domingo, 17 de janeiro de 2010

GARÇOM NAS HORAS VAGAS

A cada dia, ou melhor, a cada madrugada, acontecem-me coisas incríveis, com as quais nunca havia imaginado. Essa de trabalhar como garçom surpreendeu a todos: quem diria contador, auditor e outras coisas mais, de repente fazendo expediente como garçom de um desses botecos, onde se bebe cachaça, cervejas com salgados fritos (peixes, linguiça, croquetes e outras coisas), onde os odores de banheiros se misturam aos cheiros das frituras feitas com gorduras saturadas e escuras em frigideiras que engorduram o ambiente e todos os utensílios, inclusive copos, xícaras e pratos.
Ser garçom numa simples birosca dessas parece coisa fácil; mas para saber como tudo isso funciona é bom que se faça um teste semelhante ao que fiz.
De passagem, entrei nesse pequeno estabelecimento para tomar um refrigerante, pois sentia sede. Reconheci imediatamente o proprietário: Era o Paulinho, filho de meu ex-patrão, José Cigano, agora trabalhando com esse comércio, apesar de ser engenheiro mecânico e de ter herdado de seu pai aquela famosa fábrica de alambiques de cobre e a fábrica de engenhos de ferro fundido, que serviam para moagem de cana nas fábricas de cachaça. Não sei por que razão, esse rapaz, com profissão definida e com capital razoavelmente bom, descaiu, chegando à atualidade à situação de pequeno comerciante na periferia de uma cidade do interior do Estado do Espírito Santo.
Não me bastou essa surpresa; outra viria, quando me convidou a prestar-lhe ajuda, porque tinha necessidade de ausentar-se por algumas horas e não tinha a quem apelar para substituí-lo. - Sorte sua, eu passar por aqui, disse-lhe. Como poderia eu negar-lhe esse favor, toda minha gratidão, eu poderia expressar-lhe agora, por seu pai, por suas irmãs e por ele próprio, meu grande amigo Paulinho.
Assim que ele se foi, pus-me a trabalhar, tendo uma mulher, preparando as frituras, doses de bebidas destiladas e fazendo limpeza... Que limpeza! Eu atendia aos pedidos nas mesas; no balcão, o atendimento ficava a cargo da mulher, que também atuava como garçonete cuja maior frequência de atendimento era doses e mais doses de cachaça e, ainda, suportar aqueles bêbados a fazer aquelas conversas de “cerca Lourenço”, - conversas fiado, cantada de baixa categoria e outras coisas desse gênero.
Esse estabelecimento funcionava em frente a uma praça, aonde outros estabelecimentos do gênero tinham presença garantida pelos frequentadores assíduos que se postavam em mesas esparramadas pela praça afora. Alguns bebericavam cachaça, saboreando torresmos fritos; outros tomavam cerveja, enquanto degustavam siris, peixe frito ao óleo, porções de camarão e jabá com macaxeira frita. Em determinado momento, eu fui chamado por integrantes de uma mesma localizada na parte mais distante da praça, que me pediram para lhes servir cerveja gelada, queijo e presunto e exigiram: - a cerveja deve ter aquele tom acinzentado na garrafa e cuidado onde toca no vasilhame para que o líquido não se congele! Aguardei o preparo do prato frio de salgados, colocando tudo sobre uma bandeja e tendo o cuidado para que nada se despencasse, pois além da distância do local, minha inexperiência contava muito. Atendi uma vez, depois outra; mais fregueses e outros ainda, e, que me permitiam tornar-me experiente no assunto.
Respirei com alívio, assim que Paulinho retornou para assumir seu trabalho, mas, nesse momento, acordei para a realidade: fora mais uma das minhas fantasias e, agora, era hora de madrugar, pois outros compromissos -esses reais - me aguardavam para a faina diária.

Um comentário:

  1. Não consigo imaginar o senhor num lugar assim...só em sonho mesmo!
    Abraço!
    Analu

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