sábado, 14 de junho de 2008

GRANDE GOLPE?



Parecia estar numa grande casa na propriedade de Hilton Corteletti, em Várzea Alegre, onde se realizava reunião para aderir a um plano de vida com aplicações financeiras. Muitos dos presentes aderiram e eu mesmo fiz um investimento inicial de mais de oito mil reais, cujo total seria de aproximadamente doze mil, assim que totalmente integralizado. Outras pessoas faziam fila para depositar suas participações num local que deveria ser uma tesouraria. Ali havia um entra e sai de pessoas e numa grande sala, uma espécie de auditório. Várias pessoas compunham uma mesa se revezando em explicações e mais orientações aos futuros candidatos a fazerem parte de um grupo que, independendo de carência já estariam, a partir do momento da adesão, cobertos por seguros de vida, de acidentes pessoais, também no caso de insolvência financeira da entidade patrocinadora de tal programa de vida, que compreendia, depois de um período de doze meses, renda mensal vitalícia de um centésimo por um do capital investido, creditados mensalmente e resgatáveis a partir do quinto ano em percentuais de 10% por ano da aplicação, até que fossem alcançados 100%%, ou ao final de 15 anos, o resgate do saldo residual total. No ato da adesão eram subtraídos 30% para resgatar prêmios de seguros, promoverem sorteios e despesas administrativas destinadas ao pagamento do pessoal e de custos diversos.
Um senhor, com aparência de executivo financeiro, explicava minuciosamente os mecanismos de como o capital investido retornaria e a renda poderia ainda alcançar melhores resultados com o crescimento das participações de novos adeptos. Dessa forma cada um dos aplicadores funcionava como agenciador para que a corrente se fortalecesse. Quanto mais adeptos, a capitalização se tornaria mais rentável. Não havia dúvidas, se possuísse mais recursos financeiros não havia, mesmo, melhor opção para atingir ganhos cada vez mais expressivos. Assim ocorreu durante todo esse dia, mas a tarde se aproximava fizeram avisos para que aquela multidão de pessoas que lotava além do grande salão, todos os espaços disponíveis daquela e de outras ruas próximas, se abstivessem de permanecer na pista asfáltica de rodovia que estava a ser pavimentada para que um grande avião pudesse aterrissar, a fim de reconduzir toda a comitiva à Capital, local em que a campanha continuaria no salão do segundo andar do Edifício Presidente Vargas, na Praça Costa Pereira; vago agora depois da transferência do CREV Metropolitano para Jardim América num imóvel cedido pela Cia. Vale do Rio Doce. Antes que o avião pousasse na pista asfáltica da rodovia, o presidente da campanha fazia, ainda, aviso de que, a partir da manhã seguinte estaria atendendo no endereço mencionado, na Cidade de Vitória.
Ouvimos o ronco das turbinas de grande avião, roçando asas nas copas de árvores e palmeiras centenárias existentes na localidade, fazendo da exígua pista asfáltica da rodovia um campo de pouso improvisado. Toda a comitiva embarcou e a aeronave decolou rumo a Capital. No dia seguinte muitos de nós estaríamos em Vitória para aplicar mais recursos, visando, ainda, a melhoria das possíveis rendas, isso por que todos almejavam melhores condições de vida e de renda, garantindo melhores dias no futuro.
Cuidamos de retornar a casa, pois devíamos examinar saldos bancários para aumentar os investimentos, pelo menos eu deveria fazer o pagamento de mais quatro mil reais, totalizando minhas aplicações, se mais recursos disponíveis não tivesse para melhorar minha performance nesses ativos.
Viajamos, retornando à Grande Vitória, examinamos nossos saldos bancários; nada além do que já nos havíamos comprometido seria possível. Tínhamos recursos que nos bastavam para honrar o compromisso assumido e as despesas mensais ainda não efetivadas.
Comparecemos ao Edifício Presidente Vargas, onde, no passado, funcionara a sede do IAPI, o Hotel Canaã e no térreo agências de viagens aéreas de companhias como a VARIG e a TRANSBRASIL, conferindo ao local o fino da aristocracia, com presenças obrigatórias de parlamentares e de outras autoridades da República quando visitavam a Capital do Estado. Depois de uma noite de reflexão toda aquela retórica do grupo que captava recursos para tal plano de vida já não nos parecia tão atraente e correto sob o ponto de vista estatístico e atuarial, pois dinheiro bem aplicado gera rendas, mas a ponto de garantir seguros generosos e igualmente receitas vitalícias, nos parecia tratar-se de falácia.
Isso foi o que percebemos hoje, quando a turma do plano recitava jargões decorados, que não exprimiam axiomas econômicos válidos. Havia coisa parecida e as garantias não eram claramente elucidativas, de modo que representassem segurança. Um ar de desconfiança começou a rondar o meu íntimo de investidor. Aqui havia algo diferente: profissionais das áreas econômicas e do direito questionavam e os argumentos, podia-se notar, não tinham consistência como aquela que sentíramos no dia anterior.
Não tive disposição para liquidar o restante de minha proposta, embora dispusesse dos recursos em espécie. Arrependimento era o sentimento que me assolava, mas devia examinar o contrato e a legislação com prudência. De acordo com a legislação que protege o consumidor existem prazos para o desfazimento do negócio; seria interessante me entender com alguém entendido no assunto e isso é coisa que não nos falta na família: temos mestre e acadêmico de direito, tornando-se urgente consultar essas pessoas.
Nem aguardei o final da reunião deste dia e já me retirava quando fui abordado por aquele indivíduo que liderava o grupo. Ele me pedia informações cadastrais e falava ter percebido que eu havia perdido o entusiasmo pelo negócio e acrescentava que é comum às pessoas quando estão próximas de ganhos sentirem dúvidas e se deixarem-se levar por desânimos passageiros que podem frustrar projetos, resultando em perdas e deixando de participar de ganhos certos; depois o arrependimento pode chegar tarde. Mas não havia nada mais que me convencesse; agora era uma questão de pedir o resgate dos valores já investidos, mesmo que para isso, sofresse algum deságio costumeiro nas liquidações antecipadas.
Embora nada mais funcionasse no Edifício Presidente Vargas, havia presença de muitos colegas do antigo INPS, do INAMPS, outros do IAPAS e alguns colegas de Anésia, quando serviu ali como funcionária cedida ao Ministério da Saúde e ao Estado. Estávamos reunidos com esses colegas na sobreloja, quando foi percebido que uma laje do prédio ameaçava desabar, resultando em pânico generalizado, dispersando todo o pessoal que se encontrava presente: investidores, idealizadores do negócio e curiosos, como é costumeiro.
De qualquer forma, percebi hoje, ainda pela manhã, de que não tenho nada a pedir ressarcimento e nem compromissos a saldar. Nem todo aquele pessoal que povoou minha mente durante essa noite. Mesmo sabendo que isso nada mais foi do que uma das fantasias que me ocorrem durante madrugadas, às vezes noites inteiras.


2 comentários:

  1. Transcrever o sonho é, tamém, uma forma de entendê-lo. E, melhor do sonho, é saber-se "protegido" por pessoas a quem se quer bem, como o acadêmico e o mestre. Muito bom. Virei mais vezes ler seus escritos.

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  2. Jacinta agradeço-lhe a visita e o comentário. Sonhar faz parte do meu mundo fantástico e é reiterado como um filme que exibe diversas histórias. Dou-me ao luxo de registrar na forma escrita os fatos que, sengundo meu julgamento, sejam notórios.
    Continue a me visitar, embora tivesse faltado com a obrigação, tanto de agradecer quanto de comentar a respeito da pertinência do que disse, perfeitamente apropriado a este tipo de texto.
    Obrigado.

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