sexta-feira, 14 de novembro de 2008

VISITA AO PALÁCIO EPISCOPAL

Em recente visita que fiz ao bispo, pude constar algumas coisas que ocorrem no quotidiano desse prelado: enquanto cuida de suas obrigações sacerdotais, dentre as quais as leituras obrigatoriamente feitas por todos os sacerdotes e constantes orações, inclusive o terço; outras tarefas consistem na administração, baixando orientações, recebendo notícias dos atos dos vigários das paróquias jurisdicionadas à diocese e cobrando resultados dos programas eclesiásticos de evangelização, do cumprimento do calendário e das liturgias que lhe são próprias.
Confesso que não foi intencional presenciar coisas relacionadas a assuntos confidenciais e de conhecimento restrito de padres, de presidentes de comunidades, de coordenadores de pastorais, assuntos considerados privativos; presenciei por me encontrar no gabinete episcopal e, a mim, nada do que era tratado pelo bispo e seus auxiliares, dizia respeito. Havia duas secretárias, irmãs de caridade; assessores sacerdotes e servidores leigos, executando tarefas meramente burocráticas. Pois é, presenciei o bispo recebendo notícias ao telefone, que lhe causaram visível desagrado, ao que, agia prontamente, determinando o afastamento de algum sacerdote infrator do código canônico. Não foi apenas um caso; foram vários, deixando o bispo sempre mais insatisfeito com seus colaboradores. Uma coisa é certa: não tomei conhecimento desses sacerdotes punidos por terem cometido faltas graves, nem conheci o teor de tais indisciplinas. Eu percebia: o bispo era tomado de mansidão própria dos santos, revezada com atitudes enérgicas e impetuosas. Eu pensava: não é que o bispo tem o temperamento em algo parecido comigo, ora calmo, afetuoso; ora enérgico e impetuoso. Nos intervalos, ele se mostrava afável, me conferindo aquela atenção própria dos pais para com os filhos. Em determinado momento, ele me convidou a receber uma bênção especial, colocando-me uma medalha de Santo Antônio sobre minha testa e proferindo palavras de cujo teor, eu não fui capaz de decifrar, pois eram ditas em latim. Dessa língua tenho vaga lembrança quando estive interno num seminário de padres capuchinos.
O bispo continuava a cuidar dos seus afazeres, quando comentou que havia recebido uma notícia vinda diretamente do Vaticano, dando-lhe ciência de que seria substituído por outro bispo, cabendo ao substituto propor sua excomunhão. Isso deveria ser fruto de denúncia de como tratava seus subalternos com rispidez ou outros quaisquer motivos, que a mim não competia saber. Uma das secretárias, quando eu chamei o prelado: “senhor padre”, ela me interpelou dizendo: “bispo!”.
Isso tudo teria ocorrido num Domingo à tarde. Anésia não me acompanhou nessa visita, pois cuidava de dar atenção às cunhadas Arlete e Zenóbia e, quando se preparavam para retornar a Várzea Alegre, Distrito de Alto Santa Maria, Município de Santa Teresa para onde nós deveríamos retornar, eu lhes disse que minha vista ainda não se havia encerrado, podendo eles partir. Mais tarde, eu iria de ônibus até Santa Teresa e, caso não os alcançasse, eu tomaria um táxi para chegar ao destino. No exato momento em que me despedia do bispo, ele ainda me aconselhava a que não agisse por impulso, como ele o fizera na minha presença, como se soubesse, que meu perfil em muito se assemelhava ao seu. Toquei naqueles ombros desse ancião obeso para o abraço de despedida, enquanto ouvi o som do despertador do celular, que é programado por Anésia. Não tive dúvida: Eram seis horas da manhã e eu deveria me apressar em preparar nosso lanche matutino como o fazemos costumeiramente.

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