Queria e fui autorizado a assistir ao Doutor Fabrízio realizar uma cirurgia, utilizando um craniótomo para romper a caixa craniana de seu paciente; ouvi até o ruído daquela máquina, idêntico ao de uma furadeira, que tanto podia ser da marca “Bosch”, Black end Decker, ou outra qualquer; só não pude adentrar ao centro cirúrgico, permanecendo numa sala contígua, onde, também, podia ver a operação através de uma vidraça transparente. Ali se encontravam os médicos doutores Ayrton, Pedro Luiz, Jovana e outras pessoas não médicas, que, assim como eu, visualizavam a intervenção cirúrgica realizada pelo neurocirurgião e sua equipe.
Contava que, há cerca de três anos, eu tivera idêntica intervenção, quando este mesmo médico me instalou uma válvula de perfusão ventrículo peritoneal, como parte de controlar a HPN (Hidrocefalia de Pressão Normal), de que sou portador.
Percebi, em dado momento, que vestia somente uma camisa amarela, cujo cumprimento se assemelhava a um vestido “Chanel”. Sentia-me constrangido por não estar conveniente trajado para a ocasião; entretanto procurava minimizar a situação, explicando que havia uma tendência de que esse tipo de vestimenta se generalizar para homens e mulheres. E a conversa ganhava adeptos, até que uma menina, aparentando não ter mais que cinco anos de idade, disparou: “mãe que roupa esquisita veste aquele vovô”! A mãe interveio nada adiantando, porque ela insistia: “mãe, nunca vi coisa mais esquisita: não parece nem com roupa de homem, muito menos com roupa de mulher. Aquele me parece ser um homem com idade de vovô, não tem vergonha de usar uma esquisitice dessas”? Criança é sincera e enxerga mais que adultos. Foi assim que acontece naquela fábula do rei nu. A veste do rei que só podia ser vista por sábios fazia com que ninguém, embora visse, dissesse que o rei estava despido: todos queriam ser considerados sábios; o único sábio foi o garoto que gritou: “o rei está nu”. A multidão, que desejava ser sábia, sentiu a verdade que emanava das palavras do garoto.
No nosso caso, toda a sabedoria provinha das palavras da menina. Normalmente, os adultos vêem, mas preferem o silêncio. Afinal se algo não lhe prejudica, porque comentar? E, cada momento que se passava, minha situação era mais constrangedora e não tinha mais argumentos convincentes: não estava convenientemente vestido. E basta!
Quanto à cirurgia, a curiosidade não se restringia a mim e aos demais leigos, também alguns profissionais de medicina queriam visualizar técnica que o cirurgião usava para solucionar enfermidade, embora não fosse cura, mas eliminaria os sintomas e agravantes, isto se a intervenção obtivesse o êxito esperado e desejado.
De repente, o paciente teve recuperados os sentidos, cessado o efeito do anestésico que recebera em dose meticulosamente aplicada, levantou-se da mesa cirúrgica, pôs-se a caminhar rumo a um leito de uma unidade tratamento intensivo, com promessa de alta no dia seguinte para retornar a casa, já em condições de vida normal. Que maravilha esta medicina!
Hoje, 08.01.2010, quando comentava algo durante o café da manhã, foi-me lembrado que esta data coincide, completando exatos três anos da cirurgia de colocação de válvula ventrículo peritoneal, em evento de intervenção realizada por Doutor Fabrízio, esse mesmo que presenciei operando durante essa madrugada.
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