Convidados e mais convidados chegavam para as cerimônias de posse de um governador de estado. Casais trajados a rigor subiam a uma escada para se acomodarem em um salão localizado em andar superior, até que chegasse o momento da cerimônia de transmissão do cargo e posse do Governador; depois, em seguida, seriam empossados aqueles indicados para ocuparem o primeiro escalão do governo. Enquanto isso, nós, os militares das diversas armas, aguardávamos ordens postados num saguão, de onde, através de escadas e elevadores, podia-se chegar às dependências nobres desse palácio, decorado suntuosamente.
Nós, oficiais e soldados, cada um, conforme a corporação que pertencesse, trajávamos uniformes completos. Oficiais do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Polícia Militar do Estado usavam fardas de gala, exibindo condecorações e divisas. Eu fazia parte do grupo que tinha farda, inclusive quepe, totalmente brancos e uma gravata preta; outro grupo, com farda idêntica se diferenciava pela gravata de coloração azul, outro, ainda, a gravata tinha coloração cinza. Mas, todo esse grupo de fardamento branco pertencia à corporação da saúde (médicos, enfermeiros, odontólogos e farmacêuticos). Eu fazia parte porque era farmacêutico, embora não tivesse formação acadêmica de graduação, recebi essa honraria de usar farda branca de gala, como oficial da saúde, por mérito alcançado como profissional prático.
Enquanto aguardávamos o momento da cerimônia maior, foram-nos oferecidos alimentos salgados consistentes de pacotes individuais e uma grande torta para ser dividida posteriormente. Degustamos os salgados individuais; embora sentíssemos sede, nenhuma bebida líquida havia disponível e, aquela permanência constantemente em pé, nos deixava exaustos e parecia que a espera fosse interminável.
Lá pelas tantas, todos os militares presentes, fomos convocados a postarmo-nos em forma para participarmos do hasteamento do Pavilhão Nacional e da Bandeira do Estado do Espírito Santo, ocasião em que foram entoados os hinos do Brasil e do Estado. Nós, em rigorosa posição de sentido, participamos efetivamente da cerimônia. Depois, através de sistema de alto falantes, foram anunciados nomes de personalidades que participariam da cerimônia maior. Meu nome não constou dessa lista e, com isso, voltei ao meu trabalho na minha pequena farmácia para atender a algumas pessoas que, por várias horas, aguardavam minha presença. O primeiro cliente, incrível, indagou-me se vendia solado para sapatão. Simplesmente disse-lhe: no momento não! Mais três ainda me aguardavam e os atendi um a um, fechei o estabelecimento e voltei a casa para repousar, ocasião em que ouvia comentários sobre a grande festa da posse do novo governador, da qual nós militares participamos apenas dos acontecimentos, exclusivamente nos pátios e no saguão do palácio.
Ao amanhecer de hoje, soube e me certifiquei de que nada disso aconteceu; que, apenas dormi muito e devaneios costumeiros das madrugadas voltaram a me ocorrer.
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