terça-feira, 28 de junho de 2011

NÃO SE FALA MAIS EM SONHOS

Chega! Basta de falar nessa lengalenga de sonhos. Isso cansa a beleza de qualquer um. Quando se conta sobre sonhos, o desenrolar da história pode até ser interessante, mas no final, a gente sempre acorda para a realidade. Não há como ser diferente. Acordar e inventar alguma forma de explicar o inexplicável e usar como recurso, incluir outrem que não tenha contribuído durante a trama. Não. Quero dizer: sonho!

Quanto trabalho e quantos argumentos para justificar coisas tais como explicar a existência de jabuticabas amargas, melancias da casca vermelha, aulas, trabalho cansativo como aquelas histórias de retorno ao trabalho depois de aposentado, viagens ultra-rápidas, visitas e passeios por terras estranhas, dirigir grandes veículos como caminhões, ônibus e até carretas. Ou ainda carregar o fusca nas costas, pescar e dirigir deitado. Chega! Basta de tanta fantasia. Não há mais repertório para esses festivais de tanta besteira.

Pensando bem, tenho que encontrar temas interessantes, coisas construtivas, aquelas que venham contribuir, de alguma forma, para melhorar o conhecimento, acrescentar experiências, enfim, coisas realmente úteis. Enquanto isso, eu ponho a memória para funcionar, contando fatos históricos antigos, fazendo extrapolações do futuro em ficções que visem contribuir para a melhoria da vida dos nossos descendentes. Posso também, a exemplo de coisas feitas ultimamente no campo das ficções, ora criando personagens de romances, vivendo ocorrências até, mesmo, inusitadas. Nesses casos, quando absolutamente necessário, alguma fantasia pode ser criada até mesmo em inevitáveis sonhos.

Nada justifica que se prolongue esta conversa e se você, leitor, tem alguma boa sugestão, acrescente comentário. O blog agradece.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A LA CARTE

Fomos a Glória à procura de um restaurante desses que servem alimentos processados na modalidade de self service. Escolhi o primeiro que exibia o nome de “comidas típicas de Vila Velha”. Lá me deparei com velho amigo e ex gerente da agência, em Vitória, de um banco, que teve cerrado suas portas há muitos anos, ocasião em que nos lembrávamos de uma subgerente, servindo nesse tempo como sua eficiente colaboradora. Lembrávamos-nos dela, especialmente por sua extrema eficiência chegando a interpelar pessoalmente e até os familiares de correntistas sobre fatos - embora confidenciais -, ela os tornava públicos com o objetivo de proteger a instituição financeira contra possíveis danos ao seu numerário.

Mas o que tínhamos em comum nesse momento era fazermos uma apetitosa refeição e já percebia pela linguagem do garçom de que estávamos – eu principalmente -, que procurava local para uma refeição rápida; nada desses pratos escolhidos em “menus” ou cardápios, falando no bom português – aquele entendido por qualquer mortal. Mas depois dessas conversas, surgiram mais dois clientes da casa e à nossa mesa foi trazida generosa porção de quibe cru, como entrada, antes que nos fosse servido o prato principal. O velho bancário de quem não me lembra o nome, pela maneira como o atendiam, parecia ser cliente habitué (costumeiro) do estabelecimento. E o garçom o avisava de que o peixe pedido só o havia em estoque pescado há mais de doze dias; seu pedido de peixada com essa iguaria e com prazo de pesca de menos de dez dias, não havia como ser atendido, restando outras opções, conforme explicitado no cardápio. Nosso amigo bancário fazia questão de degustar peixe e eu nada falava, importando isso sinal de concordância tácita.

Também os dois outros amigos do bancário – agora tornados meus também - tinham igual preferência de escolhas das iguarias – bastava peixe preparado com qualquer receita. Para mim tanto fazia, mas esse tanto fazia significava concordar com os três amigos, todos postados à mesma mesa. Um deles se dizia professor universitário e me indagou assim:

- e o senhor, nosso amigo, que fazia e que faz na atualidade. Respondi-lhe:

- no passado, tanto como o senhor, fui professor em duas faculdades e, também, em cursos técnicos do segundo grau, funcionário público, desde 1969. Atualmente sou aposentado.

Isso foi suficiente para que esse, que se dizia professor universitário, doravante se mantivesse em silêncio, pois meu status se igualava ao dele.

E aquele prato feito com peixe pescado há mais de doze dias (não se sabendo quando...), não dava sinais de nos chegar à mesa. Nem só a fome, mas a espera se tornava tediosa e, ainda aquelas interlocuções dos companheiros de mesa... Deixemos isso de lado.

Depois de tanto esperar, eis que o alimento principal e suas guarnições chegaram, enfim, à nossa mesa. Experimentei porção pequena e senti sabor ligeiramente amargo e cheiro de maresia, aquilo sentido às vezes quando estamos próximos de águas marinhas poluídas. Isso me deixava nauseabundo e fazia com que sentisse insatisfação no sabor da iguaria...

Acordei com aquele sabor na boca, típico daquilo que se sente quando se engole sapo!

Da próxima vez, farei tudo diferente; escolherei onde e o que comer. Permanecer em silêncio e não manifestar minhas opiniões fez com que eu aprendesse, mas com alto custo. Comida A LA CARTE, só aquela escolhida livremente e de acordo com o meu gosto, pois, como o dito: “há gosto para tudo”.


domingo, 26 de junho de 2011

TRABALHO DE GARI



Neste domingo, acordei às seis horas da manhã e fui diretamente ao banheiro para uma ducha, que me limpasse o corpo, inclusive a alma.

Agora explico os motivos para essa providencial limpeza: passei toda a madrugada, trabalhando na limpeza pública; fiz juntada de lixo na margem da rodovia Carlos Lindemberg, desde a entrada para o bairro de Nossa Senhora da Penha até chegar a Jaburuna. Não sei por que razão eu resolvi prestar tal serviço à comunidade. A sensação sentida era de que, como gari, eu poderia contribuir para com uma faxina por essa movimentada via, que atravessa a cidade de Vila Velha – do bairro de São Torquatro ao centro.

Iniciei o trabalho juntando com rastelo todos os tipos de lixo que ia me deparando ao longo dessa via. Havia sujeira por todos os lados: sacolas de plástico vazias, garrafas pet, jornais aos pedaços, folhas secas das árvores, ainda caídas, algumas delas, desde o outono passado, algumas moitas de gramíneas secas, restos de papéis higiênicos e embalagens de produtos de limpeza diversos. Quando, já distante do ponto inicial, percebi que, pela ação do vento, todo o lixo amontoado, até então, havia se espalhado ao longo da rodovia. Em parte meu serviço estava perdido; somente uma varrição completa da via asfáltica da Lindemberg seria capaz de recuperar todo o serviço perdido.

Isso não me causou frustração nem desânimo. E eu continuava meu trabalho pacientemente, enquanto pedestres passavam; alguns em passos lentos e outros apressadamente. Crianças corriam, outras deslizavam com seus “skates” e outras corriam celeremente com suas bicicletas; algumas em silêncio enquanto outras tagarelavam. Nada impedia a continuidade do meu trabalho, mas, em determinado momento, um casal se aproximou de mim, dizendo: o senhor demonstra idade avançada, enquanto exibe muito vigor nesse trabalho. Por favor, qual sua idade? Ao que respondi: tenho 69 anos completos, estando próximo de completar setenta anos, embora não aparente; aparento ter muito mais! São as sequelas das enfermidades que já sofri ao longo desses anos: duas revascularizações do miocárdio, uma colocação da válvula de perfusão ventrículo peritoneal para controlar-me a hidrocefalia a que sou acometido; diabetes melitus há mais de trinta anos e hipertensão arterial. Tudo absolutamente sob controle. Apesar de tudo isso, tenho boa saúde, graças a Deus!

Tal casal foi o único a dialogar comigo. Inúmeras pessoas passarem próximas de mim, simplesmente ignorando-me a presença. Isso é comportamento típico de que a população procede, quando passa ao lado de algum gari; ele não deve ser incomodado ou o seu trabalho não representaria nada de importante. Então sua presença deve ser ignorada.

Enquanto isso, juntando lixo, capinando ervas daninhas; respirando a poeira da terra, o pó do asfalto e a fuligem resultante da queima dos combustíveis fósseis; meu corpo e minhas roupas recebiam toda essa imundície; mas, pacientemente e sem sentir qualquer tipo de cansaço, eu continuava meu trabalho, até que, cheguei a Jaburuna. Nesse local, iniciei a limpeza completa de uma oficina mecânica e ninguém tomou conhecimento da minha presença, nem mesmo me questionaram por que fazia esse trabalho sem que tivesse sido contratado. Eu o fazia espontaneamente, sem exigir qualquer contraprestação. Ali foi realizado o trabalho mais árduo: todos os móveis de aço repletos de peças oxidadas (enferrujadas) desprendiam um pó escuro avermelhado, que se juntava aos resíduos de óleos e graxas. Nessa etapa, usando estopas, eu espanava todos os móveis e limpava uma a uma todas as peças de ferramentas de trabalho, sucatas de parafusos, porcas e outros materiais descartáveis.

Isso tudo representou uma excelente experiência de como deve ser visto o trabalho desses incansáveis garis.

Tudo explicado?

sábado, 18 de junho de 2011

MADRUGADA VIOLENTA


Durante uma madrugada qualquer, parecia-me estar numa galeria de salas e lojas comerciais de atividades diversas. Eu estava parado e de pé numa rampa por onde se podia chegar ao pavimento superior. Estava ali, aguardando pela chegada da minha esposa e ela desejava que lhe fizesse companhia a uma dessas lojas especializadas em vestuário feminino para festas.
De repente, um indivíduo trajado com roupa na tonalidade cáqui, vestindo um casaco da mesma cor, exibindo um símbolo tal como a flor de lis; indagou-me o nome e, sem que tivesse tempo para responder-lhe, surgiu um policial, que teria dito:
- Afaste-se daqui! Este homem é preso agora, porque ele estava pronto para assassiná-lo.
Obedeci à ordem do policial e pude ver a certa distância, que o dito suspeito sacou de um revólver, possivelmente calibre 38, exibindo sinais generalizados de ferrugem e disparou três tiros contra o policial e pôs-se em fuga, desaparecendo em meio a muitas pessoas frequentadoras desse centro comercial. Corri apressadamente pela rampa acima e, ao dobrar a direita já no pavimento superior, deparei-me novamente com um indivíduo, que apontava uma arma em minha direção. Gritei e saí correndo, ouvindo estampidos, certamente provenientes da arma de tal meliante, talvez pistoleiro com encomenda para me assassinar. Corri muito e adiante, novamente outro cidadão de aspecto tenebroso, de arma em punho, disparou em minha direção, não me acertando nenhum disparo com sua arma.
Correndo pelos corredores e gritando por socorro, novamente fui surpreendido por alguém que me apontava arma de longos canos e me alertava:
- Desta vez, não me escapa!
Eu já esperava que os projéteis da arma me atingissem. Não. Isso não aconteceu. Simplesmente ele me atirou uma arma branca, espécie de faca com dois gumes. Tentei atirá-la na direção do meu algoz, mas o objeto não tinha peso suficiente para tomar rumo certo, caindo ao chão poucos metros adiante. Por um momento pensei: “ Esta arma, que me foi disponibilizada, serviria como pretexto para que me assassinasse e tivesse como provada possivelmente legítima defesa”. Nisso dois policiais renderam o indivíduo e lhe colocaram algemas. Dessa dupla de policiais uma voz feminina me dizia:
- Agora fique calmo e durma, pois, durante toda esta madrugada, você esteve agitado, gesticulou muito, falou e até gritou. Bom também agora que reze e procure ficar tranquilo.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SOLUÇÃO QUADRADA E OUTRAS

Comprimidos brancos, azuis, rosa, verdes; quase todos redondos e achatados. Quando caem ao chão, nem sempre se consegue visualizá-los, pois saem rodopiando; se escondendo nos locais mais improváveis. Isso me acontece com frequência. Não é que esses danadinhos, quando tomo meus medicamentos da manhã, do almoço, do jantar e aqueles da noite; sempre, algum deles teima em cair, rodopiar pelo chão e se esconder, até que alguma vassoura providencial localize esse sumido, enquanto isso, eu tenho que retirar outro comprimido da caixa do mesmo medicamento. Desta forma, algumas vezes esses comprimidos desgarrados tem o lixo como destino, porque ao caírem no chão podem se contaminar das mais variadas bactéria e vírus.

Não sei por que se alguns comprimidos se perdem ao caírem, se algumas vezes me esqueço de tomar algum; se repito, tomando algum pela segunda vez no mesmo horário. Isso gera ao longo de trinta dias, quando faço a reposição dos meus estoques, que alguns sobram e outros faltam numericamente o suficiente para completarem esse período, que é meu tempo cronológico para iniciar novo espaço mensal de uso dessas dezenas de comprimidos tomados diariamente.

Como solução para evitar que esses redondinhos caiam e se percam; tenho uma sugestão para os laboratórios farmacêuticos: Que tal produzirem-se comprimidos com a forma quadrada ou cúbica? Para os esquecimentos, ora deixando de tomar algum remédio por esquecimento, ora tomando mais que o devido, causando faltas e sobras ao final de cada mês. Qual seria a solução? Uma delas poderia ser a adoção do uso de mais um medicamento. Este para corrigir a falta de memória, coisa comum a essa gente que tem experiência acumulada pela acumulação cronológica do tempo (velhice mesmo!). Outra solução é adotar-se um dispenser (dispensador), dividido em dias da semana – de domingo a sábado, registrando manhã, almoço, jantar e noite como horários para a tomada dos medicamentos. Deste, eu já faço uso. Quando me esqueço de ingerir medicamento em determinado horário, por ocasião da próxima tomada, pode-se tomar conhecimento da falha. Ainda mais uma opção existe: pedir a alguém que me ajude lembrar, mas, para isto deverá ser alguém com memória melhor que a minha ou a sua.


terça-feira, 7 de junho de 2011

INGENUIDADE

Não consigo entender a falta de atenção desse personagem; será descuido ou ingenuidade? Comprou imóvel sem visitá-lo e mediante procuração passada com amplos poderes a um corretor que conheceu recentemente. Podem estar certos que, desta vez, não sou eu o autor dessa façanha! Para completar seu descuido, mesmo não conhecendo o objeto da compra e o profissional intermediário, adiantou grande quantia em dinheiro, o equivalente a 30% do valor total da compra, a título de sinal e de reserva para ser abatido do total por ocasião do pagamento final, que torna o objeto definitivamente quitado.

Chegou o dia de tomar posse do objeto, processar a escritura pública de transmissão da propriedade e fazer o pagamento do restante do valor total da compra. Inicialmente, o indivíduo inominado, cujo problema é atemporal, conheceu o imóvel acompanhado de duas funcionárias do escritório de corretagem, que lhe foram disponibilizadas para cuidar desse cliente e prestar-lhe todas as informações necessárias relativas ao bem adquirido. Enfim tudo o que se fizesse necessário. Estranho é que o intermediador não compareceu para assessorar seu cliente, deixando tudo a cargo dessas funcionárias administrativas, cuja função específica é a execução de tarefas ligadas à administração dos negócios de funcionamento burocrático da empresa. Esse mister cabia, com certeza, a algum dos corretores.

Durante a permanência no escritório de corretagem, assim como acontecera no dia que, ingenuamente, fez aquisição do imóvel sob forte pressão dos profissionais de vendas, voltava acontecer agora. Os corretores abordavam novamente nosso amigo e lhe faziam bajulações do tipo: você é um homem privilegiado pela sorte; oportunidades de compra como esta são raras. Ele ouviu casualmente, que sua indicação para a aquisição da coisa partira de um corretor conhecido por Jorge, velho amigo nosso. Parece que Jorge pinçou esse nosso amigo, graças às suas características de realizar negócios de forma açodada. Tal costume ainda não lhe causara quaisquer prejuízos, mas, desta vez... Só com muita sorte, mesmo... Nesse clima, pressentindo algo de errado, deixou o escritório acompanhado pelas duas senhoritas dirigiram-se na direção da coisa adquirida. Ao chegar se deparou frontalmente com grande terreno urbano ainda disponível. Da rua para chegar à edificação um declive indicava que eram visíveis sinais de enxurradas, que levavam terra e detritos dessa via pública, ainda sem calçamento. Adentrou ao imóvel e percebeu a existência de móveis e utilidades domésticas amontoadas – algumas já embaladas para mudança -, parecendo que o proprietário vendedor tinha urgência de se mudar do local e não foi difícil saber o porquê de toda essa pressa de deixar o local: O imóvel fora construído na margem de um valão, desses esgotos a céu aberto, de onde exalava odores fétidos. Alguns trabalhadores retiravam areia, e ele recebeu aviso de que nada comentasse a respeito da presença desses trabalhadores – eles eram empregados de alguma empresa construtora -, usando dessa areia imunda como material integrante de edificações em andamento, pois, se fiscais da prefeitura tomassem conhecimento desse fato, certamente haveria multas e até prisões. A prática dessas ações pode contribuir para a degradação do meio ambiente. Contribuir para com o meio ambiente seria o dever dos órgãos do poder público providenciar limpeza e desobstrução dessas valas, retirando dali todo o lixo depositado indevidamente e ainda realizarem tratamento sanitário dos dejetos ali depositados.

Enquanto as duas senhoritas davam explicações sobre detalhes de como deveriam ser conduzidas as finalizações do negócio, nosso amigo observava atentamente todas as reformas e reparos de que o imóvel carecia. Pensando bem: caso concretizasse a compra seria vantajoso demolir a casa e fazer nova edificação. Ideia imediatamente posta de lado. Melhor seria pensar em se desfazer da compra e perder aquele depósito de sinal da compra. Se o arrependimento partisse do vendedor, ele teria que reembolsar o comprador mediante devolução do sinal acrescido de 100% de multa pelo desfazimento do negócio. Melhor sua situação era mais cômoda, embora desistir representasse prejuízo, maiores seriam as perdas, posteriormente advindas de má aplicação em desastrada compra.

Não havia como responsabilizar a corretagem, pois toda a culpa pairava simplesmente por um ato da mais completa ingenuidade. Melhor perder agora que amargar futuros prejuízos. O tempo e a má experiência faria com que esse cidadão, não fechasse negócios de compra sem a tomada das devidas precauções. Quanto aos corretores, a própria notícia desse fato, os levaria a punição de perderem negócios ante a falta de ética, mesmo sem que pudesse ser comprovada.

sábado, 4 de junho de 2011

EXEMPLO A SER SEGUIDO

Feira orgânica, ano VI
Ronald Mansur
30 /05/2011 -A Gazeta
A feira orgânica de Vila Velha completou seis anos no dia 19 de março. Certamente que muitos que a frequentam tem plena consciência de que estão comprando frutas, verduras e legumes de alta qualidade. Produtos limpos do ponto de vista de resíduos dos venenos usados nas lavouras. Sabem que vão comer um alimento de verdade, um alimento para a vida. Mas o grupo que sabe como foi a luta dos feirantes até o dia de hoje é pequeno e restrito.
Os agricultores de Santa Maria do Jetibá e Iconha, que estão do outro lado da banca, merecem o reconhecimento pelo trabalho que realizam e pelos produtos que nos fornecem, puros e limpos de agrotóxicos. Sou grato a eles que chegam pela noite de sexta-feira e dormem debaixo das barracas. No sábado, bem cedinho, iniciam a comercialização. Vida de trabalho. Por isso vou agradecer sempre.
Mas nesta data quero fazer uma viagem ao passado, não muito distante, mas o necessário para não esquecermos. Falo do início do processo que resultou no atual estágio da agricultura orgânica no Espírito Santo. Tenho de fazer uma viagem de pouco mais de 130 quilômetros, sentido Sul do Estado, indo até Cachoeiro de Itapemirim. Foi lá que tudo começou no ano de 1985, quando a prefeitura local (administração Roberto Valadão), e pela condução competente do agrônomo Nasser Youssef Nars, montou o que logo ficou conhecido como Hortão Municipal.
Centenas de agricultores foram lá para conhecer o que era produzir em escala comercial e com elevada produtividade verduras, folhas e frutas sem o uso de produtos químicos e venenos pesticidas. Era a agricultura natural - que retirava produção da natureza, mas fazendo a menor agressão possível.
Um grupo especial de produtores frequentou com constância o Hortão e de lá tirou ensinamentos que carregam até hoje. O conhecimento absorvido passou a constituir um bem patrimonial, porque foi passado para os filhos e para as comunidades. Falo das excursões que a Igreja Cristã Evangélica de Confissão Luterana (ICLeB) promoveu para os seus membros. É bom lembrar que nos anos 80 quem falasse em agricultura orgânica era discriminado e tido como um tolo sonhador. Assim procediam muitos agrônomos e dirigentes de empresas ligadas ao governo estadual. O tempo passou e muitos dos algozes do passado hoje pensam e agem de forma diferente. Melhor assim.
Por isso que nas manhãs de sábado, ao percorrer as barracas da Feira Orgânica da Praia da Costa, faço uma viagem sentimental , mas cheia de fatos, histórias e pessoas. Penso nas ações concretas de pessoas no passado. Desta forma, o pensamento segue no sentido de Cachoeiro de Itapemirim, bairro Aeroporto, onde ficava o Hortão, mais tarde Centro de Agricultura Natural Augusto Ruschi. Ao agrônomo Nasser, a nossa gratidão e reconhecimento. Hoje o Hortão não existe mais, fruto da ignorância e da vaidade de pessoas que não sabem reconhecer o trabalho dos outros.
Mas vamos voltar à feira orgânica da Praia da Costa, ponto de compra de produtos de qualidade, também ponto de encontro de amigos e amigas que estão no corre corre da vida durante a semana. No sábado, com um ritmo menos acelerado, colocam as conversas em dia e mais tarde vão almoçar uma comida de verdade. Viva o Hortão de Cachoeiro de Itapemirim!
Ronald Mansur é jornalista - ronaldmansur@gmail.com

sexta-feira, 3 de junho de 2011

À MINHA AMÁVEL ESPOSA







Agora, depois de 50 anos de convivência matrimonial, sinto tudo quanto você foi importante na minha vida. Na ocasião em que registramos festivamente esse meio século de vida a dois; quando recebemos carinhosos cumprimentos, dadivosas presenças dos familiares queridos e de alguns desprendidos amigos e vizinhos. Sentimos quão importantes eles foram, completaram e nos deram as mãos quando deles necessitamos do apoio e da solidariedade.
Você, amável esposa, foi peça principal, o pilar mais vigoroso, o alicerce de sustentação, a pedra fundamental em que sustentou a formação estrutural desta família, e que a revestiu do acabamento primoroso de que é feita. E continua como guardiã desse precioso tesouro chamado família.
A você, minha esposa, nada disso que vivemos nesse meio século de vida partilhada a dois, a três, a quatro, a cinco; depois a seis, a sete e agora, a doze. Quero dizer que, no princípio éramos nós dois; depois três quando chegou Domingos, quatro com o nascimento de Edgard, cinco se tornaram, dezoito anos após, com a chegada de Karla; seis com Delma, se tornando esposa de Edgard; sete com Rita casando-se com Domingos; oito a onze com a chegada dos netos; e doze com o casamento de Karla e Leandro.

Um dia, só Deus sabe quando, ocorrerá nossa separação física dessa matéria corruptível, mas, amável esposa, nosso amor será eterno. Ele viverá pelos tempos dos tempos...