sexta-feira, 30 de maio de 2008

DEPENDÊNCIA DO TABACO

O último maço de cigarros que comprei – um “Hollywood” da Companhia Souza Cruz foi deixado quase completo sobre uma mesa de centro existente na sala de nossa moradia, quando residimos temporariamente numa sobreloja de uma imóvel comercial pertencente a Bento Marchiori, em Colatina. Nunca mais comprei cigarros, nem me lembro que tenha fumado a exceção de, até seis anos após esse fato, fazê-lo instintivamente nos sonhos (ou pesadelos?). Esse fato ocorreu em janeiro de 1975 (há trinta e três anos).
A experiência que completos alguns dias além da metade de minha existência, nos primeiros seis anos em que a dependência ainda não havia sido afastada do meu subconsciente, pois os sonhos me faziam descumprir psicológica e inconscientemente o propósito de me livrar definitivamente da dependência, mas até durante esses devaneios do sono, sentia a repulsa de me considerar indigno do cumprimento do trato que fiz comigo mesmo – não fumar jamais; nem mesmo nos sonhos eu admitia romper tal compromisso.
Dias, semanas, meses e anos passaram e eu tenho diante de minha consciência, diante de meus familiares, diante de todas as pessoas que me conheceram fumante e diante de Deus especialmente, o testemunho do cumprimento de um propósito feito, tomando todas as forças da minha mente como objetivo de me livrar dessa dependência que é nociva ao bolso (um gasto absolutamente dispensável), que é nocivo à saúde própria e a de outrem – algo que não traz benefício algum; apenas podendo induzir a que outras pessoas, com o mau exemplo, também se tornem dependentes.
Como fumante foi dono de vasto repertório de marcas e nomes de cigarros, desde o “Continental” com o qual me iniciei no hábito, “Holywood”, mais suave sofisticado (celeiro dos célebres atores e atrizes de cinema), “Liberty”, “Iolanda”, “Astória”, “Elmo” (quatro marcas de cigarros muito fortes), “Belmont” (marca alternativa) e “Columbia” (perfumado de sabor adocicado) e de outras marcas que surgiam e rapidamente desapareciam do mercado. Havia também os famosos cigarros importados, alguns chegados de contrabando pelo Porto de Vitória ou simplesmente distribuídos pelos marujos de navios estrangeiros que aportavam aqui. Havia até um cigarro que tinha sabor de amendoim.
Mas nem sempre tive disponibilidade para a aquisição desses derivados do tabaco, especialmente quando estudante, gastando daquele minguado dinheiro que meu pai me disponibilizava a longos espaços de tempo. Quando tinha dinheiro disponível, eu comprava meus cigarros; quando não o tinha precisava contar com a generosidade de colegas fumantes. Quando não dispunha de uma coisa nem de outra, não foram raras as vezes que catei guimbas ao longo das ruas (é vergonhoso, mas é verdade!). Na época que voltei a residir na roça, nem sempre tinha como freqüentar vendas e botecos, mas tinha como opção utilizar cigarros feitos com fumo de rolo e costumava fumar verdadeiros charutos feitos por mim e com variedade de fumo muito forte. Quem passou por experiência semelhante entende perfeitamente o que digo.
Preciso não esquecer de como foi minha iniciação: retirei alguns cigarros de nosso empregado Sebastião Gujanski de um maço que costumava deixar em casa para consumir nos dias santificados, pois durante a semana enquanto trabalhava fumava cigarros feitos com palha de milho e fumo de rolo. Acendi um, fumei-o, senti tonturas, dor de cabeça e náuseas. Com o segundo e o terceiro, senti menos sintomas desagradáveis e ao quarto, quinto e outros; os sintomas indesejáveis gradativamente desapareciam e o cheiro do fumo passava a me atrair.
Em 1956, quando fumei o primeiro cigarro o fiz para poder exibir esse hábito como símbolo do glamour da virilidade que conduzia aos homens – exemplo que se podia ver nas cenas dos filmes da época, quando os “mocinhos”, ao conquistarem as belas garotas, exibiam cigarros acesos e expeliam generosas baforadas. Também era constante a propaganda exibida em folders e figuras nas principais revistas da época: homens diante de belas mulheres e reclames publicitários induziam subliminarmente que todo o sucesso no mundo das conquistas se devesse ao cigarro. Essa foi parte de uma cultura que causou e causa continuamente mortes por causa das doenças cancerígenas pulmonares, traqueais, bucais; enfermidades do coração como enfartes; da circulação, como acidentes vasculares cerebrais, hipertensão arterial, aneurismas; enfisemas pulmonares e muitos males graves.
O aparelho respiratório destinado a trocar gases tóxicos nocivos produzidos no organismo pelo oxigênio benéfico à vida; nos fumantes trocam nos alvéolos pulmonares gases tóxicos por outros gases numa mistura de oxigênio e substâncias nocivas como a nicotina e seus derivados – substâncias cancerígenas, hipertensivas, e outras formadoras de trombos causadores das embolias.
Quando resolvi abandonar o vício do tabagismo, convivia com cefaléias constantes e tossia com freqüência, praticamente não me alimentava na melhor ocasião do dia – pela manhã. Aí me bastava um cafezinho para desencadear a seqüência de um cigarro após outro, outros após outros e assim por diante, chegando a fumar três maços num período de 24 horas, exatamente sessenta cigarros!
A continuar nesse hábito levado pela dependência, uma indagação me vem à mente: ainda estaria vivo? Se estivesse que qualidade de vida teria?
Anotei na capa de uma velha agenda uma expressão em que nenhum dos fonemas que compõem a sentença é esquecido, assim: “se é bom deixar de fumar, melhor seria nunca ter fumado”.

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