Estivemos reunidos com vários casais num hotel na Praia da Costa, comemorando algo importante, talvez algo ligado à minha atividade de Auditor da Receita Federal do Brasil, neste caso, sob o patrocínio de duas entidades às quais somos filiados – a ANFIP, abrangendo todo o Brasil e a ANFIPES, onde são inscritos quase a totalidade dos auditores ativos, inativos e pensionistas do Estado do Espírito Santo.
Diariamente, havia palestras num centro de convenções, encontros em restaurantes famosos, desses que servem, entre outras coisas, a moqueca capixaba, tornada famosa devido aos ingredientes especialmente produzidos nesta terra – peixes, mariscos, condimentos e o modo como é preparada. Há uma coisa que costumam dizer os apreciadores da iguaria: “moqueca é capixaba; as outras são peixadas”. Certamente, este prato preparado com peixes e mariscos da água salgada e alguns de água doce dos caudalosos rios que cortam nosso território. Para nós capixabas não há dúvida de que é a melhor preparação do gênero – dizem que isto é coisa de “puxar a brasa para a própria sardinha”
Acredito, mesmo, que o evento que ocorria era congresso de auditores fiscais, e durante os dias em que isso ocorreu, várias autoridades, desde ministros, governadores, deputados, senadores, prefeitos e vereadores, tanto se fizeram presentes como alguns proferiram discursos e palestras. Dentre os congressistas palestrantes, havia um casal tornado nosso amigo, que costumava ocupar assento nas mesas em que eu e minha esposa ocupássemos. Tornamo-nos amigos e, chegando ao final do evento, sentiríamos falta de sua companhia. Foi na despedida que ofereci uma aguardente produzida no Estado – a cachaça “Da Mata”. Aquele senhor me disse:
- não posso tomar cachaça, pois sou alérgico a produtos feitos com cana-de-açúcar.
Ofereci-lhe outra bebida destilada, que transportava comigo, estendendo-lhe um copo onde existiam botões, clipes, grampos e outras miudezas, uma das quais se movia. A esposa desse meu amigo exclamou:
- barata!
Não sei se, de fato, era barata, mas o bichinho se movia através de centenas de perninhas. Logo, poderia ser uma centopéia. Quem sabe?
Eu disse apenas:
- Nem, mesmo, depois de lavado este copo, deve ser usado. Sei lá se este animal contém alguma substância tóxica? Nunca se deve arriscar. Leve apenas a garrafa e beba seu conteúdo em outra ocasião. Desculpe-me, não entendo como isto veio parar aqui. Mas esta ocorrência deixou-me constrangido. Isto não podia ter ocorrido com pessoa, que tornada amiga, merecia minha consideração.
O evento comemorativo foi encerrado com um coquetel em reunião solene onde todos os participantes presentes foram convocados para participarem, inclusive, de discursos diversos sobre a temática do congresso.
Mal tudo terminou, os participantes se dispersaram, cada um tomando seu caminho de destino. Eu, saindo à rua, fui abordado por um policial militar, de uma corporação especializada em trânsito, assim:
- senhor queira, por favor, se identificar!
Identifiquei-me e o policial explicou-me:
- o senhor sabe conduzir veículos?
Respondi-lhe:
- sim, mas minha habilitação classe amador se encontra vencida há meses.
- Isto não é problema, pois se trata de emergência: motoristas em greve abandonaram coletivos repletos de passageiros e, antes que ocorra caos generalizado, estamos requisitando quaisquer pessoas do povo para, emergencialmente, conduzir estes coletivos. O senhor acaba de ser requisitado para conduzir este aí.
Apontou para um grande auto de cor azul e me entregou a direção do veículo, dizendo:
- Pode acionar a máquina e dar partida que eu o acompanho para lhe mostrar o caminho a ser seguido.
Não tive alternativa, fiz de acordo com a ordem recebida do policial e percebia que havia vários passageiros, dentre os quais idosos e crianças. E na primeira parada, uma senhora parecendo demonstrar desespero entrou no coletivo e de lá retirou uma criança, justificando:
- desculpem-me esta é minha filha! O irresponsável do meu marido a abandonou aqui e saiu para beber com “amigos de copo”!
O policial autorizou que ela retirasse a criança que dizia ser sua filha, mas aconselhou-a a se dirigir à delegacia de polícia mais próxima e registrar um “BO” – Boletim de Ocorrência. Orientando:
- Senhora, isto é coisa grave! Caso de polícia mesmo! Preste queixa para que esse seu marido seja punido exemplarmente. Onde já se viu um pai abandonar uma criança e ir beber com amigos?
Não sei o desfecho daquele caso porque a mulher pegou a criança e saiu rapidamente do local. E eu ia conduzindo aquele ônibus com maestria. Não é que eu parecia ser mesmo condutor profissional de coletivos. Até o policial não economizava elogios:
- olha não podia imaginar que o senhor, apesar de dizer que só conduzia pequenos autos na condição de amador, me saiu melhor que a encomenda!
E eu ia adiante, parando o coletivo para o desembarque e embarque de outros passageiros; tive que desviar de buracos na pista, fazer paradas bruscas para não atropelar pedestres, atravessar uma pista de chão de terra repleta de lama. Num desses locais, tive que tirar o carro de um atoleiro, de marcha à ré. Nessa manobra, quase colidi com o carro em que viajava aquele casal, feito amigo naqueles encontros em que havíamos participado neste e em dias anteriores.
Não sei se houve greve de motoristas e cobradores no transporte coletivo, mas, enquanto isto, eu continuava a conduzir aquele ônibus azul durante o dia, à tarde, à noite e madrugada afora. Não tenho lembrança de que tenha encerrado meu trabalho, se é que realmente trabalhei. Não sei mesmo como fiz tudo isto sem sequer me levantar da cama.
Diariamente, havia palestras num centro de convenções, encontros em restaurantes famosos, desses que servem, entre outras coisas, a moqueca capixaba, tornada famosa devido aos ingredientes especialmente produzidos nesta terra – peixes, mariscos, condimentos e o modo como é preparada. Há uma coisa que costumam dizer os apreciadores da iguaria: “moqueca é capixaba; as outras são peixadas”. Certamente, este prato preparado com peixes e mariscos da água salgada e alguns de água doce dos caudalosos rios que cortam nosso território. Para nós capixabas não há dúvida de que é a melhor preparação do gênero – dizem que isto é coisa de “puxar a brasa para a própria sardinha”
Acredito, mesmo, que o evento que ocorria era congresso de auditores fiscais, e durante os dias em que isso ocorreu, várias autoridades, desde ministros, governadores, deputados, senadores, prefeitos e vereadores, tanto se fizeram presentes como alguns proferiram discursos e palestras. Dentre os congressistas palestrantes, havia um casal tornado nosso amigo, que costumava ocupar assento nas mesas em que eu e minha esposa ocupássemos. Tornamo-nos amigos e, chegando ao final do evento, sentiríamos falta de sua companhia. Foi na despedida que ofereci uma aguardente produzida no Estado – a cachaça “Da Mata”. Aquele senhor me disse:
- não posso tomar cachaça, pois sou alérgico a produtos feitos com cana-de-açúcar.
Ofereci-lhe outra bebida destilada, que transportava comigo, estendendo-lhe um copo onde existiam botões, clipes, grampos e outras miudezas, uma das quais se movia. A esposa desse meu amigo exclamou:
- barata!
Não sei se, de fato, era barata, mas o bichinho se movia através de centenas de perninhas. Logo, poderia ser uma centopéia. Quem sabe?
Eu disse apenas:
- Nem, mesmo, depois de lavado este copo, deve ser usado. Sei lá se este animal contém alguma substância tóxica? Nunca se deve arriscar. Leve apenas a garrafa e beba seu conteúdo em outra ocasião. Desculpe-me, não entendo como isto veio parar aqui. Mas esta ocorrência deixou-me constrangido. Isto não podia ter ocorrido com pessoa, que tornada amiga, merecia minha consideração.
O evento comemorativo foi encerrado com um coquetel em reunião solene onde todos os participantes presentes foram convocados para participarem, inclusive, de discursos diversos sobre a temática do congresso.
Mal tudo terminou, os participantes se dispersaram, cada um tomando seu caminho de destino. Eu, saindo à rua, fui abordado por um policial militar, de uma corporação especializada em trânsito, assim:
- senhor queira, por favor, se identificar!
Identifiquei-me e o policial explicou-me:
- o senhor sabe conduzir veículos?
Respondi-lhe:
- sim, mas minha habilitação classe amador se encontra vencida há meses.
- Isto não é problema, pois se trata de emergência: motoristas em greve abandonaram coletivos repletos de passageiros e, antes que ocorra caos generalizado, estamos requisitando quaisquer pessoas do povo para, emergencialmente, conduzir estes coletivos. O senhor acaba de ser requisitado para conduzir este aí.
Apontou para um grande auto de cor azul e me entregou a direção do veículo, dizendo:
- Pode acionar a máquina e dar partida que eu o acompanho para lhe mostrar o caminho a ser seguido.
Não tive alternativa, fiz de acordo com a ordem recebida do policial e percebia que havia vários passageiros, dentre os quais idosos e crianças. E na primeira parada, uma senhora parecendo demonstrar desespero entrou no coletivo e de lá retirou uma criança, justificando:
- desculpem-me esta é minha filha! O irresponsável do meu marido a abandonou aqui e saiu para beber com “amigos de copo”!
O policial autorizou que ela retirasse a criança que dizia ser sua filha, mas aconselhou-a a se dirigir à delegacia de polícia mais próxima e registrar um “BO” – Boletim de Ocorrência. Orientando:
- Senhora, isto é coisa grave! Caso de polícia mesmo! Preste queixa para que esse seu marido seja punido exemplarmente. Onde já se viu um pai abandonar uma criança e ir beber com amigos?
Não sei o desfecho daquele caso porque a mulher pegou a criança e saiu rapidamente do local. E eu ia conduzindo aquele ônibus com maestria. Não é que eu parecia ser mesmo condutor profissional de coletivos. Até o policial não economizava elogios:
- olha não podia imaginar que o senhor, apesar de dizer que só conduzia pequenos autos na condição de amador, me saiu melhor que a encomenda!
E eu ia adiante, parando o coletivo para o desembarque e embarque de outros passageiros; tive que desviar de buracos na pista, fazer paradas bruscas para não atropelar pedestres, atravessar uma pista de chão de terra repleta de lama. Num desses locais, tive que tirar o carro de um atoleiro, de marcha à ré. Nessa manobra, quase colidi com o carro em que viajava aquele casal, feito amigo naqueles encontros em que havíamos participado neste e em dias anteriores.
Não sei se houve greve de motoristas e cobradores no transporte coletivo, mas, enquanto isto, eu continuava a conduzir aquele ônibus azul durante o dia, à tarde, à noite e madrugada afora. Não tenho lembrança de que tenha encerrado meu trabalho, se é que realmente trabalhei. Não sei mesmo como fiz tudo isto sem sequer me levantar da cama.
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