sexta-feira, 29 de agosto de 2008

PASSEANDO NA MADRUGADA

Viajar e fazer passeios durante a noite e madrugadas, a nós, Anésia e eu, parece ser coisa normal. Desta vez estivemos em Santa Teresa na companhia de meu cunhado Antônio Scottá. Depois de algumas visitas a pessoas amigas, aproximava-se ao meio dia, seria o bastante que aquele antigo relógio postado sobre a torre da igreja matriz badalasse por doze vezes seguidas para que indicasse o horário certo que marcava. Não tínhamos dúvidas, deveríamos procurar um local para almoçarmos. Foi seguindo na direção ao alto da Serra do Canaã que chegamos a um desses locais que serve comidas no modo self service. Mas esse irmão de Anésia, meu cunhado, depois de examinar o restaurante do tal Zanotelli, concluiu que o local não era apropriado. De fato era um desses locais aonde não existiam mesas e nem cadeiras para que os comensais pudessem se acomodar. E as comidas? Sei lá! Pareciam estranhas. Coisas que, com toda minha experiência, jamais havia visto.
Com isso, ele nos convidou a que retornássemos ao centro da cidade para fazermos nossa refeição no restaurante de Atílio Bringhenti, também estranho, mas se era do gosto de Antônio, nosso anfitrião, deveria ser bom, assim ele o afirmava. Com isso tomamos pratos, servimo-nos num balcão que exibia expostos alguns alimentos, dos quais assados de carnes bovinas, suínas e de aves; mais saladas e massas. Enchi meu prato o máximo que nele podia conter, pesei-o numa balança, sentei-me numa cadeira postada à cabeceira de uma grande mesa e iniciei a refeição. Apesar da boa aparência dos alimentos, o sabor não era o melhor. Comia, mastigando tudo, e o prato parecia nunca se esvaziar, eu sentia, desde o início, sensação de plenitude gástrica. A melhor coisa, que parecia que pudesse acontecer, seria o término daquela refeição que se parecia infindável. Abandonar o prato praticamente cheio era coisa que me levava a dar explicações; podia aparentar que eu tivesse visto algo de estranho naqueles alimentos. De qualquer forma, seu Atílio poderia se sentir ofendido ou constrangido. Explicar que eu enchera o prato demasiadamente, por melhor que fosse a explicação, sempre ficaria alguma dúvida, ou melhor, existem coisas para as quais não existe explicação: todas são ruins ou piores. Mas vá lá, com muito custo, cheguei ao fim. O que sentia com isso. Bom, melhor que esqueçamos o assunto e na próxima vez não devo encher o prato além do meu apetite.
Continuando nossa visita (bom que eu não tivesse causado alguma coisa inexplicável), em conversa com o senhor Atílio, ele propôs vender-me seu sítio, eu concordei com o preço e fechei negócio. Comprei sua terra daquela forma que se diz “de porteira fechada”, ou seja, com todos os pertences, inclusive algumas antiguidades daquelas coisas trazidas da Europa pelos seus ancestrais. Dentre essas coisas, havia um relógio “carrilhão” fabricado na Alemanha antes da primeira guerra mundial, uma balança, provavelmente importada da Inglaterra. Esse artefato, utilizado para medir massa de coisas como café, feijão e de outros bens que se compram e se vendem a peso. As características das antiguidades eram marcantes: o relógio media cerca de dois metros de altura e seu mostrador ostentava uma peça de puríssimo cristal, com detalhes gravados a ouro; a balança, que tinha capacidade para pesar duzentos quilogramas, tinha um prato oscilante que se apoiava sobre uma base, também oscilante, ambas guarnecidas por sensíveis roldanas metálicas. Afora essas coisas, todo o mobiliário exibia peças trabalhadas, entalhadas, torneadas nas mais puras essências naturais como jacarandá, peroba do campo, cedro, vinhático e cerejeira. Nem cheguei a conhecer as demais coisas pertencentes a esse sítio. Depois, quando o dia amanhecesse, como sói acontecer, eu deveria me lembrar de tudo, tornando possível este registro.

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