terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MUTIRÃO JURÍDICO NA MADRUGADA


Deveríamos viajar para a cidade de Recife para realizarmos trabalho de defesa em processos a fim de desafogar o Judiciário do Estado de Pernambuco. Nosso grupo era composto de vários advogados, todos formados numa turma considerada “especial”. Para realizar essa missão tínhamos nada mais que dois dias. Tempo em que deveríamos juntar todos os meios para desempenhar esse trabalho. Havíamos recebido, endereçados a cada um de nós, determinados processos objetivando dar agilidade aos trabalhos. Assim chegaríamos ao destino, munidos de petições, devidamente embasadas em julgamentos análogos; jurisprudências como súmulas de tribunais de justiça e do próprio Supremo Tribunal Federal, especificamente para cada dossiê.

Não havia tempo a perder para que pudéssemos alcançar o destino no tempo previsto. De automóvel, seria praticamente impossível chegar a tempo. Neste caso algum colega sugeria que viajássemos por via aérea, procurando alternativa de obter passagens de classe econômica, talvez mesmo em algum compartimento em aeronave destinada ao transporte de cargas. O importante é que chegássemos a tempo; não deveríamos nos deixar abater por causa da utilização de recursos de transporte menos nobre – um bom advogado é aquele que alcança o objetivo no prazo e não deixa escapar as oportunidades de recursos, aliás, um jurista não pode cometer “cochilus juridicus”, sob pena de causar danos aos clientes.

Com a chegada a Recife não se tinha tempo a perder: deveríamos apresentar-nos nas seções judiciárias próprias por onde tramitavam os processos que nos foram confiados.

Ao apresentar-me na secretaria da Primeira Vara, surgiu-me um problema: Não tenho a identidade da OAB; sou recém formado e ainda não fiz os exames da ordem. Na realidade sou apenas bacharel em ciências jurídicas; só serei considerado profissional completo quando puder ostentar tal identidade e não há como solucionar o impasse: viagem perdida e prejuízos. Mas, pensando bem sempre existe alguma solução por mais complicada e grave que seja a situação. Ainda no hotel em que nos hospedáramos, um recepcionista deu-me um cartão com endereço e telefones de um profissional capaz de solucionar a questão. Que vergonha! Não é que saí em busca dessa solução, imediatamente tornada real com fotografia, número de inscrição; tudo feito em papel da mesma qualidade com que são feitas as identidades verdadeiras da OAB, inclusive com os carimbos idênticos e assinaturas falsas, incluindo a minha.

Ao apresentar-me entreguei minha identidade (falsa), que, recolhida e apresentada ao juiz de plantão, ele, prontamente ordenou que o oficial de justiça plantonista fizesse flagrante e me levasse à prisão.

Que surpresa eu tive quando reconheci a chefe da carceragem: ela simplesmente era minha esposa e me dizia: vire para o seu lado e durma; você está sonhando outra vez.



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