Na primavera passada ocorreu o acasalamento destes simpáticos bem-te-vis, frequentando postes, árvores e telhados, tanto do prédio em que residimos, quanto nesses localizados nas imediações. Víamos que esses pássaros faziam um vai vem entre quintais adjacentes, trazendo sempre presos aos bicos pequenos fragmento de capim e de ramagens obtidos na vegetação das redondezas. Tudo era levado até um transformador de energia elétrica, localizado em frente a uma clínica de diagnóstico por imagem, incessantemente.
Também expulsaram os gaviões, assíduos frequentadores das coberturas – terríveis predadores de pássaros menores.
Podia-se perceber que o casal de pássaros preparava ninho para depositarem os ovos de onde nasceriam seus descendentes e isso durou quase um mês. Depois houve a postura dos ovos, passando a serem chocados num processo de incubação, objetivando desenvolver os embriões, a partir da fertilização feita durante cópulas realizadas na fase do acasalamento. Para fazer com que os embriões se desenvolvessem havia necessidade de calor constante, mantido mediante a transferência do calor dos corpos das aves – tarefa revezada sistematicamente com a presença constante de um membro dessa família. Um permanecia no ninho, enquanto o outro saía à cata de alimento e de água e, às vezes, pousava num poste em frente à varanda frontal do nosso apartamento e me fitava como se quisesse me dizer algo – falava, sim, na sua própria linguagem. De nada adiantaria que eu lhe dissesse alguma palavra – não havia, mesmo, como nos entendermos. Depois desse intervalo o animalzinho alado rendia seu companheiro (a?) e ocupava novamente o ninho, sempre se revezando.
Num desses revezamentos, o casal se encontrou num poste próximo ao ninho, cantaram freneticamente ao mesmo tempo, como se discutissem a demora da troca de plantão ou, talvez, celebrassem alguma novidade ocorrida no ninho. Essa rotina continuou por tempo de quinze a vinte dias, depois, observando-se o comportamento, embora não se pudesse visualizar, podia-se concluir que havia novidade. Certamente as novas tarefas compreendiam buscarem alimento para si e para os filhotes que teriam nascido. Novamente esse vai e vem se tornou rotina por cerca de vinte dias e, nos dias finais, já se podia ouvir sons vindos daquele transformador de energia elétrica, tornado ninho, coisa interrompida numa manhã, quando vi mais bem-te-vis voando baixo de um arbusto a outro nas jardineiras próximas do prédio e em quintais de edificações próximas.
Por mais um dia uma ou outra ave desse grupo comparecia, como se estivesse a prestar assistência a algum filho, talvez em dificuldade de alçar vôo definitivo. Depois disso as aves desapareceram, deixando saudades e falta de proteção a outras aves vulneráveis aos ataques de predadores na vizinhança. Enquanto os bem-te-vis estiveram na área expulsaram os terríveis gaviões, que, a qualquer momento poderão retornar e deixar as rolinhas freqüentadoras do local desprotegidas e inseguras.
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