sexta-feira, 24 de julho de 2009

HISTÓRIAS REAIS?

As farmácias
Quando me encontro em Várzea Alegre, naturalmente meu companheiro para atividades garimpeiras, viagens às cidades vizinhas e outros programas de lazer, sempre foi meu cunhado e compadre Alfeu Scotá, o Preto, como é mais conhecido na região. E, desta vez, não foi diferente: eu me preparava para retornar à Capital, quando ele insistentemente me convidava para conhecer uma farmácia instalada naquela velha casa – a primeira residência da família Scottá em Várzea Alegre. Dizia ele que tal drogaria, instalada por sua filha, formada em farmácia e bioquímica, tinha uma organização estrutural para atender via telefone, fax e internet a toda a região de Várzea Alegre e Adjacências. Era, na verdade, um estabelecimento singular, tinha instalação localizada num grande barracão ao ar livre. Suas prateleiras, originalmente construídas em madeira rústica de cor escura, semelhante àquelas das estacas existentes nos pastos de bovinos. Via-se embalagens de papelão por todos os lados, papel pardo para embrulhos, fitas adesivas e cordões; três microcomputadores e medicamentos, espalhados por toda parte, completavam o ambiente. Tudo mais se parecia com uma distribuidora; menos com uma farmácia tradicional.
Cheguei a tal farmácia, depois de uma série de acontecimentos e imprevistos: Convidei Preto para irmos ao local no meu Fusca. Neste não podia ser: estava sem os bancos e tapetes, porque Tico Bieth, depois de fazer-lhe revisão mecânica, cuidava de uma limpeza completa. Sairia dali cheirando a limpeza.
Tive que interromper uma viagem, a frete, que faria meu caminhão. Apressadamente, tomei a direção desse auto e pusemo-nos a caminho, atravessando a vila de Várzea Alegre, a ponte sobre o Rio Santa Maria e, logo, estaríamos trafegando por uma estrada que era de lama só. Na primeira curva, o carro deslizou e batemos num barranco tão encharcado, que sequer pode-se sentir o impacto. Seguimos em frente e assim que passávamos frente à casa do Orlandinho, tocando numa árvore, foi ela arrancada pelas raízes, sem que sentíssemos qualquer impacto. Mais uma subida por uma trilha, que não se podia chamar de estrada, enfim chegamos diante da tal farmácia, cuja descrição já fora feita acima.

Várzea Alegre, sempre me traz memórias de algumas farmácias: a primeira foi a que pertencera a Acelino de Almeida, seguindo tivemos a de Alberto Badke, a de Leandro Sepulcri, a de Napoleão Baitela, a que tivemos em sociedade com João Romélio Zonta, aquela em que fui titular, depois transferida a Genílio, a Atílio Bianchi, a Eliezer Fagundes e as atuais: uma pertencente a Wanderlei e a última a Magali. Tudo isso, quer seja durante meus passeios reais ou estas fantasias que ocorrem nas madrugadas, não consigo me libertar das memórias, tanto das farmácias verdadeiras, como destas que vivo na fantasia da minha imaginação do inconsciente.
Hóspede da família Correia
Resolvi me hospedar numa pousada mantida pela família Correia – João e dona Mercedes – pais de Justo, de Clóvis e de Flora. Eles residiam numa grande chácara, numa área descampada do município de Vila Velha. Habitavam uma choupana fechada com taipa, apenas madeiras naturais entrelaçadas, desprovidas de fechamento completo. O coberto se fazia de palha de palmeiras naturais e capim sapê. Nas imediações havia instalações destinadas a hóspedes. Eram várias. Uma delas foi-me reservada e me entregue uma chave que exibia o número “5”, pendurado numa plaqueta metálica, com o algarismo vazado.
Quando cheguei a essa pousada, deparei-me com João, Mercedes e sua filha Flora a exibirem olhares tristes, carregados de decepção por causa de terem perdido a celebração da missa do dia por causa de Odila e Clóvis ter permanecido em visita até altas horas da noite, causando perderem o horário de irem à igreja. Assim, havia mesmo o sentimento de frustração por não terem podido exercer o que julgam o sagrado dever católico de comparecer à missa do domingo, obrigação inerente aos católicos praticantes, conforme o costume dessa família.
À tarde, depois de realizar caminhadas, em que me juntei a outros hóspedes, recolhi-me para o descanso: Primeiramente deveria banhar-me numa bica de água cristalina e na temperatura ambiente; fria porque estávamos em plena estação do inverno. Aquela água fria, jorrando copiosamente, fez-me sentir refeito do cansaço, mas o sono me levou à procura do meu aposento – uma acomodação basicamente de esteira de madeira guarnecida com colchão de capim e de travesseiros almofadados com o mesmo material vegetal de folhas secas de capim: tudo muito macio; só não havia lençóis nem cobertores e fronhas nos travesseiros. Senti frio, nesta primeira noite; nas seguintes, não sei o que senti. Senti certamente o conforto da minha cama e a companhia de Anésia, minha esposa. Também não me lembro de que tenha tido conversas com a família Correia; muito estranho, pois, por coisa alguma deixaria de desfrutar das costumeiras conversas com esses amigos.
Festa na comunidade de São Sebastião do Rio Perdido
São Sebastião é uma comunidade instalada na margem direita do rio Santa Maria do Rio Doce para quem se dirija a Várzea Alegre, distrito de Alto Santa Maria, município de Santa Teresa, (ES). Os habitantes deste lugarejo, resumido por uma igreja dedicada a São Sebastião, casa canônica e um cemitério, postado numa várzea, onde não falta um campo de futebol; mais algumas casas bem edificadas. Assim a paisagem se completa com os habitantes, a maioria, produtores rurais de famílias descendentes de imigrantes italianos.
Por ocasião dos festejos, devia ser a 20 de janeiro de um ano qualquer, de que não me lembro. A localidade, nesse, dia estava repleta de pessoas vindas das localidades adjacentes: de Santo Hilário, do vale do rio Perdido, de Santo Hilário, de Tabocas, de Caldeirão, de Santo Antônio do Canaã, de São João de Petrópolis, de São Roque do Canaã, de Valsugana, da sede do município de Santa Teresa, de toda a região de Várzea Alegre e circunvizinhanças. As festividades compuseram-se de Missa celebrada por um frade capuchinho, seguida de uma procissão, que contornava, além do campo de futebol, o cemitério e um trecho de estrada direcionada a algumas propriedades rurais. No encerramento das comemorações, houve disputa de partidas de futebol e um político de nome Isaías, trajado com terno de linho bege e chapéu de igual cor, fazia contatos com eleitores, estendia cumprimentos e abraços a todos quantos se encontrassem presentes.
Aproveitei a oportunidade para, também, rever parentes e amigos e deliciar-me de iguarias vendidas numa barraca guarnecida por uma lona sobre armação de bambus. Ali havia cerveja, refrigerantes, salgados fritos e doces de coco, de mamão, pés de moleque e, o que não podia faltar: cachaça, vinhos e vermutes. Esse povo, depois de degustar generosamente dessas beberagens compostas de alta porcentagem de substâncias etílicas, demonstrava alegria ímpar, falavam todos quase a um só tempo em altas vozes. Para completar o vozerio, disputavam um animado jogo, que chamam de “Mora”: quatro a cinco participantes vociferam exibindo dedos uns aos outros. Francamente, apesar de pertencer à mesma descendência, nunca entendi tal jogo. Mas o combustível alcoólico fazia com que exibissem exacerbada alegria.
A festa teria terminado lá pélas tantas da tarde, prometendo ocorrer novamente no ano seguinte. Para mim terminou quando escureceu e ao raiar do dia percebi que, naquela noite, não havia acordado uma só vez. Pela manhã, percebi que não sequer saído de minha cama, enquanto todas essas histórias ocorreram.

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