quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

VÁRZEA ALEGRE NAS MADRUGADAS

Consecutivamente por duas vezes estive visitando Várzea Alegre. Na primeira, cuja versão está mais ligada à atualidade, chovia muito, e, como era costumeiro, formavam-se extensos lamaçais pelas estradas que serpenteiam pelas baixadas da localidade.
Lembro-me que nesta visita, conversei horas seguidas com Hilton Corteletti, fazendo-me companhia nas extensas caminhadas que fazíamos. Falávamos sobre as antigas lavras de águas-marinhas, desde a da Pedra da Onça a outras menos importantes como a lavra da família Roccon, a do Rabo do Tatu e outras... Toda a riqueza resultante dessas prospecções, suas fortunas que se esvaíram, tal como prêmios lotéricos que, com a facilidade que chegam, também se esvaecem.
Falamos sobre coisas diversas: as grandes plantações de milho, o fim da cafeicultura e seu ressurgimento; a nova atividade do cultivo de hortaliças e o pioneirismo ocorrido nas propriedades da família Corteletti e mais coisas... Assim, essa madrugada se foi.
Na próxima vez, este se fez em tempo pregresso mais afastado da atualidade. Viajei para Várzea Alegre, apenas eu. Anésia, nem os meninos se encontravam nessa viagem. A família dos meus sogros ainda residia naquela antiga casa em que funcionara moinho, máquina de pilar arroz e de pilar café. Lá estavam meu sogro, minha sogra, a Bel, o Preto. Esses são de quem me lembro. Eu portava grande mala de couro, dessas apropriadas às viagens e nela havia quantidade significativa de roupa: ternos, gravatas, camisas sociais, shorts, toalhas e tudo o mais que se carregue numa dessas malas.
Lembro-me perfeitamente de dona Maria, minha sogra com aquele coque que prendia seus cabelos longos, começando a parecer-lhe os primeiros fios brancos; seu constante trabalho naquela minúscula e quente cozinha movida com fogão a lenha, onde preparava constantemente as delícias de comida, condimentada apropriadamente e repleta de banha de porco; óleos vegetais se usavam, naquele tempo, apenas para as saladas cruas.
Meu sogro Domingos vindo da roça com aquelas roupas que os agricultores usavam antigamente, portando sobre a cabeça um velho e amassado chapéu de palha.
Senti falta de Anésia. Porque ela não estava ali? Teria saído? Não me lembro de que tivéssemos feito referências à sua pessoa. Claro que Domingos Augusto e Edgard não estavam lá; ainda não haviam nascido, sequer Anésia e eu éramos casados naquele tempo.
A certa hora, eu vesti um terno preto e saí caminhando por aquelas estradas repletas de barro, fazendo com que meus sapatos fossem grudando aquela terra lamacenta, tornando-se pesados e dificultando a caminhada que fazia em direção ao patrimônio. Certamente lá me estaria com minha namorada, com quem desejava me encontrar. Soube depois, ela não se encontrava em casa; ensaiava cânticos para uma festa que aconteceria brevemente. Apesar das altas horas da madrugada, fizemos coisa incomum para aquela época. Onde já se viram namorados se encontrarem a essas horas, mas foi assim que aconteceu. Na madrugada mesmo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário