Toda a região metropolitana da Grande Vitória deveria passar por criteriosa ocupação dos espaços e suas finalidades, neste terceiro milênio. Não há como se esconder dos problemas. Estas cidades foram originadas de ocupações isentas de planejamento, que lhes conferem algumas dificuldades urbanísticas: ruas estreitas, construções de imóveis antigos que, apesar da sua participação histórica, não são suscetíveis de conservação e recuperação, isto ocorrendo principalmente no centro dessas cidades, aonde funcionavam as atividades econômicas e administrativas. A economia, originalmente secundária e terciária, tinha como agentes os estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços. Os prédios públicos, juntamente com os demais, se concentravam nos núcleos dessas áreas urbanas, inclusive edificações residenciais. Com o passar do tempo, mais áreas foram ocupadas na periferia, no início ocupações de terrenos nos morros e em áreas alagadas de mangues e pauis através da ocupação desordenada cuja racionalização nunca será totalmente possível.
Não se pode ficar alheio ao que vem ocorrendo com os imóveis nas partes antigas de região metropolitana de Vitória e Vila Velha, geralmente antigos e obsoletos: o comércio migra para construções modernas, geralmente nos bairros periféricos, aonde, melhores em segurança e conforto, proporcionam geração de trabalho, de intermediação comercial e de prestação de serviços, acrescidos de oportunidades de lazer. As cidades, na maioria, nasceram do improviso ou, se planejadas, não contemplaram a visão do que seria hoje o trânsito. Não há mais espaço que possa contemplar estacionamento para tantos veículos, nem vias de acesso suficientes. Neste particular, o Município de Vila Velha anda na contramão: as recentes intervenções nas vias públicas de tráfego são contempladas com estreitamento das faixas de rolagem, parecendo que há falta de acuidade visual das pessoas responsáveis pelo planejamento urbano nesta cidade.
As edificações antigas, além de oferecerem riscos de incêndios, marquises inseguras e baixa rentabilidade nas locações, podendo-se observar que não são raros casos de imóveis desocupados e abandonados, servindo para o incremento da insegurança pessoal, devido ao frequente uso por marginais e populações de rua, sujeitando a possibilidade de incêndios e, não tendo manutenção, servem de depósito de lixo e outras impurezas causadoras da criação de roedores e de insetos, dentre os quais, aqueles que transmitem doenças, especialmente a dengue.
Que fazer com esses imóveis? Alguns simplesmente deveriam ser demolidos e os terrenos, uma vez vagos, serem utilizados com áreas de estacionamento rotativo; outros, gradativamente, receberem investimentos que os tornassem estacionamentos verticais. Exemplo disto é um estacionamento verticalizado existente no centro de Vitória, já existente a aproximadamente três décadas. Seria o caso de os incorporadores meditarem sobre esta possibilidade, eis que me parece existir demanda para a utilização dessa forma de ocupação imobiliária. O crescimento de opções de estacionamento de veículos faria com que as atividades comerciais e de lazer tornassem povoar esses espaços tendentes a serem abandonados.
Que fazer com os recursos paisagísticos arbóreos? Aqui há várias reflexões a serem feitas, mediante participação de todos os segmentos da população. Não se poderia deixar de estudar, tanto os aspectos da conservação paisagística como da preservação do ecossistema.
No caso de Vila Velha, foram quase quinhentos anos de crescimento desordenado. Como podem ser resolvidas as questões da reurbanização desta cidade?
Sobre este aspecto, o que se vê agora são ilações precipitadas, algumas expressas por leigos e postas segundo caprichos pessoais e isentas de reflexões sensatas. Não é o caso de ser contra ou, simplesmente, favorável a certas providências: tudo aquilo que é feito de forma açodada e sem planejamento; só mesmo a sorte pode ser capaz de fazer com que tais medidas sejam acertadamente eficazes.
Vejam o exemplo a atual tendência da administração de Vila Velha, que quer eliminar velhas castanheiras plantadas ao longo da orla das praias; muitas ocupando espaços na faixa de areia, outras vegetando sobre calçadões e calçadas de ruas destinadas à circulação de pedestres. Na minha opinião, árvores saudáveis que não estejam criando obstáculos à circulação de pessoas e de veículos, que não estejam dificultando redes de energia elétrica, de telefônicas e afins e não estejam infectadas por cupins, se convenientemente tratadas com podas e outros zelos, devem ser mantidas. Sobre esta questão, que não venham os profissionais, mesmo respeitando suas abalizadas opiniões acobertadas pelo conhecimento científico, emitir pareceres que visem exclusivamente satisfazer vontades e caprichos, justificando que esta, essa ou aquela árvore não tem procedência na flora brasileira, que produz folhas e frutos abundantes; folhas que no outono caem causando sujeira nas areias das praias e logradouros públicos; frutos que servem à proliferação de roedores e insetos; copas que servem ao abrigo de pássaros e morcegos – alguns considerados como vetores de enfermidades infecciosas. Mais uma vez, tais profissionais e leigos deveriam refletir sobre questões relativas ao ecossistema. Árvores não ostentam nacionalidade: são patrimônio verde do mundo globalizado. As folhas das castanheiras e de todos as árvores que compõem a paisagem arbórea, assim como seus caules, galhos e raízes; todos deveriam ser recolhidos, dando a cada um deles o destino de utilidade, assim: as madeiras deveriam ser aproveitadas, depois de serradas e tratadas para serem utilizadas como materiais integrantes na construção de bens móveis e de imóveis; os restos como pequenos galhos, fragmentos e folhas deveriam ser depositados em biodigestor, aproveitando a energia gerada pelos gases e os resíduos nitrogenados poderiam ser aproveitados como fertilizante para o cultivo de hortaliças e plantas fitoterápicas de uso doméstico. Quanto à proliferação de pequenos roedores e insetos ante à fartura de frutos que algumas árvores produzem, não podemos ficar alheios à cadeia alimentar que representam: as pequenas aves se alimentam de frutos e de insetos, depois juntamente aos pequenos roedores e insetos servem de alimento às pequenas corujas que fazem parte da fauna que vive ao abrigo das árvores ornamentais existentes no meio urbano. Os morcegos que habitam nesse meio são de espécies frugívoras que, tanto carregam as sementes para levá-las à expansão das florestas, aqui também executam dois papéis importantes: o de transporte das sementes e o de polinização das flores, permitindo a existência da fertilidade das espécimes vegetais. Não se tem notícia de que existam no ambiente urbano os temíveis morcegos hematófagos, aqueles que se alimentam de sangue e capazes de transmitir determinados tipos de zoonoses, podendo atacar animais domésticos e seres humanos. Estes, felizmente, habitam grutas existentes em rochedos, não havendo notícia da sua presença nas cidades que compõem a Grande Vitória.
Recursos hídricos
Grande preocupação e, por que não dizer: estado de total apreensão quanto à escassez grave de recursos hídricos, especialmente da água potável para uso humano, em face aos recursos existentes e conhecidos atualmente. Para servir à Grande Vitória, dois são os mananciais disponíveis, já em estado de exaustão quantitativa e qualitativa. São dois os principais: o rio Santa Maria da Vitória e o Rio Jucu, havendo algumas micro bacias representadas, na realidade, por afluentes desses principais rios, além do Rio Timbuí, opção ainda não aproveitada para a região norte da Grande Vitória. No mais, há como opção a perfuração de poços artesianos, visando a exploração dos recursos hídricos dos lençóis freáticos, alguns rasos e de água de qualidade duvidosa; outros profundos, mas de alternativas pouco viáveis. Quanto à administração e racionalidade dos recursos hídricos, algumas providências urgem: tratamento e recuperação das nascentes nas cabeceiras, envolvendo reflorestamento e manutenção de vegetação, que permitam as retenção da água nas bacias de captação, abastecedoras dos lençóis freáticos; despoluição dos ecossistemas, consistentes do uso controlado de agrotóxicos, tratamento de efluentes domésticos, comerciais e industriais e reflorestamento ciliar dos mananciais. São providências capazes de permitir a continuidade da produção da água. Agora, providências de racionalidade no uso que permitam aos atuais volumes produzidos alcançarem maior longevidade. Tais providências atingem, principalmente, os agentes consumidores, desde providências simples como fechar chuveiro enquanto se ensaboa, fechar torneira enquanto escova os dentes, manter carrapetas e registros sempre regulados, controlar o uso de descargas em vasos sanitários, jamais lavar carros e irrigar jardins com água tratada e distribuída com qualidade de potabilidade. Neste caso, nos locais onde há possibilidade de extração de água do subsolo, esta deveria ser utilizada para funções menos nobres.
No Brasil, a maior parte da energia elétrica é produzida pela força gerada por água depositada em barragens. Todo a economia de energia elétrica contribui para também poupar água.
Construção de moradias e obras públicas
Praticamente todos os recursos originários da natureza, quando utilizados racionalmente poderão ser suficientes para edificações de habitações, para obras públicas por alguns séculos. Tudo dependendo, inclusive, do aperfeiçoamento de materiais, de uso de espaços, de uso de recursos hídricos, de uso da iluminação natural, poupando o uso de fontes energéticas, especialmente daquelas não renováveis. Exemplo seria a construção de imóveis que se movimentassem acompanhando a emissão de claridade solar, de armazenamento de energia da mesma procedência e mobilidade para acompanhar a direção das correntes de ar, visando à refrigeração natural.
Alguns materiais poderiam ter dureza, maleabilidade e transparência à semelhança do vidro e mais resistência. Isto permitiria maior aproveitamento da claridade. Grandes baterias solares, dotadas de substâncias capazes de armazenar maiores reservas de energia para movimentarem elevadores, centrais de informática, iluminação e calefação.
Coleta de lixo
Neste aspecto, a seletividade da coleta e a reciclagem, separando o descarte de lixo de tal forma que o mesmo se torne em utilidades que poupem árvores das florestas, quando se recicla papel e madeiras; que se poupe petróleo e derivados, quando se poupem plásticos e similares; que se dêem destinos nobres a outros materiais descartados (vidros, metais, tecidos); enfim que se aproveitem recursos energéticos da matéria orgânica e a tornem fonte de vida na recuperação da fertilidade dos solos. Estejamos certos de que todas essas práticas de racionalidade no uso dos recursos que a natureza nos agracia dadivosamente, poderão fazer com que a vida se prolongue neste planeta.
Saneamento
Neste aspecto, pelo fato de serem finitos os recursos hídricos, se tornarão mais problemáticos os cuidados sanitários dependentes da água sejam eles por sua distribuição e pelo tratamento e destinação dos efluentes domésticos, comerciais e industriais. A existência de água de procedência natural terá, com certeza num futuro próximo, que ser substituída por água dessalinizada dos mares e aquela consequente do tratamento de dejetos deverá ser reutilizada, canalizando-a para áreas rurais para ser utilizada na irrigação de cultivares agrícolas, para ser utilizada também nas áreas urbanas como agente de higienização de prédios e de vias públicas. Mas o cuidado para que águas poluídas e contaminadas venham a ser despejadas nos cursos de rios e mares deverá ser redobrado.
Ruas e avenidas dessas aglomerações urbanas, a exemplo de estudos ficcionais já existentes poderiam ser sobrepostas e os prédios, tanto residenciais, quanto comerciais e industriais deveriam contemplar espaços maiores para permitirem melhores condições de circulação do ar e passagem da luz.
Automóveis e veículos de transporte
O ideal que fossem movidos por tração exclusivamente de agentes não poluentes, com energia elétrica, hidrogênio ou simplesmente água. Também os motores das indústrias, carentes de recursos energéticos potentes, deveriam fazer uso da energia limpa, produzida por usinas termonucleares
Conclusão
Na verdade, minhas reflexões sobre os problemas de urbanismo, uso racional dos recursos hídricos, dos recursos oriundos da seletividade dos dejetos, dos cuidados com a preservação da qualidade do ar, pela manutenção de práticas saudáveis de vida, pelo aperfeiçoamento educacional, sejam, pelo menos, um alerta para que aqueles que têm conhecimento técnico: usem esses recursos, visando ao bem-estar e longevidade dos semelhantes, num ambiente ordenado por práticas apropriadamente em prol da vida.
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