sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O ANFITRIÃO

Encontrei-me hospedado numa dessas residências do tipo “mansão”, a convite de um senhor, cujo nome não me lembro ou não soube. Nesse local, tudo era grandioso, grandes suítes e, entre as quais, uma me foi disponibilizada. Havia um costume que obrigava a todos: o de sempre estar convenientemente trajados, os homens com ternos completos, gravatas e sapatos sociais. Havia, além do meu anfitrião, um casal de jovens, estes somente eram vistos à noite e muito cedo partiam para locais de que diziam serem seus trabalhos. Fora isso, passávamos dias inteiros, eu e meu anfitrião, era só comer, descansar e pouco conversar, até mesmo, o casal de jovens filhos, quando se encontrasse em casa, poucas falas pronunciavam, eram breves, falando o estritamente necessário. Nem seus nomes, eu fiquei sabendo.
Em algum dia, o dono da casa me convidou para irmos a uma agência do Banco do Brasil, aonde movimentava suas reservas financeiras. Lá tive oportunidade de pagar algumas contas num terminal de auto atendimento, enquanto, o anfitrião era atendido diretamente no gabinete da gerência do banco. Nem ousei acompanhá-lo, porque não devia ser indiscreto, a ponto de não respeitar a privacidade desse meu amigo, embora ele, entendo, tivesse-me deixado a vontade. Mas o grau de confiança permitia que ele me contasse detalhes dos seus negócios financeiros. Exemplos disso, foi confidenciar-me que vendera pequena propriedade por doze milhões de reais, parte para resgatar dívidas originárias do inventário dos bens (espólio), causado pelo óbito de sua esposa. Disse-me ele que, os maiores entraves para divisão dos bens da parceira falecida foram causados por seus dois genros e suas duas noras. Quanto ao casal de filhos, que ainda coabitam com ele, sempre foram cordatos. Apesar de serem econômicos nas conversas, pouco permanecem em casa, por causa das suas ocupações profissionais. E a conversa com o meu anfitrião (cujo nome não me lembro, repito), não parou por aí, ele me revelou mais coisas confidenciais, especialmente de uma namorada com quem tem relacionamento, embora seja sigilo para a família. Depois acrescentou como faz suas aplicações financeiras, ora em fundos de renda fixa, ora de renda varável, em caderneta de poupança, confidenciando-me sua melhor aplicação, a que lhe rende rendas próximas dos juros que os bancos obtém com empréstimos pessoais, assim: quando algum cliente do banco, que seja dono de cadastro confiável, o estabelecimento bancário lhe faz empréstimo com seus recursos, concedendo aval à operação e, com isso recebe juros maiores e diferenciados. Tal fato jamais pode ser comentado: é assunto extremamente confidencial!
Diante dos fatos, eu percebia que ganhara a confiança do meu abastado anfitrião. Assim, retornamos a casa e eu permaneci usufruindo de todo o conforto naquela mansão.
Certa manhã, eu não acordei no horário costumeiro e explique-me ter perdido a hora. Ao que aquele senhor, pura bondade, disse-me que nesse dia não fazia diferença, pois era domingo, dia que se pode permanecer por mais tempo no leito. Nessa manhã chegavam pessoas: muitos homens de idade semelhante à nossa e alguma mulheres, que podiam ser contadas a dedo, parecendo todos solteiros ou viúvos. Enfim, não demonstravam sinais de laços familiares entre si: apenas amigos e toda gente de pouca conversa. Eu, até que tinha vontade de dirigir-me a essas pessoas, especialmente àqueles cujas fisionomias me pareciam de gente conhecida, como era o caso de um senhor fisionomicamente aparentando traços de pessoas da família Zanotti, porém quando o fitava, parecia que ele desviava o olhar, como quisesse dizer que não queria conversa. Eu, na realidade, a partir desse momento, comecei sentir-me um estranho no ninho; ninho de gente afortunada, quanto o anfitrião. Eu pressentia um isolamento, ou seja, uma barreira ou mesmo um abismo existente entre classes sociais, mas depois, aos poucos, esses obstáculos se tornaram menores. Houve até o caso de um daqueles senhores, dirigindo-me a palavra, fez comentário sobre uma grande escada de alvenaria, construída desde a periferia alcançando o cume de uma montanha, aonde tinha início cobertura florestal, nada mais que isso. Questionava este senhor: Para que gastar tanto dinheiro na construção de uma obra que nenhuma utilidade representa? Lembrei-me de uma passagem bíblica: “A escada de Jacó”, vista por ele durante um sonho. (...”A humanidade, a grande massa humana, ao encarnar está adormecida, como estava adormecido Jacó, quando teve seu sonho relatado pela bíblia”...).
Nesse dia, não percebi nada além disso, as pessoas presumivelmente convidadas, desapareceram, não houve serviço de distribuição de alimentos, nada mais; apenas, da forma como teve início este sonho terminou, sem que nada de especial tivesse acontecido para isso.

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