terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

AFINAL, É CARNAVAL!

Hoje, 24 de fevereiro de 2009, terça feira gorda de carnaval. Neste dia de carnaval de gala, a claridade solar parece torrar tudo: assar a pele das pessoas que se banham a beira mar, desidratar impiedosamente as folhas das plantas ainda verdes, fazer da terra, até a poucos dias, escorregadia lamacenta, seca e poeirenta agora. E isto já está desta forma, quente e seco, desde o início do mês de janeiro próximo passado. Agora, no carnaval, parece mais quente ainda. Tudo isto me faz lembrar os períodos de carnaval dos anos de 1958 a 1960. Nessa época o saudoso garimpeiro José Cristal, egresso lá das bandas de Itarana, foi quem organizou esses carnavais.
José Cristal trouxe de Minas Gerais, (não soubemos de que município teria vindo), uma forma de festejos carnavalescos que tinha como temática um boi chamado “Janeiro”. Bem que poderia ser “Colorado”, “Pintadinho”, “Dengoso” ou outro nome qualquer próprio de boi. Mas “Janeiro” era seu nome. O bovino era construído dias antes dos festejos de momo, a partir de uma cabeça de boi, que tivesse os chifres preservados, para ser instalada numa das extremidades. Seu corpo era formado por uma carcaça de madeira, depois coberto com tecido estampado e intensamente colorido. Outro animal existia e era u’a mula. Esta não tinha nome específico, mas que importava saber o nome da mula? Já o do boi era imprescindível porque fazia parte dos festejos carnavalescos de uma cidade mineira, aonde o nome “Boi Janeiro” era coisa tradicional.
Com alguns participantes (somente homens. Mulheres ainda não tinham coragem de participar de blocos carnavalescos em Várzea Alegre). De alguns participantes me lembro: Dino Venturini, Anízio de Barros Vilela, Ivo Roccon, Silvio Bieth, Foinha, Egidio, Zé Guedes, Jairão, tal de Malaquias, Gervásio, Lico e Lolo (irmãos Pivetta), Reinaldo Loss, Lourival Roccon, Jaime Cirilo, Anízio Taufner, os irmãos Odorico e Eufrásio Pivetta, José D’Ávila e mais alguns, inclusive eu.
Se mulheres não havia nesse bloco, figuras femininas travestidas havia dentre as fantasias, cujas identidades se protegiam com máscaras adquiridas no comércio de Colatina. E a música originava-se de acordeom, pandeiro e triângulo metálico, estes para fazer a percussão de modo que as músicas tivesses seus ritmos. Mas que músicas? A principal era a de uma letra que José Cristal ensinara e ensaiara com o pessoal, pois era ele o diretor e o principal mentor do grupo. Quais os ritmos? Quem é que disse que existia samba nesse carnaval? Talvez “rancheiras”, cateretês, “canas verdes” ou marchinhas. Certamente todos os ritmos de música caipira. Quem disse country? Alguém, por acaso sabia o que era isso?
Fazia tanto calor, tanto quanto faz neste carnaval, talvez por isto que essas coisas me vem à memória. Devido ao clima excessivamente cálido, somente depois que o sol baixasse no poente, as atividades do bloco tinham início ao som das músicas, o boi e a mulinha fazendo evoluções movidas por foliões especialmente designados por José Cristal – nosso carnavalesco. E nessas tardes e noites acorria de toda a vizinhança: idosos, adultos e crianças para assistirem à novidade. Numa tarde o bloco se pôs sobre a carroceria de um caminhão e seguiu à cidade de Santa Teresa para apresentar-se de forma imprevista. De repetente, uma multidão acorreu à rua, juntando-se ao bloco do “Boi Janeiro”, participando juntos da folia improvisada. Desta excursão eu não participei, pois não podia afastar-me de Várzea Alegre, porque nosso sócio da farmácia passava esse período com seus familiares residentes no Patrimônio de Santo Antônio.
Em 1959, o sucesso desse bloco carnavalesco se repetiu. Em 1960 também, exceto eu que não pude mais participar, pois a farmácia, agora sob minha responsabilidade exclusiva exigia minha presença contínua. E esse foi o último carnaval em que o bloco “Boi Janeiro” se apresentou, pois seu criador, orientador e diretor, José Cristal mudou-se de Várzea Alegre para garimpar gemas preciosas em outras paragens.

Um comentário:

  1. Boa noite!!
    Sempre leio suas notícias,as quais acho de grande valia.Parabéns pela sua iniciativa!Que bom deixar histórias e mais histórias,pessoas como você estão quase em extinção,quero dizer,gente como você.
    Parabéns pelo resgate de tantas histórias esquecidas!!!
    Abraços a todos!
    Maria José ( sobrinha de Delmira)

    ResponderExcluir