sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

AVIÃO VERMELHO

Dirigir veículos pesados durante madrugadas é coisa rotineira e, desta vez, não foi diferente. Os cenários, na maioria das vezes, são estradas de Várzea Alegre – verdadeiros lamaçais - como as que existiam nessa localidade em épocas de chuvas, costumeiramente intensas. O inusitado foi o caminhão Mercedes Benz, grande e dotado de alguns atributos especiais, dentre os quais se destacava o volante da direção, tanto servia para conduzir o veículo, mudando a direção do mesmo, quanto para a troca de marchas, onde o volante servia de manopla e a haste como a alavanca do câmbio. Sim! E como era fácil para manobrar essa grande viatura! Era surpreendente a mobilidade e dirigibilidade: bastavam toques suaves e tudo funcionava perfeitamente.
Nesse vai e vem pelas estradas barrentas, ora atravessando córregos caudalosos, especialmente o grande Canudo, cuja ponte de travessia, quase sempre, se via coberta pela correnteza das águas provenientes das enxurradas formadas nas pedreiras adjacentes à Serra do Toma Vento. Não havia, mesmo, obstáculos que fossem capazes de impedir que meu caminhão trafegasse com facilidade por esses lamaçais. E com isso, eu fazia transporte de mercadorias das colheitas fartas de milho, feijão, arroz e café, tudo produzido em abundância.
Não gostei e fiquei aborrecido com uma fofoca, originada por pessoas invejosas, diante do sucesso que fazia com meu caminhão, tanto servindo ao transporte de mercadorias como de pessoas que eram levadas às festas religiosas e jogos de futebol que ocorriam em todo o entorno. Imaginem: essas pessoas invejosas puseram a circular o boato que meu caminhão fora capaz de arrancar uma porteira na propriedade do Inácio Lucas, pessoa a quem tinha como verdadeiro amigo. Mas nessa localidade, ocuparem-se as pessoas de fofocas é coisa corriqueira; poucos são os que se eximem, ou estariam a salvo desse nefasto costume. Paciência! O mundo é como é... Não, talvez, como gostássemos como fosse. É pena! Que bom, se fosse perfeito!
Por duas vezes, ocorreram-me fatos negativos na condução do meu caminhão: num deles a haste da direção elevou-se subitamente e, para que permanecesse no controle da direção e na troca das marchas, tive que manter-me de pé, pois o volante chegou próximo ao teto. Mesma com certa dificuldade, evitei o acidente iminente; mas, de outra vez, tendo perdido a atenção ao volante, invadi um canteiro de cebolas de cabeça numa horta do meu amigo Alfeu. Nesse caso, as rodas esmagaram boa quantidade das hortaliças, tendo seu proprietário determinado que cortassem e picassem a verdura para ser conservada mediante congelamento.
Até aqui, nada de coisas que não fossem consideradas normais, quando dirijo grandes viaturas – caminhões e ônibus – coisa que faço sistematicamente durante madrugadas, mas o surpreendente viria acontecer em seguida: ouviu-se o ronco ensurdecedor vindo do céu! Acreditem! Coisa jamais vista em Várzea Alegre! Um imenso avião “Tupolev” fazia pouso, provavelmente de emergência, nas baixadas de Várzea Alegre. Mesmo em velocidade reduzida, a aeronave só parou não antes de destruir completamente uma plantação de repolhos na propriedade de Alfeu, que fica próxima ao Canto da Cachoeira do rio Santa Maria do Rio Doce. Dano mínimo, considerando o imenso tamanho desse avião. Assim que parado, desembarcou o único tripulante, um home moreno fisionomicamente parecido com o ditador da Líbia – Moamar Kadafi – que chegou e conversou comigo. Eu perguntei: - É de origem soviética? Ele sinalizou positivamente, elevando ambos os polegares, direito esquerdo. Não falava sequer uma palavra em português todos os presentes não entendiam nem falava a língua russa. Embora isso, eu falando português e ele, russo, e nos entendíamos perfeitamente.
A primeira coisa que teria dito: - pago todos os prejuízos que causei, pedindo água e comida para saciar sede e fome, pois há muitas horas voava perdido pelo mundo afora, pois seus instrumentos de comunicação e controle de vôo foram avariados ao ter enfrentado tempestade violenta, quando atravessava a linha do equador. E agora? Nosso personagem conseguirá voltar à origem, e levar essa grande aeronave vermelha? Sim, vermelha! Essa era a cor da fuselagem do aparelho, certamente causada pela analogia do vermelho atribuído à ideologia soviética no passado.
Quando acordei, tinha vontade que permanecesse dormindo para ver até onde essa história iria. Agora, esperemos que, quem sabe, em algum dia ou alguma madrugada a história continue...

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