Costumeiramente levei Ana Maria ao seu trabalho no INAMPS e estacionei meu fusca naquele espaço existente no entorno da Catedral, segui depois à agência do BANESTES localizada no centro, na Praça Oito. Enveredei-me por grande elevador, chegando a um andar bem alto (sétimo, oitavo, nono; não me lembro ao certo em que andar cheguei).
Coloquei-me numa das filas destinadas ao atendimento. Algumas das quais se destinavam ao atendimento direto nos caixas, outros sequer entravam em quaisquer dessas filas, pois de posse de senhas numéricas, quando chamados lhes eram indicados os respectivos boxes de atendimento personalizado. De posse de minha senha, enquanto aguardava atendimento, não perdia tempo: falava com quaisquer pessoas a respeito de quaisquer assuntos. Lembro-me de que, quando conversava com uma senhora qualquer, uma criança que a acompanhava (devia ser seu filho), procurou dialogar comigo e eu lhe ofereci cigarros de um maço que portava no bolso da camisa. Aquela senhora me advertiu de que não se deve oferecer esse tipo de coisa a pessoa alguma, principalmente nesse caso porque era uma criança a que eu oferecia cigarro. Mas na realidade, os objetos tinham semelhança de cigarros, apenas no formato, pois, apenas no aspecto, porque no conteúdo devia ser algo açucarado. Depois disso, surgiram-me, não sei como duas sacolas cheias dessas coisas parecidas com cigarros. Pessoas enfiavam as mãos nessas sacolas e retiravam os objetos e os colocavam na boca e os mastigavam. Pois é, se pareciam, mesmo, com pirulitos de açúcar cristalizado, no formato de cigarrilhas.
O tempo se passava e foram raros os atendimento em que outros clientes, assim como eu, aguardavam serem chamados, tivessem sido seus números aparecido num grande painel luminoso. E, quando chamados, além de acender número luminoso da senha, havia um sinal sonoro que chamava atenção.
Costumeiramente, nesses ambientes, fala-se alto, crianças gritam e tagarelam, criando sons cujos ecos reverberavam por aquelas paredes desprovidas de proteção acústica. Meus ouvidos, sensíveis aos sons agudos, mas não conseguindo distinguir qualquer palavra, deixavam-me desconfortavelmente incomodado. E o vozerio começava a vir, também, do lado de fora do prédio e, em determinado momento, as pessoas que se encontravam próximas às janelas, movimentaram-se bruscamente para o interior do salão e o vozerio aumentou, junto de ruídos vindos de fora que se assemelhavam a estampidos de armas de fogo ou de fogos de artifício.
Procurei postar-me num local que tivesse visibilidade ao longo da Avenida Jerônimo Monteiro, quando pude ouvir mensagem sonora de toda a população deveria abster-se de sair às ruas, pois escapara de uma prisão um grupo de perigosos meliantes e estavam fortemente armados, correndo risco de confronto com tropas da polícia militar e de outras forças, inclusive forças do Exército acabavam de ser convocadas para enfrentamento com carros de combate e tanques de guerra. A qualquer momento poderia eclodir conflito com aramas pesadas, além de potentes fuzis e metralhadores, carros de combate e tanques poderiam lançar granadas e outros artefatos, onde quer que os bandidos se escondessem. Poderiam invadir o prédio do BANESTES e, neste caso, nós que aguardávamos atendimento, poderíamos ser alvo de bombardeio. Pois bem, o caos havia se instalado na cidade de Vitória e não havia para onde ir; qualquer lugar, qualquer prédio, mesmo o prédio do INAMPS não representava qualquer segurança (lá é que Ana Maria se encontrava. Será que ela tinha conhecimento do que acontecia em todo esse tumulto?).
Agora parecia iminente uma batalha destrutiva, eis que um carro de combate, medindo alguns metros de comprimento por uns seis metros de altura abriu fogo em direção à Esplanada Capixaba, lançando bombas, que nada mais eram que rojões daqueles de festas juninas e uma chuva de bolas e estrelas multicoloridas tomou conta do céu da Capital. Esse fato, como alguns diziam, apenas representava um sinal de advertência, pois um fogo pesado poderia ocorrer a qualquer momento.
Felizmente, depois de algumas horas de apreensão, eis que a normalidade voltou a Vitória. Tudo voltou ã calma e a Capital voltou a respirar aquela paz costumeira. Tumulto, sim, havia no comércio literalmente tomado com pessoas ávidas para a compra dos presentes com os quais homenageariam suas mães no próximo dia nove de maio, domingo próximo.
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