domingo, 14 de dezembro de 2008

O NATAL DE SEMPRE

Natal era a festa maior precedida das festividades dedicadas a Santa Luzia. Esta comemoração abria os festejos de final, passagem de ano e dos Santos Reis.
Na tarde de 12 de dezembro a gente saía, recolhendo porções da grama mais fresca que se encontrasse. E isso não era difícil, porque tanto nas beiradas dos caminhos quanto nos pastos que circundavam nossa casa lá da roça, grama era um capim abundante. Era necessário colocarmos nos pratos em que aguardávamos os presentes da santa, aquelas porções de grama para servirem de alimento ao seu “burrinho”, senão ela poderia não vir.
A vinte e quatro de dezembro, novamente colhíamos grama para alimentarmos aquelas renas que puxavam o trenó de Papai Noel que passaria durante essa noite do nascimento do Menino Jesus.
Na passagem do Ano Velho para o Ano Novo, o Ano Bom, nós colocávamos nossos pratos porque esse Ano Novo nos traria algum presente e, ainda, tínhamos mais uma oportunidade na noite de seis de janeiro – nessa data passariam os Reis Magos – os santos reis.
Uma coisa que nos deixava temerosos: a chuva que costumava cair copiosamente nessa época, porque o Rio Canudo quando enchia costumava não permitir passagem, nem mesmo para quem estivesse montado em burros ou cavalos. Felizmente tanto Santa Luzia quanto Papai Noel nunca deixou de nos visitar.
Num retrospecto, essas datas lembram os presentes que costumávamos ganhar: Na noite de Santa Luzia, poderiam vir algumas balas, ora daquelas fabricadas pela “Garoto”, umas no formato de bolinhas listradas, outras embrulhadas em papéis ilustrados com as figuras das frutas dos doces de que eram recheadas. Havia alguma vez que só vieram algumas balas no formato de pequenos ovos de açúcar colorido. No natal, além das balas doces costumeiras, houve alguma vez que ganhamos bombons e também barras de chocolate (até hoje quando sinto o aroma do chocolate, ele me faz lembrar a noite do Natal e as festas de final de ano). Na passagem de ano, houve vez que ganhamos cada um de nós, uma daquelas notas azuis de um cruzeiro. Mas na noite passagem dos Santos Reis, os presentes eram escassos. Ganhava-se nada mais que balas doces. Presentes como brinquedos, ou uma lata daqueles doces “quatro em um” (goiabada, marmelada, pessegada e bananada), só eram vistos nas casas dos nossos vizinhos, que tinham situação financeira melhor.
Mesmo nessa simplicidade das festas de Santa Luzia, do Natal, da passagem do Ano Velho para o Ano Novo e na passagem dos Santos Reis, havia um encantamento de magia e de fantasias próprias do nosso tempo de infância; nem se sonhava ainda com os pisca-piscas multicoloridos e toda essa sinfonia de músicas e de cores dos natais de hoje. Mas se vivia uma felicidade ímpar. Será que as crianças que estão nesses espaços outrora ocupados por nós, serão tão felizes quanto nós o fomos, quando comemoram essas festas? Tomara que sim! E até muito mais, porque o Natal será sempre a data maior do mundo infantil. Enquanto houver crianças, o Natal e as festas de final de ano ocorrerão com todas as fantasias do encantado mundo das crianças.

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