sábado, 4 de outubro de 2008

HISTÓRIAS (NOVAS OU VELHAS?)

Sempre me vem à mente, algumas histórias do passado remoto, outras da atualidade. Exemplo disso foi uma homenagem que recebi dos meus colegas de trabalho no Supermercado Carone. Trabalhei nessa empresa por vários anos, desliguei-me recentemente por ter concluído o curso de medicina, Diga-se de passagem: graças aos incentivos dos profissionais médicos da família Carone que, além de me incentivarem, ainda me concediam horários especiais e conciliatórios.
Jamais me esqueceria do patriarca da família: ele tinha o hábito de se sentar numa cadeira que ficava à frente dos balcões de congelados e de alimentos resfriados. Desse ponto, ele conversava com clientes e comigo, comentando sobre coisas que vira nos Estados Unidos da América, pois imigrara do Líbano e passara alguns anos trabalhando nessa nação americana. Dizia-me que naquele país, essa modalidade de auto-serviços destinados à venda de bens de consumo, tais como alimentos, materiais de limpeza e utilidades domésticas já eram coisa comum desde meados do século passado. Também me explicava que o bacalhau Saithe tinha como origem, além da Noruega também no Alaska, embora fosse um tipo de menor preço de cotação, na verdade, essa variedade devia ser considerada como de legítimo bacalhau. E não parava por aí: ele me falava como se devia preparar essas espécies de peixe salgadas.
Nesse dia de minha despedida, seu “Carone”, como era costumeira e carinhosamente chamado, agraciou-me com um aparelho de pressão de uma marca francesa, acompanhado de estetoscópio bi auricular da mesma etiqueta. Devo dizer que me senti muito feliz com a homenagem desse amigo. Seu filho Wiliam, seu sucessor, patrocinou uma festinha num salão da própria empresa e lá recebi, além de muitos abraços, uma placa de prata com dizeres, assim: “uma placa de prata para um colega que tem coração de ouro”.
Depois dessas homenagens, passei a pensar, a agir e me sentir, verdadeiramente como médico. Tiinha, agora, desafios a vencer: teria que trocar meu guarda roupas e guarnecê-lo com roupas, calçados, cintos; todas as peças do vestuário, na cor branca como recomenda o uso nesta profissão. Quanto a sentir-me como médico, não era coisa, assim, tão fácil, eu havia acumulado teoria; na prática, eu me sentia inseguro. Pensava: devo procurar socorro com doutor Leandro, que já me socorre nas coisas de informático; nesses assuntos de medicina, tenho certeza que sua colaboração não me faltará. E, assim, aos poucos fui me integrando, ora nos plantões no Hospital São Lucas, ora atendendo num ambulatório da Prefeitura Municipal de Vila Velha, desta forma ia me tornando capacitado a exercer a medicina legalmente; não como eu fizera no passado, época em que exerci, como titular, o funcionamento de um posto de socorro farmacêutico. Nessa época pratiquei alguns procedimentos, sempre considerados privativos da medicina. Na verdade, embora não existisse profissionais legalmente habilitados nessa localidade, eu exercera atos médicos desprotegidos do amparo legal.
Agora há uma história nunca vista: eu fazia parte de uma sociedade secreta, que celebrava a iniciação de três mulheres de forma peculiar: as candidatas a figurarem no quadro de associados, vestiam-se com “burcas” nas quais nem seus olhos eram vistos e sua visão era impedida por vendas, que somente seriam retiradas depois de finalizadas todas as cerimônias. OS trabalhos se estenderam desde o fim da tarde até meia noite em ponto.
Durante essas cerimônias solenes, todos os membros da organização presentes, inclusive eu, recebemos quepes novos e afiadíssimas espadas. Nossos uniformes de gala se compunham de fardas azuis marinho, repletas de botões metálicos dourados, espadas e quepes brancos. As mulheres que se iniciavam na associação, além de terem os olhos vendados permaneceram o tempo todo deitadas de bruços, ficando, assim, totalmente impedidas de verem quaisquer das pessoas que estivessem presentes. Ao final das cerimônias, encarregaram-me de fazer entrega às novas associadas de vestidos azuis marinho, semelhantes às fardas militares femininas, quepes brancos, um manual de instruções e uma afiada adaga. Em todas as reuniões formais, essas mulheres deveriam fazer uso desses uniformes e portar, além do manual de instruções individual, a adaga.
Concluída a primeira parte, agora num grande salão, todos deveriam se postar ao lado de três grandes mesas, servir-se de alimentos e bebidas especialmente distribuídas para esta ocasião. Enquanto isso, alguns oradores se revezariam, expressando boas vindas às recém admitidas na associação e distribuindo generosas homenagens aos seus familiares e amigos convidados presentes.
Apesar de ser noite festiva, sentia como se Anésia estivesse a se queixar de algum desconforto durante toda essa noite. Coisa que cessou quando acordamos nesta madrugada. Hoje indaguei Anésia se de fato sentira algum tipo de desconforto ou de contrariedade durante essa noite, respondendo simplesmente: “de nada me lembro, pois esta foi uma das noites que dormi melhor”.

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