sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

EMPREGO PRIVILEGIADO

Evandro, filho de ex-combatente, natural de São Paulo do Rio Perdido, convidou-me a visitar aquela região para uma rápida passagem pela casa do Alberto, primo do seu pai. Primeiramente passamos pela BR-101 e depois enveredamos pela BR-259, chegando a Colatina. Nesta cidade convidou um rapaz para fazer-nos companhia. Aos poucos eu percebia que, pelas conversas de Evandro, ele dava conta de que grande empreendimento estava para chegar ao Estado, falava no geral sem particularizar os assuntos, empregava linguagem metafórica, de tal modo que nos motivasse a meditar sobre conteúdos desses diálogos
Em Colatina, como era horário de almoço, o restaurante “Drink” era opção certa, pois ali a casa era tradicionalmente famosa pelos serviços especializados no fornecimento de peixadas e onde, sempre, como de costume, servia as famosas lagostas de água doce, afora pratos elaborados com cortes especiais de carne bovina, suína, de ave e tipos de iguarias exóticas provenientes de caças da rica fauna da mata atlântica. Foi boa opção, pois além das iguarias que saboreamos, desfrutamos do conforto da casa em agradável ambiente climatizado. De conversa em conversa, Evandro fornecia pistas sobre atividades que seriam implantadas pelo novo empreendimento, porém, quando indagado, ele falava de maneira a nos explicar tudo com sutileza e afirmações evasivas, deixando-nos mais dúvidas que certezas.
Nós viajávamos em três pessoas: Evandro, um rapaz de quem não lembro o nome e eu. Quando nosso principal personagem falava, para cada um de nós, ele tinha linguagem diferente, usava sempre que possível os jargões de cada atividade profissional nossa. Assim, cada um procurava se comunicar, como estivesse falando com pessoa de atividade comum à sua. Comigo, ele falava sobre contabilidade, auditoria, administração financeira, assunto de economia, matemática e estatística (aí é que se podia, embora não clara, ver a intenção do nosso entrevistador em relação a cada um de nós). Quanto ao colega, que tinha como perfil profissional, a atividade de vendas e promoções, Evandro se mostrava profundo conhecedor das suas habilidades e ele, neste caso, sentia-se a vontade para expressar suas experiências.
Mas nossa viagem prosseguiu, passando por São Roque do Canaã, São João de Petrópolis e Santo Antônio do Canaã, local onde paramos por alguns minutos para prosseguir viagem no sentido de Várzea Alegre, através de moderníssima via pavimentada e inaugurada pelo governo do Estado do Espírito Santo recentemente.
De Várzea Alegre, rumamos no sentido de São Paulo do Rio Perdido, pois Evandro desejar passar por essa localidade que lhe trazia boas recordações da infância que viveu ali. Viu tudo diferente: o grupo escolar em que cursou as primeiras séries do antigo curso primário, hoje, não passava de depósito que servia a um comerciante instalado num prédio de dois andares construído, fazendo frente para a estrada, ainda de chão. A igreja já não era a mesma. Fora demolida e uma edificação moderna ocupava seu lugar. O cemitério, em que assistiu a inúmeros funerais, exibia a mesma fachada, embora no seu interior, muitos jazigos havia, além daqueles antigos do seu tempo de infância, e um rio que se formava de pequenos cursos de água provenientes daquelas montanhas, hoje, nada mais era do que pequeno córrego que se seca quase que completamente durantes os meses secos. Ali era o local predileto para pescar grandes traíras e bagres e eram grandes mesmo!
Subindo agora por uma estrada nova em que somente pedestres e cavaleiros a utilizavam antigamente, chegamos à casa do primo de seu pai, o Alberto, irmão de Gercino, Laurindo e Catarina. Chegamos e fomos recebidos por Alberto que nos convidou a entrarmos em sua casa. Tomamos água para aplacar a sede e nessa casa podíamos apreciar o frescor da brisa que vinha das bandas de alguns capões de mata atlântica, ainda restantes, abrigo natural de pássaros como os laçaris, maracanãs, juritis, corujas e os temíveis gaviões, cujo pio faz pássaros e galináceos sentirem-se aterrorizados.
Catarina, dirigindo-se ao primo Evandro, indagou se aceitaríamos lanchar com eles, costume familiar nesse horário de 15 horas, - claro, disse Evandro, coisa que nos aliviou, pois, realmente, sentíamo-nos famintos, depois de longas horas por essas estradas, quando de terra, poeirentas. E foi assim que Catarina nos serviu café, pão caseiro, queijo e leite, resultantes derivados da ordenha de vacas ali nessa propriedade. Depois de satisfeitas nossas necessidades de alimentos, cuidamos das conversas com nosso anfitrião e, em dado, momento em que eu e Evandro tivemos oportunidade de conversar a sós, ele me fez proposta de emprego nessa empresa que se instalaria brevemente em solo capixaba. No meu caso, ele me propunha ocupar um cargo de contoller, abrangendo toda a administração financeira e contábil, controlar custos e fluxos de caixa para acompanhar o movimento e de receitas e despesas e mais uma série de encargos de natureza contábil. Perguntei: - e o salário? Respondeu-me: de 15 a 20 mil reais, neles não incluídas as despesas de viagens, cujo ônus estaria a cargo da empresa. Perguntou-me: - aceita? – Sim, aceito, respondi. - Então, assim que estiver na matriz, cuidarei da oficialização do seu emprego e logo, logo, lhe darei notícias. – Há detalhes que combinaremos oportunamente, quanto ao local em que será sua sede de trabalho, que poderá ser em qualquer cidade do Espírito Santo, de preferência, dessas da região centro serrana. Quanto ao rapaz que era entrevistado com vistas a fazer parte de uma equipe de vendas, nada soube a respeito do salário que lhe foi proposto. Ele, ao que me parece, chefiaria o departamento de vendas, formando uma equipe de funcionários subalternos ao seu redor.
Nessa época de ascensão da economia, os salários são generosos, mas as exigências de experiência comprovada e da demonstração de conhecimentos e eficiência nos cargos é condição normal e obrigatória.
De Várzea Alegre, deveríamos retornar a Vitória, mas entardeceu e a noite chegou celeremente. Com isto, resolvemos aceitar a hospitalidade e pernoitaríamos na casa de Alberto.
Ao amanhecer do dia seguinte percebi que dormia confortavelmente na minha cama. E o emprego de 20.000 reais? Bem, talvez no próximo sonho, esse sonho possa se tornar realidade. Quem sabe...

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