sábado, 14 de março de 2009

PROFESSOR SOFRE REJEIÇÃO

Na noite passada acordei por volta de meia noite, tomei água e voltei à cama e dormi novamente. E foi aí que tudo começou: Eu era professor numa faculdade instalada num longo prédio sobre uma elevação de rocha granítica. Já havia ministrado algumas aulas de estatística a uma turma de alunos que cursava o quarto período, parecendo-me que num curso de economia, ciências contábeis ou administração. Não me lembro mesmo qual era o curso. Essa disciplina não me deixava à vontade: embaraçava-me com cálculos aritméticos de médias simples e ponderadas, mediana, moda e aqueles cálculos da equação da reta feitos nos quadrantes cartesianos, tabelas e gráficos em barras, em colunas, círculo, curvas parabólicas e hiperbólicas, radiciação, potenciação, logaritmos e outras coisas mais. Ainda, além disso, muitas definições teóricas completavam os conteúdos programáticos dessa disciplina.
Nessa noite cheguei à faculdade com pequeno atraso devido às dificuldades do trânsito caótico da Capital. Corri apressadamente por uma escada que me levava para o andar superior do prédio. Lá chegando, percebi a inexistência de alunos em sala de aula. Estranho! Isso teria ocorrido só por que eu me atrasei por alguns minutos? Olhei para o pátio e observei que meus alunos se achavam concentrados à frente da escola e faziam ruidoso protesto, exibindo cartazes, apitos, buzinas e gritavam uníssono: - “Fora professor!” reiteradamente a intervalos regulares assim: fora professor analfabeto, fora professor analfabeto, fora... À frente da turma liderando o movimento identifiquei meu colega de faculdade, José Spada, liderando e incitando meus alunos nesse movimento contra este professor. Mesmo percebendo a hostilização que sofria, desci as escadas, indo até o pátio na tentativa de neutralizar aquelas ameaças, agora tornadas mais graves porque me expunha a sofrer agressões físicas. Aquele som repetido: fora professor, fora professor, fora... Era constante e funcionários ligados à direção da escola acionaram a força policial na tentativa de conter o tumulto que se havia instalado. José Spada aos berros vociferava: - “substituam este professor por alguém capaz! Este não tem competência. Permaneceremos aqui até que a faculdade nos atenda!” E aquele “fora professor” continuava e ecoar nos meus ouvidos, causando-me intenso sofrimento de ansiedade e de profunda frustração.
Finalmente a força policial chegou numa viatura do tipo rádio-patrulha composta de três policiais militares. Aí toda a turma passou a fazer ecoar: - “prendam este professor analfabeto e incapaz”. Aproximei-me dos policiais e lhes oferecia as mãos para que eles as algemassem; eles me disseram, depois de uma conversa com as lideranças do movimento que todos eles queriam falar a só tempo. Não havia mesmo como resolver o impasse no local. Os policiais solicitaram a mim e ao líder José Spada para que os acompanhasse até o distrito policial mais próximo para prestarmos esclarecimentos. Sobre os pretensos pedidos de prisão, os policiais disseram de forma convicta: “não temos motivos para prender ninguém, pois não há evidência de haja a prática flagrante de quaisquer crimes, tal como definem as leis”.
Nisso acordei tomado de ansiedade e respiração ofegante, tomei um copo d’água, retornei à cama e adormeci.

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