segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

PROPLEMAS NA MADRUGADA

Desta vez Licínio Ferreira residia em Cariacica e notícias vindas de lá indicavam a existência de problemas com a saúde porque retornara ao uso de bebidas alcoólicas, quadro que se agravava, pois se tornara usuário dependente de drogas entorpecentes inaláveis, de uso oral e de injetáveis.
Outro agravante na vida de Licínio, agora descasado, por ter se separado da Maria Ribeiro. Fato que contribuía para seu retorno ao uso de bebidas alcoólicas, conforme fizera no passado. Agora, também, não contava mais com a presença de Cidelene, falecida há três anos. Essa irmã impunha-lhe limites, fazia com que tomasse medicamentos capazes de inibir seu vício de dependência do álcool. Dois fatores contribuíram para que chegasse a esta situação: a ausência da irmã e da esposa. Também, durante a constância de dois matrimônios não foram gerados filhos, tornando Licínio virtualmente solitário.
Anésia e eu chegamos ao local em que residia num casebre à beira da rodovia que liga esta Cidade de Cariacica à de Santa Leopoldina. Ali Licínio compartilhava a moradia com dois elementos notoriamente ligados ao crime, quer como traficantes de drogas, praticantes de furtos e roubos. Isso o que se tinha notícia, fora outros costumeiramente acompanhados nesses casos. Ao chegarmos ao local pudemos ver a situação lastimável que Licínio se encontrava: desnutrido, demonstrando visíveis sinais de alucinação, ora demonstrando euforia, ora ansiedade e depressão. Era lastimável sua situação e tudo indicava que a tisiologia antiga retornava, agora, com força maior, devido ao estado de profunda desnutrição aparentada. Se não bastasse todo esse quadro, havia comentários de que seria implacavelmente morto por causa de dívidas de drogas. Preferimos inicialmente nos afastarmos do ambiente, mas aquela cena, a lembrança de Cidelene e de seu pai, meu compadre Sebastião me fizeram pensar na tomada de alguma atitude capaz de minorar a situação.
Retornei ao local para fazer a locomoção do enfermo para hospital do Sistema Único de Saúde, mas a remoção haveria de ser feita por uma ambulância, coisa tornada impossível, pois não havia uma só disponível. Um daqueles indivíduos que dividia a moradia do casebre encontrou solução: Licínio seria removido num camburão da Polícia Militar. Neste caso, para acompanhar o enfermo, somente policiais seriam admitidos. Não sei como, mas consegui um fardamento completo para eu usar nessa operação. Vesti aquela farda cinza escuro, e fui até o bairro de Jardim América para aguardar a passagem da viatura para nela embarcar. Sem que eu soubesse me postei frente a um distrito policial e logo fui notado que meu disfarce não era perfeito, como pude constatar na forma como um policial me observava. Aproximei-me dele e expliquei qual a razão do disfarce, não me criando obstáculo, exibindo apenas certo ar de desconfiança. Depois, chegou o delegado e eu tive que repetir toda a história e estive postado à frente dessa delegacia, enquanto aguardava o camburão que deveria conduzir Licínio ao Hospital de Polícia Militar do Estado do Espírito Santo. Enquanto aguardava, estive tomado de ansiedade, sentia dores de cabeça e muito frio. A viatura policial não chegou e tudo acabou quando soou nosso despertador, porque, na realidade, nada aconteceu.
Mais tarde, depois da nossa caminhada no calçadão da Praia de Costa, entendi o porquê da minha ansiedade e cefaléia: estava em crise hipertensiva, conforme comprovado em aferição.

Um comentário:

  1. Sei bem o que é ansiedade e cefaléia em crise hipertensiva!! Vô... ao ler esse artigo, nossa, que saudade que me "bateu" agora da Cid... Ela era um complemento em nossa família; sempre terei boas lembranças assim!
    Ah, sem esquecer de elogiar sua escrita vozão! Cada vez melhor! Saiba que a cada dia que passa, a cada artigo lido, esse seu neto se torna mais fã do avô Pesquisador, Escritor, Amigo, Professor (etc) e amado avô que tem! Certa vez me disseram que a gente não escolhe a família em que nasce, mas Deus não poderia ter sido mais bondoso do que foi ao escolher a minha!
    Parabéns vô! Beijão desse seu neto que te ama!
    Arlan Taufner!

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