domingo, 30 de janeiro de 2011

JABUTICABAS AMARGAS

Tomei o fusca de Clarindo por empréstimo para comprar utilidades para um garimpo que, juntamente com Gervásio, o próprio Clarindo e outros garimpeiros lavrávamos em terras de José Luiz (conhecido pela alcunha de Macarrão). Deixei o pessoal trabalhando e fui à localidade de Santo Antônio do Canaã. Ali deveria comprar ferramentas de que os garimpeiros necessitavam e logo me pus a caminho de retorno. Ao chegar às proximidades do trevo por onde se inicia a rodovia que me conduziria a Várzea Alegre, enveredei-me por uma estrada de chão, chegando, depois de percorridos cerca de dois quilômetros, a uma propriedade rural onde a via se findava e, nesse local, havia caminhões de carga estacionados.

Sem alternativa, retornei à via principal onde meu cunhado Antônio aguardava por carona, embarcando comigo, agora prosseguimos viagem através da via recentemente pavimentada. Adiante paramos e entramos por uma variante, agora seguindo à direita. A pouca distância, adentramos a uma chácara com fruteiras várias, especialmente de uma árvore, ostentando frutos maduros, semelhante a jabuticabas se colocavam junto ao tronco e galhos da árvore. Sempre apreciei jabuticabas e agora era só entrar em contato com o morador do sítio e procurar adquirir alguns quilogramas dessas frutas. Nem foi preciso chamar, pois o morador percebeu nossa presença e se adiantou indagando:
- Que desejam senhores?

- Qual preço de venda destas jabuticabas? Indagamos.

- Não tem preço, porque não estão à venda e nem são jabuticabas. Realmente estas frutas se parecem com jabuticabas, mas observando atentamente, pode-se verificar que o tamanho, o sabor extremamente amargo, as folhagens e a própria árvore; tudo tem características diversas da outra jabuticaba, ou seja, da fruta original. Esta árvore já existia desde que foi erradicada a vegetação original. Não se sabe ao certo a que gênero fruta pertença, pois muitas pessoas a experimentaram e constataram de que se trata de variedade de fruta com sabor extremamente amargo. Não se sabe mesmo se tem alguma substância de propriedade medicinal ou venenosa. O próprio sabor da fruta é obstáculo para experiências práticas.

- Mas podemos levar alguns frutos para semearmo-los e estudarmos com entendidos em botânica, buscando a que grupo vegetal pertence e se suas propriedades têm algum poder de cura de alguma enfermidade?

- Se é isto que desejam, colham quantas quiserem sem quaisquer ônus, bastando que de dêem notícias assim que souberem de que fruta se trata.

Colhemos quantidade suficiente para encher uma caixa de papelão existente no compartimento de bagagens do nosso veículo.

Até a data atual, não houve qualquer resposta que dirimisse esta dúvida: seriam jabuticabas amargas? Amargas são mesmo. Resta saber se são realmente jabuticabas.

UMA FAMÍLIA DE BEM-TE-VIS

Na primavera passada ocorreu o acasalamento destes simpáticos bem-te-vis, frequentando postes, árvores e telhados, tanto do prédio em que residimos, quanto nesses localizados nas imediações. Víamos que esses pássaros faziam um vai vem entre quintais adjacentes, trazendo sempre presos aos bicos pequenos fragmento de capim e de ramagens obtidos na vegetação das redondezas. Tudo era levado até um transformador de energia elétrica, localizado em frente a uma clínica de diagnóstico por imagem, incessantemente.
Também expulsaram os gaviões, assíduos frequentadores das coberturas – terríveis predadores de pássaros menores.

Podia-se perceber que o casal de pássaros preparava ninho para depositarem os ovos de onde nasceriam seus descendentes e isso durou quase um mês. Depois houve a postura dos ovos, passando a serem chocados num processo de incubação, objetivando desenvolver os embriões, a partir da fertilização feita durante cópulas realizadas na fase do acasalamento. Para fazer com que os embriões se desenvolvessem havia necessidade de calor constante, mantido mediante a transferência do calor dos corpos das aves – tarefa revezada sistematicamente com a presença constante de um membro dessa família. Um permanecia no ninho, enquanto o outro saía à cata de alimento e de água e, às vezes, pousava num poste em frente à varanda frontal do nosso apartamento e me fitava como se quisesse me dizer algo – falava, sim, na sua própria linguagem. De nada adiantaria que eu lhe dissesse alguma palavra – não havia, mesmo, como nos entendermos. Depois desse intervalo o animalzinho alado rendia seu companheiro (a?) e ocupava novamente o ninho, sempre se revezando.

Num desses revezamentos, o casal se encontrou num poste próximo ao ninho, cantaram freneticamente ao mesmo tempo, como se discutissem a demora da troca de plantão ou, talvez, celebrassem alguma novidade ocorrida no ninho. Essa rotina continuou por tempo de quinze a vinte dias, depois, observando-se o comportamento, embora não se pudesse visualizar, podia-se concluir que havia novidade. Certamente as novas tarefas compreendiam buscarem alimento para si e para os filhotes que teriam nascido. Novamente esse vai e vem se tornou rotina por cerca de vinte dias e, nos dias finais, já se podia ouvir sons vindos daquele transformador de energia elétrica, tornado ninho, coisa interrompida numa manhã, quando vi mais bem-te-vis voando baixo de um arbusto a outro nas jardineiras próximas do prédio e em quintais de edificações próximas.

Por mais um dia uma ou outra ave desse grupo comparecia, como se estivesse a prestar assistência a algum filho, talvez em dificuldade de alçar vôo definitivo. Depois disso as aves desapareceram, deixando saudades e falta de proteção a outras aves vulneráveis aos ataques de predadores na vizinhança. Enquanto os bem-te-vis estiveram na área expulsaram os terríveis gaviões, que, a qualquer momento poderão retornar e deixar as rolinhas freqüentadoras do local desprotegidas e inseguras.

sábado, 29 de janeiro de 2011

ARARAS CANTORAS

É verdade! Nona Ágata se encontrava em nossa casa aqui na Praia da Costa, passando alguns dias nos visitando.
Casualmente fui ao “Extra Plus” comprar algumas coisas para abastecer nossa despensa, pois com visitas em casa, não se pode deixar faltar coisas básicas. Ao chegar ao estabelecimento deparei-me com Alberto Demuner, que me dizia, dentre outras coisas, que viera de carona com Tonim Mattedi. Este veio com o objetivo de encontrar-se em sua casa, nesta localidade, com seus irmãos, todos eles filhos de Eugênio Mattedi, mas, de modo especial, com um de nome Isaías.
Convidei Alberto e seus filhos Sebastiãozinho e Toninho para chegarem até nossa casa, pois nona Ágata, eu tenho certeza, gostaria de vê-los.
Ouvi tagarelices nas proximidades. Observei e constatei que um casal de araras era o responsável conversava, reclamava e fazia críticas aos frequentadores do estabelecimento – ninguém lhes dispensava algo para comerem. Preocupei-me com as lamúrias dos pássaros, sem saber exatamente o que fazer. Perguntei ao Alberto:
- que comem estes animais? Ele e seus filhos me responderam:
- Os pássaros não estão a pedir comida, isto sim, pedem cerveja.
Peguei uma garrafa de cerveja e despejei num copo e servi aos psitacídeos, cuja reação consistiu numa demonstração de efusiva alegria. Pareciam esboçar gestos de gratidão, porém o mais inusitado ainda estava por acontecer. Não é que os pássaros me chamaram para pedir que eu lhes arrumasse um arranjo musical para que pudessem cantar e completar a alegria que os contagiava. Não foi difícil atendê-los, pois uma dupla de cantores sertanejos, que se apresentou no estabelecimento, deixou alguns pertences, dentre os quais, farto material musical. Remexi naquelas coisas e separei um arranjo de uma música composto de letra e notas musicais. Entreguei essa coisa aos pássaros e eles puseram-se a cantar em dupla, um fazendo e primeira voz, enquanto o outro a segunda e aí não parou mais. Nesse embalo de gostosa música entreguei-me a um estado momentaneamente prazeroso, só terminando quando, finalmente, acordei e nada mais vi de todas as coisas relatadas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MUTIRÃO JURÍDICO NA MADRUGADA


Deveríamos viajar para a cidade de Recife para realizarmos trabalho de defesa em processos a fim de desafogar o Judiciário do Estado de Pernambuco. Nosso grupo era composto de vários advogados, todos formados numa turma considerada “especial”. Para realizar essa missão tínhamos nada mais que dois dias. Tempo em que deveríamos juntar todos os meios para desempenhar esse trabalho. Havíamos recebido, endereçados a cada um de nós, determinados processos objetivando dar agilidade aos trabalhos. Assim chegaríamos ao destino, munidos de petições, devidamente embasadas em julgamentos análogos; jurisprudências como súmulas de tribunais de justiça e do próprio Supremo Tribunal Federal, especificamente para cada dossiê.

Não havia tempo a perder para que pudéssemos alcançar o destino no tempo previsto. De automóvel, seria praticamente impossível chegar a tempo. Neste caso algum colega sugeria que viajássemos por via aérea, procurando alternativa de obter passagens de classe econômica, talvez mesmo em algum compartimento em aeronave destinada ao transporte de cargas. O importante é que chegássemos a tempo; não deveríamos nos deixar abater por causa da utilização de recursos de transporte menos nobre – um bom advogado é aquele que alcança o objetivo no prazo e não deixa escapar as oportunidades de recursos, aliás, um jurista não pode cometer “cochilus juridicus”, sob pena de causar danos aos clientes.

Com a chegada a Recife não se tinha tempo a perder: deveríamos apresentar-nos nas seções judiciárias próprias por onde tramitavam os processos que nos foram confiados.

Ao apresentar-me na secretaria da Primeira Vara, surgiu-me um problema: Não tenho a identidade da OAB; sou recém formado e ainda não fiz os exames da ordem. Na realidade sou apenas bacharel em ciências jurídicas; só serei considerado profissional completo quando puder ostentar tal identidade e não há como solucionar o impasse: viagem perdida e prejuízos. Mas, pensando bem sempre existe alguma solução por mais complicada e grave que seja a situação. Ainda no hotel em que nos hospedáramos, um recepcionista deu-me um cartão com endereço e telefones de um profissional capaz de solucionar a questão. Que vergonha! Não é que saí em busca dessa solução, imediatamente tornada real com fotografia, número de inscrição; tudo feito em papel da mesma qualidade com que são feitas as identidades verdadeiras da OAB, inclusive com os carimbos idênticos e assinaturas falsas, incluindo a minha.

Ao apresentar-me entreguei minha identidade (falsa), que, recolhida e apresentada ao juiz de plantão, ele, prontamente ordenou que o oficial de justiça plantonista fizesse flagrante e me levasse à prisão.

Que surpresa eu tive quando reconheci a chefe da carceragem: ela simplesmente era minha esposa e me dizia: vire para o seu lado e durma; você está sonhando outra vez.



domingo, 16 de janeiro de 2011

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RETORNO AO BLOG

Depois de mais de dois meses em que estive ausente deste espaço, faço agora meu retorno triunfal. Enquanto descansava muita coisa aconteceu: sonhos, fantasias e coisas mais que reais.

Não consegui memorizar todos os meus sonhos, mesmo porque não houve nada de especial; nem mesmo fantasias dignas de nota; coisas reais são tantas: parei de escrever e de postar por causa do imenso cansaço a que estive exposto, mas registro enfermidades em pessoas de familiares próximos, trazendo muitas apreensões e expectativas. Felizmente quase tudo solucionado, exceto algumas pendências. Não posso deixar de registrar acontecimentos relacionados aos nossos pássaros frequentadores da fiação elétrica na rua frontal ao nosso apartamento. Ali pousam diariamente algumas dezenas de rolas na busca do alimento que lhes oferecido por um de nossos vizinhos.

Por várias vezes, algumas dessas rolinhas choraram-se violentamente nas vidraças e paredes do nosso prédio, uma fatalidade em que muitas delas perderam a vida. Isso acontecia diante do pavor sofrido nos ataques levados a efeito por famintos gaviões. Sentíamo-nos penalizados diante do possível extermínio desses pequenos e indefesos pássaros; mas, enfim, veio o socorro a essas vítimas aladas. Veio também do céu, como vinham os gaviões. Minúsculos bem-te-vis empreenderam ataques aéreos sistemáticos às predadoras aves de rapina e as afastaram do local. Desse modo a paz voltou a reinar nesse pequeno mundo das rolinhas e os protetores bem-te-vis passaram a marcar presença constante.

Nosso vizinho que cuida de alimentar e proteger as rolinhas consultou veterinário, buscando orientação a respeito de que alimento poderia oferecer aos protetores bem-te-vis para que eles permanecessem na proteção das suas estimadas rolinhas. O veterinário disse-lhe que se fosse possível atraí-los a determinada localização, o alimento que lhes poderia servir seria a ração destinada aos cães. Descobriu-se que nossos amigos bem-te-vis faziam guarda, não apenas às rolinhas, mas especificamente ao ninho feito no alto de um posto onde há instalado um transformado de energia elétrica. Depois que seus filhotes estiverem aptos a voar, eles sairão da área na companhia dos pais e aí as rolinhas estarão novamente expostas à sua própria sorte. Esperemos para ver.

Brevemente estarei de volta.