Recentemente estive em Várzea Alegre, Santa Teresa-ES. O verde que
cobre as plantações de café Conillon e hortaliças é um espetáculo, demonstrando
a fartura de que é dotada essa terra, expressa nos frutos da rubiácea em grãos
feitos e quase maduros, Algumas roças de milho quase prontas para a colheita;
outras, plantadas mais tarde, exibem pouco crescimento e as folhas enroladas
que, logo estarão irremediavelmente ressecadas e sem vida. Esta é uma situação
anômala para o mês de dezembro, habitualmente úmido e encharcado, contrastando
a expectativa, se, não revertido esse quadro, futuro incerto para esse povo
laborioso que habita a localidade.
É verdade que a população, não tendo consciência da gravidade da
situação, comemora as festas natalinas e de passagem de ano alegremente. Esse flagelo
da seca sempre esteve circunscrito ao Nordeste do país e agora pode se registrar
aqui, onde jamais se cogitou em tamanha calamidade.
Em pleno mês de dezembro, sempre época de copiosas chuvas e
consequentes cheias o rio Santa Maria do Rio Doce e de seus afluentes, onde
havia fartura de água e uma população de habitantes aquáticos completavam essa
imagem pictórica repleta de vida. Mesmo sem a queda das chuvas próprias desta
estação climática, o verde vegetal predomina em todos os entornos, desde os
maciços rochosos do Canudo, do Toma Vento, da Pedra da Onça, da Pedra Alegre,
do Charuto e outros mais. Mas, a escassez das chuvas próprias desta estação
torna os leitos dos rios e de seus córregos afluentes em lamínulas de líquido.
A persistir esse quadro, dentro de poucos dias poderão ser vistos esses leitos
com areia seca, não sendo exagero ver-se levantar poeira por essa secura
reinante.
Quero enfatizar de que não faço isto como apologia dos resultados
catastróficos que a escassez dos recursos hídricos, quer pela falta de chuvas,
pelas características da falta de efeito esponja que faz a água ser absorvida
pelo solo e se alojar nas rochas e nos lençóis freáticos, reservas hídricas que
lentamente fluem e torna os cursos das nascentes, dos rios, dos córregos e dos
empoçados perenes.
Esse quadro é tendente a se tornar coisa comum nesses próximos tempos,
devidos principalmente pelos efeitos dos desequilíbrios climáticos resultantes
do aquecimento da terra, agravados pelas perdas de massa florestais causadas
pelo avanço geográfico da extensão da fronteira agrícola e pastoril.
Especificamente, comentando sobre essa expectativa funesta do futuro da
agricultura de subsistência da população do estado do Espírito Santo,
imagina-se que a situação que se pode estar avizinhando. Isso requer
providências que visem minimizar esses efeitos danosos para a permanência junto
ao campo dessa população dedicada à agricultura, permitindo a continuidade da
produção de alimentos a cada vez mais carentes para uma população que tem
crescimento vegetativo, tanto nas áreas rurais como os polos urbanos deste
estado. Duas vertentes se desenham para a solução do problema: a conservação
das nascentes, mediante proteção vegetal nas bacias de captação das águas fornecedoras
de meios aos lençóis freáticos que fluem por essas nascentes; a conservação da
qualidade dessas águas que se agregam dos pequenos aos maiores cursos
(córregos, riachos e rios); e a construção de barragens, utilizando áreas menos
nobres destinadas ao cultivo e àquelas cobertas por embasamento rochoso.
Devendo ser dada preferência aos vales profundos, que possam ser atados por
barragens de concreto de uma à outra margem.
Com essas providências, certamente seria dada maior sobrevivência aos
recursos hídricos existentes e acrescidos outros mediante reservas das águas
advindas das chuvas. Se essas não forem captadas e mantidas sob-reserva, elas
se perderão escorrendo para os rios, deixando o solo apenas lavado e cada vez
menos propenso à retenção desses líquidos.
Adotadas essas providências, haveria garantia de água para o
abastecimento doméstico, para os estabelecimentos industriais e comerciais e,
principalmente, para uso específico na irrigação das plantações e dos pastos
que servem de alimento aos animais.