A primeira vez que cavalguei foi num burro chamado “Douradinho”. Estava em férias pela segunda vez, época em que estivera internado no Seminário dos padres capuchinos em Santa Teresa. Devia ser janeiro de 1955, num desses escaldantes dias de verão. Arreei aquele famoso burro, que Sebastião Gujanski, nosso empregado montava impreterivelmente aos domingos, quando passava dias inteiros bebericando pelas vendas localizadas no Patrimônio de Várzea Alegre. Esse hábito continuado durante alguns anos provocou um efeito memória (se é que burro a tem), fazendo com que o animal seguisse invariavelmente ao patrimônio nas manhãs dos domingos e retornasse da mesma forma nas tardes.
Nesse dia contrariei os hábitos desse animal, fazendo com que seguisse pelo caminho que, numa encruzilhada à esquerda, passasse em frente à casa de Guilherme Zanotti, depois à de Antônio Roccon. Eu passava por esse caminho para chegar finalmente à casa de Tia Darcisa. Pois bem, mal conseguir chegar à encruzilhada em frente à casa do Roccon; desse ponto não conseguir fazer com que o burro avançasse um só milímetro em frente. Depois de Algumas tentativas, batendo no animal com uma tala de couro, cutucando com esporas, de repente o muar se moveu. Fez vários movimentos bruscos, saltando de forma cruzada e senti quando minha cabeça tocou violentamente o chão. Depois que o danado se livrou de mim, ficou parado ali mesmo, demonstrando toda a mansidão que o caracterizava.
Foi nesse dia que experimentei a dura vida dos peões de rodeio; eu peguei o cabresto e conduzi o animal de volta a casa. Senti-me envergonhado por não conseguir cavalgar no “Douradinho”. Fiz minha visita à tia, mas a pé. Por muito tempo não tive coragem de cavalgar novamente.
Depois de três anos, retornei abandonando o curso de ensino industrial básico que fazia na Escola Técnica Federal para trabalhar com João Romélio Zonta numa farmácia que haviam montado em sociedade com meu pai. A farmácia possuía um cavalo de montaria, destinado a servir de meio de locomoção para Romélio nas visitas que fazia aos enfermos no entorno de Várzea Alegre, Toma Vento, Alto Caldeirão, Caldeirão, Alto Tabocas, chegando a Valsugana. Constantemente, utilizando esse meio de transporte, ele visitava seus familiares no Patrimônio de Santo Antônio, hoje Santo Antônio do Canaã, como esta localidade passou a ser chamada. Também visitava enfermos em todo o vale do Rio Santa Maria, Barra do córrego Tabocas, Vale do Rio Perdido, São Paulo do Rio Perdido, Itanhanga, Córrego Frio, Pedra alegre, Alto várzea Alegre e Pedra da Onça.
Nos primeiros tempos do meu trabalho, enquanto Romélio fazia essas visitas quase que diariamente eu permanecia trabalhando no estabelecimento da farmácia que tinha a denominação de “Farmácia Nova”; chegou o momento que também eu tive que percorrer todas essas localidades, também cavalgando; nessa época eu não visitava enfermos: minhas visitas se destinavam a fazer cobranças para receber valores de clientes que compravam a prazo na farmácia. Às vezes, viajava dias inteiros e não conseguia receber um centavo sequer; Foi uma época que os moradores da região tinham como opção de rendas o cultivo de lavouras cafeeiras, desprovido de técnica e de tratamento de correção dos solos e ainda não se usavam fertilizantes, causando produção insignificante e não eram raros a incidência de um tipo de inseto – a broca, que danificava os grãos do café, reduzindo a produção agravada pela má qualidade de produto, tanto pelos estragos causados pelas pragas como pela forma antiquada como eram feitas as cultura. Outro fator que desencadeava renda minguada era a monocultura do milho como opção de exploração agrícola. Terrenos de topografia acidentada não permitiam o uso de máquinas, e o trabalho braçal não trazia recompensa satisfatória. Por tais motivos, a população de agricultores passava por época de crise, não tendo como honrar compromissos com fornecedores.
A população rural não contava com serviços públicos de assistência à saúde, nem tinha amparo de previdência social, dependendo do nosso atendimento de urgência e emergências domiciliares feitas a cavalo. E o pior para nós: dificilmente recebíamos a maioria dos nossos créditos resultantes desses atendimentos e fornecimento de medicamentos. Esses foram os motivos de tantas viagens a cavalo. Havia, ainda, escassas estradas por onde podiam circular automóveis. Que automóveis? Objetos raros, que burros, mulas e cavalos supriam sua falta.
Mas voltando a falar sobre o uso de animais eqüinos e muares destinados à locomoção, havia passeios por ocasião de festas nas comunidades adjacentes e de visitas às namoradas. Apesar das poucas namoradas que tive a opção de visitá-las se fazia por intermédio das montarias, ora no burro “Ruão” ou no cavalo “Queimado”. Essa prática durou alguns anos, mesmo depois que a farmácia esteve sob minha inteira responsabilidade, quando que meu pai adquiriu a parte societária que pertencia a Romélio. Essas coisas me fazem lembrar um fato que atendi a um enfermo na localidade de Pedra da Onça, indo ao local cavalgando no “Queimado” por volta da meia noite, ocasião que a escuridão total dominava a estrada e o pior: para o retorno, não tive companhia de outra pessoa, pois tiveram que conduzir o doente até a Praça Oito, carregado-o numa padiola com lençóis atados a varões de madeira. Pela sintomatologia, o paciente demonstrava sintomas de apendicite, confirmado pelo médico que lhe fez a cirurgia, já agravada com supuração.
Com minhas experiências nessas cavalgadas, aprendi a arrear os animais, iniciando com a pegada no pasto, a colocação do arreios, compostos por sela, rabicho, peitoral, cia, barrigueira, peitoral, sela, cabresto e as rédeas e seus freios. Eu sabia como arrear um animal, de modo que ficasse pronto para cavalgar.
Acontecia com um animal de sela um fato em que me faz lembrar: quando realizava o seu arreamento, no momento em que apertava a barrigueira o bicho estufava a barriga de tal modo que, depois, tornava o abdome à posição normal, necessitando repetir a operação para que a sela ficasse firmemente assentada.
Essas, portanto foram minhas experiências na equitação, embora tenham ocorrido há mais de cinqüenta anos, sua lembrança me traz de volta um tempo que coisas simples tinham importância especial.
Nesse dia contrariei os hábitos desse animal, fazendo com que seguisse pelo caminho que, numa encruzilhada à esquerda, passasse em frente à casa de Guilherme Zanotti, depois à de Antônio Roccon. Eu passava por esse caminho para chegar finalmente à casa de Tia Darcisa. Pois bem, mal conseguir chegar à encruzilhada em frente à casa do Roccon; desse ponto não conseguir fazer com que o burro avançasse um só milímetro em frente. Depois de Algumas tentativas, batendo no animal com uma tala de couro, cutucando com esporas, de repente o muar se moveu. Fez vários movimentos bruscos, saltando de forma cruzada e senti quando minha cabeça tocou violentamente o chão. Depois que o danado se livrou de mim, ficou parado ali mesmo, demonstrando toda a mansidão que o caracterizava.
Foi nesse dia que experimentei a dura vida dos peões de rodeio; eu peguei o cabresto e conduzi o animal de volta a casa. Senti-me envergonhado por não conseguir cavalgar no “Douradinho”. Fiz minha visita à tia, mas a pé. Por muito tempo não tive coragem de cavalgar novamente.
Depois de três anos, retornei abandonando o curso de ensino industrial básico que fazia na Escola Técnica Federal para trabalhar com João Romélio Zonta numa farmácia que haviam montado em sociedade com meu pai. A farmácia possuía um cavalo de montaria, destinado a servir de meio de locomoção para Romélio nas visitas que fazia aos enfermos no entorno de Várzea Alegre, Toma Vento, Alto Caldeirão, Caldeirão, Alto Tabocas, chegando a Valsugana. Constantemente, utilizando esse meio de transporte, ele visitava seus familiares no Patrimônio de Santo Antônio, hoje Santo Antônio do Canaã, como esta localidade passou a ser chamada. Também visitava enfermos em todo o vale do Rio Santa Maria, Barra do córrego Tabocas, Vale do Rio Perdido, São Paulo do Rio Perdido, Itanhanga, Córrego Frio, Pedra alegre, Alto várzea Alegre e Pedra da Onça.
Nos primeiros tempos do meu trabalho, enquanto Romélio fazia essas visitas quase que diariamente eu permanecia trabalhando no estabelecimento da farmácia que tinha a denominação de “Farmácia Nova”; chegou o momento que também eu tive que percorrer todas essas localidades, também cavalgando; nessa época eu não visitava enfermos: minhas visitas se destinavam a fazer cobranças para receber valores de clientes que compravam a prazo na farmácia. Às vezes, viajava dias inteiros e não conseguia receber um centavo sequer; Foi uma época que os moradores da região tinham como opção de rendas o cultivo de lavouras cafeeiras, desprovido de técnica e de tratamento de correção dos solos e ainda não se usavam fertilizantes, causando produção insignificante e não eram raros a incidência de um tipo de inseto – a broca, que danificava os grãos do café, reduzindo a produção agravada pela má qualidade de produto, tanto pelos estragos causados pelas pragas como pela forma antiquada como eram feitas as cultura. Outro fator que desencadeava renda minguada era a monocultura do milho como opção de exploração agrícola. Terrenos de topografia acidentada não permitiam o uso de máquinas, e o trabalho braçal não trazia recompensa satisfatória. Por tais motivos, a população de agricultores passava por época de crise, não tendo como honrar compromissos com fornecedores.
A população rural não contava com serviços públicos de assistência à saúde, nem tinha amparo de previdência social, dependendo do nosso atendimento de urgência e emergências domiciliares feitas a cavalo. E o pior para nós: dificilmente recebíamos a maioria dos nossos créditos resultantes desses atendimentos e fornecimento de medicamentos. Esses foram os motivos de tantas viagens a cavalo. Havia, ainda, escassas estradas por onde podiam circular automóveis. Que automóveis? Objetos raros, que burros, mulas e cavalos supriam sua falta.
Mas voltando a falar sobre o uso de animais eqüinos e muares destinados à locomoção, havia passeios por ocasião de festas nas comunidades adjacentes e de visitas às namoradas. Apesar das poucas namoradas que tive a opção de visitá-las se fazia por intermédio das montarias, ora no burro “Ruão” ou no cavalo “Queimado”. Essa prática durou alguns anos, mesmo depois que a farmácia esteve sob minha inteira responsabilidade, quando que meu pai adquiriu a parte societária que pertencia a Romélio. Essas coisas me fazem lembrar um fato que atendi a um enfermo na localidade de Pedra da Onça, indo ao local cavalgando no “Queimado” por volta da meia noite, ocasião que a escuridão total dominava a estrada e o pior: para o retorno, não tive companhia de outra pessoa, pois tiveram que conduzir o doente até a Praça Oito, carregado-o numa padiola com lençóis atados a varões de madeira. Pela sintomatologia, o paciente demonstrava sintomas de apendicite, confirmado pelo médico que lhe fez a cirurgia, já agravada com supuração.
Com minhas experiências nessas cavalgadas, aprendi a arrear os animais, iniciando com a pegada no pasto, a colocação do arreios, compostos por sela, rabicho, peitoral, cia, barrigueira, peitoral, sela, cabresto e as rédeas e seus freios. Eu sabia como arrear um animal, de modo que ficasse pronto para cavalgar.
Acontecia com um animal de sela um fato em que me faz lembrar: quando realizava o seu arreamento, no momento em que apertava a barrigueira o bicho estufava a barriga de tal modo que, depois, tornava o abdome à posição normal, necessitando repetir a operação para que a sela ficasse firmemente assentada.
Essas, portanto foram minhas experiências na equitação, embora tenham ocorrido há mais de cinqüenta anos, sua lembrança me traz de volta um tempo que coisas simples tinham importância especial.
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