segunda-feira, 9 de maio de 2011

AQUELA VELHA CASA..

Desta vez havia algo de novo: lembra-se, aquela velha com uma casinha de madeira edificada à sua frente? Estava totalmente devorada pelos cupins e não mais se encontrava lá. No local, havia apenas sinais de que fora demolida. Assim que meu vizinho, que habitava numa moradia localizada à frente do mesmo terreno, viu-me chegar, veio ao meu encontro com a notícia de que, mesmo sem minha autorização efetuara a demolição, pois já não suportava a presença daqueles insetos devoradores de madeira de que o casebre estava infestado. Percebi, que aquele gesto de cooperação comigo sem minha autorização, na realidade, podia ser uma forma de meu amigo apossar-se daquele terreno, agora vago.

Esses gestos de cooperação voluntária podiam esconder coisa escusa, talvez, alguma armadilha. Para neutralizar essa minha desconfiança, pensei e agi:

- Meu vizinho, digo-lhe, que sou grato pelas providências, mas quero saber quanto devo pagar pelos serviços?

- Não se preocupe, alguém porventura lhe falou em dinheiro?

- Certo, que não, mas não é justo deixar que, serviços efetuados como providências que se faziam necessárias sem a devida contraprestação. Vamos! Diga quanto devo lhe pagar pelos préstimos?

- Bem, já que o senhor faz questão. Bastam duzentos reais. Fizemos o trabalho em quatro trabalhadores. Dividiremos, ficando a quantia de cinquenta reais para cada um.

Mediante esse pagamento, isto podia ser entendido a minha soberania sobre a posse de coisas de minha propriedade. Mas, toda aquela solicitude e demonstração de irrestrita solidariedade para comigo, eu não queria crer. Não. Esse meu amigo e vizinho nada de mal poderia estar povoando sua mente. Minha mente, sim, era demasiadamente fértil no prejulgamento das possíveis intenções de outras pessoas. E, se fossem verdadeiros meus julgamentos? Como? Nunca se sabe o que se passa na mente das pessoas. É local inatingível. A verdade é que, embora as pessoas demonstrem através de atitudes de amizade fiel, nunca é demais uma pequena dose de precaução. Nunca se sabe...

Relembrando: minha casa era edificada o mesmo terreno daquela do nosso vizinho e sua moradia fazia frente para a rua e para chegarmos à nossa casa, teríamos que seguir por um beco, onde outros moradores das proximidades faziam uso da mesma passagem. Mas aquela casinha de madeira toda infestada por cupins devoradores era, mesmo, um estorvo a esses amáveis vizinhos. Certamente, eles já deveriam contabilizar prejuízos com a perda de móveis de madeira, uma lástima verdadeiramente; verem-se objetos serem consumidos por esses nefastos insetos.

Depois disso, meu amigo fez-me companhia para uma vistoria geral no imóvel. Repito, que a parte o terreno onde havia as edificações não ocupava toda a área. Boa parte, divida em dois espaços cercados com arame farpado estavam ociosos; locais que poderiam ser ocupados com o cultivo de hortaliças ou por ‘’arvores frutíferas ou, mesmo, alguma instalação dessas tais empresas de fundo de quintal – oficinas mecânicas, marcenarias e outras quaisquer.

Abrimos a casa e presenciamos objetos guardados – alguns pneus de automóvel para serem descartados -, melhor até que estivessem ao abrigo, pois, se estivessem ao ar livre, poderiam ser a causa da proliferação dos temíveis mosquitos da dengue. Nisso, tenho que agradecer os cuidados que meu vizinho havia dispensado na guarda desses objetos. Havia também caixas de papelão, muitos papéis velhos, tudo servindo para abrigar roedores e insetos. Onde outrora existira uma cozinha e dependências de serviços havia restos de velhos móveis, de eletrodomésticos, todos aproveitáveis como sucata.

Isso acontecia numa sexta feira e já estava em vias de combinar com esse colaborador vizinho para retornar ao imóvel para, juntos providenciarmos uma faxina geral e já agendávamos tais providências para o próximo sábado. Nesse momento minha esposa chegou e nos deu o seguinte aviso:

- Não contem comigo! Prá que jogar serviço fora e gastos inúteis nesse “moquifo”. Acresce, ainda, que não suporto essas coisas empoeiradas e emboloradas – são venenos para as minhas alergias! Dá um jeito e vende essa casa; dela não precisamos a ainda esses gastos nada mais são que prejuízos.

Essas objeções abriram-me os olhos, tornaram meus ouvidos sensíveis; fizeram-me ouvir e devolveram-me a acuidade visual, enfim. E, agora, o que faço? Devo enxergar a realidade e ouvir os sábios conselhos da minha esposa. Ela, de fato tem razão: fez-me ouvir e ver a realidade dos fatos. Resta-me praticar o que acabava de ver e ouvir, anunciando o imóvel para venda. Mas, ao sair, avisei ao meu vizinho e colaborador, que meu imóvel fora posto a venda e, se, acaso, ele conseguisse um comprador que me pagasse o valor pedido, poderia fazer-me contato e, ainda, receberia uma gratificação equivalente a 5% do valor total da venda. Certamente, que outro felizardo desfrutaria de todo o conforto e partilharia convivência com aquele amável vizinho colaborador. Assim foi visto, ouvido e praticado.

Talvez durante outra madrugada teremos o desfecho do caso “daquela velha casa”...

Um comentário:

  1. Crônica destaca pontos importantes da convivência social c/vizinho colaboador;a busca de soluções viáveis;o desejo de descarte de artigos inúteis;o autor demonstra apreciar a boa organização.Preocupa-se em pagar trabalhadores.Escuta recomendações de sua esposa.É uma leitura leve enriquecedora. Nosso mundo precisa de boas "istórias".

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