colada junto com a matéria publicada no “INFORMATIVO PREFEITO NEUCIMAR FRAGA 22 – SETEMBRO 2008 – EDIÇÃO I”, página 12. Assim, o que se disse na postagem do dia 1º de outubro é comprovado agora com a inserção, tanto das imagens, quanto do texto original e integral da matéria enfocada.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O CASO DO CONVENTO NAS ELEIÇÕES

Neucimar,
Inicialmente aceite meus parabéns pela brilhante campanha eleitoral que faz rumo à Prefeitura desta “Terra dos Canelas Verdes”. Não se sabe a origem; corre um boato que eleito, Neucimar encerraria as festas no Convento da Penha, coisa maldosa e infundada e típica dos boatos da “guerra eleitoral”. Se não bastasse, quando o ilustre candidato defende símbolos da terra como ícones capazes de impulsionar o turismo – sua intenção manifestada no Informativo Prefeito Neucimar Fraga 22 página 12 da Edição I, o Convento Nossa Senhora da Penha, considerado ponto turístico para alguns e símbolo de fé para católicos devotos, volta-se novamente a demonstrar que o mesmo não contempla seus preitos. Vejamos como a diagramação colocou o “Convento” em posição de desequilíbrio, faltando mantê-lo no prumo que tem rumo ao céu.
Pois bem, o convento, mais uma vez, vem demonstrar imagem distorcida que, temos certeza, Vossa Senhoria não comunga.

NOITE DE FESTA

Chegamos ao local onde funcionava a casa de festas e logo fomos atendidos, inicialmente numa grande loja de aluguel de trajes típicos para danças diversas: vestidos longos de tecido leve e esvoaçante para serem usados na dança de valsa que acontecia num salão localizado, a partir dos fundos, no final de um corredor com duas filas de boxes provadores, um para o público feminino e outro para o masculino. Zenóbia/Preto, Bel/Enéias, Arlete/Antônio, Anésia e eu, locamos roupas para dançar valsa. As mulheres com aquelas vestimentas já mencionadas, enquanto que nós, homens, vestimos ternos escuros com os famosos “Smokings” e gravatas do tipo “borboleta” (no fino Estilo “Black tie”). Isso é que recomendava o cerimonial dessa casa de espetáculos.
Nossos casais se exibiram em danças de valsas ao som de instrumentos de corda, acompanhados por instrumentos de sopro como clarinetas e saxofones, produzindo valsas dos clássicos vienenses. Ao lado do salão onde nos exibíamos, um serviço de bufê fornecia finos alimentos e bebidas, onde os participantes se refestelavam durante momentos de descanso nos intervalos entre uma e outra seção de melodias clássicas.
Acima, num plano superior, havia outro salão de onde emanavam sons de músicas populares de ritmos diversos. Para esse ambiente o pessoal que chegava também se dirigia à loja para se paramentarem com trajes típicos conforme o tipo de música que se disponibilizava para os casais dançarem. Nessa noite, esse ambiente se prestava às músicas originárias do nordeste brasileiro. Como trajes típicos nordestinos, tanto homens como mulheres exibiam aqueles chapéus de couro e as jaquetas semelhantes às usadas pelo povo do cangaço. Nesse ambiente de danças do salão situado no plano superior, ao contrário do bufê anexo ao salão situado do lado direito no pavimento inferior, havia um local situado ao lado esquerdo que servia iguarias da culinária nordestina, tais como macaxeira frita com jabá e jerimum, cachaça da “Boa” e buchada de bode condimentada generosamente com a vermelha e cheirosa pimenta malagueta.
Nem mesmo na época da juventude experimentei participar de baile tão sofisticado quanto este. Foi coisa para deixar saudade: Anésia e eu, vestidos a caráter, parecíamos flutuar por aquele imenso salão, coisa tão prazerosa que jamais gostaria que se tivesse encerrado naquele início de manhã quando a claridade dava sinais de que o sol não tardaria despontar no horizonte do imenso oceano.
Certamente, assim que tenhamos novas oportunidades, voltaremos a esse local para nos divertirmos durante noites e madrugadas afora.