Na madrugada de ontem, minha esposa percebeu que eu falava com alguém no meu escritório. Ela me indagou: com quem você fala? Não podia responder, pois nem mesmo eu sabia; ouvia apenas uma voz e eu perguntava: quem é você? Imaginava que se tratasse de algum morador antigo deste apartamento. Estranho! Ouvia a voz e nem ao menos percebia de que lado procedia. Depois ouvi outras pessoas me dirigindo palavras: homens, senhoras, talvez senhoritas, até mesmo crianças, estas falavam e choramingavam simultaneamente.
Tudo se tornava, a cada vez, mais estranho e apavorante, não acha? Toda essa mistura de palavras de adultos, de jovens, de crianças misturados a gritos, xingamentos, choro de criança, gemidos. Eu, nada, via; muito ouvia, sem saber de onde vinha todo esse vozerio. Não pensem que tudo teria ficado nisso, pois, de repente, todo aquele vozerio transformou-se em sons mais apavorantes ainda: agora eram berros, balidos, urros, miados, cacarejos, relinchos, uivos, tudo isso misturado ao grasnar de pássaros silvestres, como o Curucutu de corujas e assovios. Mais ainda: o ambiente, além de toda aquela barulheira infernal estava impregnado de odores fétidos. Havia mistura de curral de bovinos, estábulo de equinos, pocilgas, galinheiros; fortes odores de enxofre queimado e de animais caprinos e ovinos. Podia sentir o roçar de chifres e da pilosidade de animais domésticos e selvagens; parecia existir jaguatiricas; onças pardas, negras e pintadas. Imaginei que podia ser devorada e estraçalhado por essa mistura de feras. Nesse momento, eu clamei por socorro, tentava gritar em alto som, mas sentia-me sufocado. Nem Anésia, nem ninguém me prestava socorro. Nisso pensei: somente Deus poderá me socorrer nessa situação aflitiva a que me encontro, passando a recitar aquela oração chamada de “Profissão de fé”, também nossa conhecida como “Creio em Deus Pai...”. Quando encerrei a oração com as palavras: “... Na vida eterna, amém”. Eis que, toda aquela tormenta, todo aquele desespero se dissiparam. Acordei com sudorese generalizada e com o coração batendo a mil. Para ter certeza de que tudo, realmente, se passara, recitei novamente o “Creio”. Agora, sim, acordado percebi que estava livre de grande pesadelo. Lembrei também que tive o hábito de ter a Bíblia Sagrada ao lado da cabeceira da cama, costumando fazer alguma leitura da “ Palavra”, antes de me deitar. Depois dormia tranquilamente e livre desses pavores noturnos.
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