Nem preciso sair de casa, nem de minha cama para chegar a Várzea Alegre durante noites e madrugadas. Parece incrível, mas é a pura verdade. Numa dessas, visitei uma propriedade de Pedro Sperandio Pierazzo, onde, além do Rio Santa Maria, ele havia erigido um palacete que dizia ser a sede de uma nação italiana. No quintal havia vários poços circulares recheados de fubá de milho branco e uma escavação que diziam ser de uma lavra de pedras preciosas. De posse de uma picareta eu escavava num barranco repleto de pequenos cristais. Achei algumas pedras verdes que me diziam serem esmeraldas. Embora sentindo o cansaço característico, já experimentado no passado quando fazia algo semelhante, mesmo, assim, eu continuava a cavar, achando agora cristais lapidados, alguns nos formatos de prismas hexagonais alongados com pontas na cores roxas e violeta; havia estilhaços de pedras cristalinas azuis.
Continuando a escavação, além de cristais, surgiram estojos de madeira polidos e envernizados; alguns estavam vazios, outros continham peças artisticamente trabalhadas, como imagens de santos, estatuetas de deuses da mitologia greco-romana, feitas de pedra sabão, de alabastro e de cristais de cores diversas, inclusive de pedra ágata. Mas o inusitado ocorreu quando abri um estojo que continha um revólver de aço inoxidável, munições de calibres diversos, punhais e peças metálicas não identificáveis. Esse estojo e todo o conteúdo foram escolhidos para que fossem integrar uma coleção de peças raras do meu acervo.
Aqueles achados pareciam coisas enterradas por alguém que as escondesse ali. Por que e por quem teriam sido enterradas? Eu pretendia continuar a escavação, pois eu julgava que pudesse encontrar outras coisas, talvez as barras de ouro e jóias compostas de grandes diamantes trazidas da Itália pela família Pierazzo, mas o cansaço me dominava e consumia minhas energias devidas ao peso das ferramentas e daquela terra úmida de coloração escura repleta de húmus, apropriada para o plantio de hortaliças. Esse cansaço fez com que encerrasse o trabalho de prospecção, deixando para continuar em outra oportunidade, coisa de que não me lembro ter voltado a fazer.
Sobre essa questão de ocultar coisas valiosas, houve época em que, imigrantes de origem européia se utilizaram desses expedientes para ocultarem ouro, jóias e armas, de modo especial, durante as grandes guerras mundiais para deixá-los protegidos, tanto de ladrões como das forças de repressão a que estiveram sujeitos indivíduos de origem germânica e italiana. Outros, também, para evitar que pessoas das próprias famílias deles se apoderassem antes mesmo que tais bens fossem objeto de divisão nos inventários. Algumas vezes, o sigilo dos esconderijos do conhecimento de poucos, resultava no esquecimento e, por isso, existem histórias de tesouros que jamais virão a ser descobertos, e, outros descobertos por mero acaso. Nisso valem ser lembrados o caso de um pote recheado de ouro e de jóias preciosas, descoberto por acaso no quintal de uma família de descendentes de italianos na localidade de Boapaba, situada no Município de Colatina – região norte do Estado do Espírito Santo. Também a descoberta de algumas armas cerradas no interior de paredes de um antigo casarão, provavelmente escondidas para evitar possíveis retaliações próprias de épocas de guerra, porque poderiam ser entendidas como instrumentos capazes de provocar atitudes hostis.
Noutra noite, na rua principal de Várzea Alegre, havia pessoas, como de costume, comentavam sobre futebol, sobre a colheita do café, sobre os plantios de hortaliças e, principalmente, sobre lavras: as antigas e outras recentes, algumas que trouxeram riqueza e as que trouxeram desafetos e frustrações. Mas em Várzea Alegre, entra ano, sai ano e os assuntos sempre gravitam no entorno desses temas. Isso motiva que esses assuntos, principalmente o das lavras se perpetue, mantendo esse clima da influência psicológica da grande e antiga lavra da Pedra da Onça para perpetuar a ambição e os sonhos de grandes fortunas chegadas de forma inesperada e fácil, como aquilo já visto no passado.
Nessa mesma noite, ouviu-se acalorada discussão entre os Primos Hilton Corteletti e Mário Zanotti. Dessa discussão resultou que ambos sacaram revólveres e se miraram como se estivessem para praticar iminente duelo. Vociferavam palavras que se sentem constrangidas por figurarem nos dicionários. A qualquer momento trocariam disparos que os levariam a se ferir mortalmente. Do local em que me encontrava, eu lhes dirigia apelos para que depusessem as armas e voltassem à razão, enfim para que tivessem juízo, evitando ato que levaria às famílias de ambos, tristeza, lamúrias e choros incontidos; de nada adiantavam meus argumentos: eles se mantinham insensíveis aos apelos; estavam voltados somente ao ódio e pareciam dele se alimentarem exclusivamente. Assim que o primeiro estampido ecoasse, uma tragédia ocorreria, mas havia algo que vez ou outra os primos se aproximavam e se confidenciavam em voz baixa. Havia momentos que a arma de um ou a do outro apontasse para mim, me parecendo que, a qualquer momento eu poderia ser atingido por uma bala perdida e as cenas de conversas entre os primos que se apontavam armas ameaçadoras ocorriam com certa freqüência, mas em determinado momento se abraçaram e recolheram suas armas, acautelando-as e, aos risos, fizeram com que todas as ameaças, como se fossem de uma tempestade iminente, cessassem e trouxessem alívio geral na comunidade.
Viu-se, depois de alguns minutos que se pareceram séculos, que tudo não se passara de uma brincadeira para causar um estranho divertimento, gerando, ao mesmo tempo, emoção e medo generalizado na população local. Felizmente tudo não se passara de uma brincadeira estranha e de mau gosto.
Como é costumeiro, percebi que estive o tempo todo dormindo tranquilamente ao lado de minha esposa, mas, ao acordar, ainda sentia a ansiedade de uma cena de tragédia iminente.
Continuando a escavação, além de cristais, surgiram estojos de madeira polidos e envernizados; alguns estavam vazios, outros continham peças artisticamente trabalhadas, como imagens de santos, estatuetas de deuses da mitologia greco-romana, feitas de pedra sabão, de alabastro e de cristais de cores diversas, inclusive de pedra ágata. Mas o inusitado ocorreu quando abri um estojo que continha um revólver de aço inoxidável, munições de calibres diversos, punhais e peças metálicas não identificáveis. Esse estojo e todo o conteúdo foram escolhidos para que fossem integrar uma coleção de peças raras do meu acervo.
Aqueles achados pareciam coisas enterradas por alguém que as escondesse ali. Por que e por quem teriam sido enterradas? Eu pretendia continuar a escavação, pois eu julgava que pudesse encontrar outras coisas, talvez as barras de ouro e jóias compostas de grandes diamantes trazidas da Itália pela família Pierazzo, mas o cansaço me dominava e consumia minhas energias devidas ao peso das ferramentas e daquela terra úmida de coloração escura repleta de húmus, apropriada para o plantio de hortaliças. Esse cansaço fez com que encerrasse o trabalho de prospecção, deixando para continuar em outra oportunidade, coisa de que não me lembro ter voltado a fazer.
Sobre essa questão de ocultar coisas valiosas, houve época em que, imigrantes de origem européia se utilizaram desses expedientes para ocultarem ouro, jóias e armas, de modo especial, durante as grandes guerras mundiais para deixá-los protegidos, tanto de ladrões como das forças de repressão a que estiveram sujeitos indivíduos de origem germânica e italiana. Outros, também, para evitar que pessoas das próprias famílias deles se apoderassem antes mesmo que tais bens fossem objeto de divisão nos inventários. Algumas vezes, o sigilo dos esconderijos do conhecimento de poucos, resultava no esquecimento e, por isso, existem histórias de tesouros que jamais virão a ser descobertos, e, outros descobertos por mero acaso. Nisso valem ser lembrados o caso de um pote recheado de ouro e de jóias preciosas, descoberto por acaso no quintal de uma família de descendentes de italianos na localidade de Boapaba, situada no Município de Colatina – região norte do Estado do Espírito Santo. Também a descoberta de algumas armas cerradas no interior de paredes de um antigo casarão, provavelmente escondidas para evitar possíveis retaliações próprias de épocas de guerra, porque poderiam ser entendidas como instrumentos capazes de provocar atitudes hostis.
Noutra noite, na rua principal de Várzea Alegre, havia pessoas, como de costume, comentavam sobre futebol, sobre a colheita do café, sobre os plantios de hortaliças e, principalmente, sobre lavras: as antigas e outras recentes, algumas que trouxeram riqueza e as que trouxeram desafetos e frustrações. Mas em Várzea Alegre, entra ano, sai ano e os assuntos sempre gravitam no entorno desses temas. Isso motiva que esses assuntos, principalmente o das lavras se perpetue, mantendo esse clima da influência psicológica da grande e antiga lavra da Pedra da Onça para perpetuar a ambição e os sonhos de grandes fortunas chegadas de forma inesperada e fácil, como aquilo já visto no passado.
Nessa mesma noite, ouviu-se acalorada discussão entre os Primos Hilton Corteletti e Mário Zanotti. Dessa discussão resultou que ambos sacaram revólveres e se miraram como se estivessem para praticar iminente duelo. Vociferavam palavras que se sentem constrangidas por figurarem nos dicionários. A qualquer momento trocariam disparos que os levariam a se ferir mortalmente. Do local em que me encontrava, eu lhes dirigia apelos para que depusessem as armas e voltassem à razão, enfim para que tivessem juízo, evitando ato que levaria às famílias de ambos, tristeza, lamúrias e choros incontidos; de nada adiantavam meus argumentos: eles se mantinham insensíveis aos apelos; estavam voltados somente ao ódio e pareciam dele se alimentarem exclusivamente. Assim que o primeiro estampido ecoasse, uma tragédia ocorreria, mas havia algo que vez ou outra os primos se aproximavam e se confidenciavam em voz baixa. Havia momentos que a arma de um ou a do outro apontasse para mim, me parecendo que, a qualquer momento eu poderia ser atingido por uma bala perdida e as cenas de conversas entre os primos que se apontavam armas ameaçadoras ocorriam com certa freqüência, mas em determinado momento se abraçaram e recolheram suas armas, acautelando-as e, aos risos, fizeram com que todas as ameaças, como se fossem de uma tempestade iminente, cessassem e trouxessem alívio geral na comunidade.
Viu-se, depois de alguns minutos que se pareceram séculos, que tudo não se passara de uma brincadeira para causar um estranho divertimento, gerando, ao mesmo tempo, emoção e medo generalizado na população local. Felizmente tudo não se passara de uma brincadeira estranha e de mau gosto.
Como é costumeiro, percebi que estive o tempo todo dormindo tranquilamente ao lado de minha esposa, mas, ao acordar, ainda sentia a ansiedade de uma cena de tragédia iminente.
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